sexta-feira, dezembro 07, 2012

Campanha #desarquivandoBR

Mudar a foto da gente pela foto de um desaparecido político pode não ter, de efetivo, nenhum resultado. Assim como tem quem diga que mudar o sobrenome pelo nome de tribos e comunidades indígenas também não adianta. Não muda muito mesmo, mas mostra que tu te importas. Eu não consegui mudar minha foto porque a que escolhi é pequena demais, disse o facebook. Minha escolhida é Ana  Rosa Kucinski  professora de química no Instituto de Química de São Paulo e tinha 32 anos quando foi presa. Três a menos que eu hoje. Desapareceu com o marido Wilson Silva.

O maior alerta, na minha opinião, é o desrespeito com as família que tiveram seus filhos, pais, mães, esposos serem levados presos e desapareceram há mais de 40 anos e até agora não tiveram o direito de dar aos seus mortos uma sepultura digna. Na desculpa de não dar lugar ao revanchismo, como dizem os militares, resta às famílias de mortos e desaparecidos políticos carregarem sua dor e seu sofrimento por mais um tempo. É muita maldade permitir que mães morram sem saber, afinal de contas o que aconteceu com seus filhos. Por que, dizem muitas mães, que "pior que saber que um filho está morto é ter um filho desaparecido e não saber como, onde ou o que lhe aconteceu".
Não abrir os arquivos e colocar um fim nesta tortura é absurdo! É a demonstração clara de que, na essência, algumas coisas não mudaram quando se trata de poder e dinheiro, mesmo depois da "redemocratização".

terça-feira, novembro 20, 2012

Consciência Negra

Não gosto muito da sonoridade das palavras consciência negra, juntas. No meu entender soa um pouco como aquelas velhas histórias de "período negro" como período ruim e difícil, entre tantas outras expressões que usamos sem dar conta algumas vezes de tão entranhado que está no nosso cotidiano. Consciência negra me soa como consciência pesada. Na verdade é o que deveríamos ter mesmo, afinal, ainda que existam leis, ainda que tenhamos evoluído tecnologicamente ainda existe racismo e preconceitos na nossa sociedade. São as piadinhas, são as personagens caricatas e escrachadas, são as expressões carregadas que alguns usam antes de se referirem a alguém.
Pra mim é absurdo que um brasileiro olhe outro brasileiro com desdém porque a cor da sua pele é diferente, porque seu sotaque é cantado, porque sua cabeça é chata ou seu cabelo é crespo. Já contei que quando era criança fiquei cuidando minha mão depois de apertar a mão de um senhor negro. Poderia ali ter virado uma criatura que acha mesmo que a cor da pele faz diferença no caráter de alguém. Mas minha mãe sempre me ensinou que somos todos iguais, ainda que muito diferentes nas "embalagens". Eu aprendi bem a lição. E sei bem que o que faz uma pessoa boa ou má é seu caráter e que este independe da condição social, da cor da pele, do cabelo, dos olhos, do grau de estudo, ou do sexo. Caráter tem a ver com caráter.
É com o nosso amadurecimento e crescimento moral que vamos percebendo certas coisas que estão arraigadas no dia-a-dia e que parece impossível mudar de tão incrustado que está. Mas aos poucos, mudando na gente mesma, vamos percebendo que outros tantos estavam incomodados com a situação e precisavam apenas de um exemplo pra mudar também. E bons exemplos é o que não falta neste mundão.
Nossa consciência pesada deveria ser o despertar para tais mudanças, que aliviariam muito este peso. Respeitar as diferenças é o amadurecimento posto em prática.
Somos bombardeados com padrões de beleza, sucesso e conduta pela mídia, pelas pessoas, pela sociedade que, muitas vezes, nem acredita mesmo em toda a baboseira que reproduz. Não é possível dizer o que é feio ou bonito, porque isto é um padrão subjetivo, não fosse assim todas as mulheres do mundo se matariam para ter o Brad Pitt. E eu sei bem que tem muita gente que daria um dedinho por uma noite com o Javier Bardem ou com o Seu Jorge, outras tantas que mudariam de país pra cheirar o cangote do Tom Cruise e outras que sentem um arrepio só de ouvir a voz do Diogo Nogueira (Eu, por exemplo). Estou falando em homens, mas o mesmo vale para as mulheres. Tem quem acredite que Gisele Bündchen é a mulher mais bonita do mundo, noutro tempo era a Naome Campbell e quando chegaram ao Brasil muitos portugueses caíram de amores pelas índias.
Eu adoro um cabelo black power, adorava ver meu tio em frente ao espelho ajeitando os cabelos com o garfo. Que depois, claro eu tentava passar no meu. Muitas vezes eu ouvi as pessoas me dizerem que eu gosto do cabelo crespo porque o meu não é assim. Mas não é verdade. Gosto porque acho lindo! E na maioria das vezes acho feio o cabelo com chapinha ou escova progressiva. Gosto não é mesmo...
O dia da consciência negra é pra ser o dia em que tomamos consciência da beleza e da importância do povo negro na construção do nosso país. Assim como o dia do índio (19 de abril) deveria servir para o mesmo. Mais do que datas no calendário devem ser dias de luta, devem ser momentos de ver o que se fez em prol da verdadeira igualdade dentro da nossa sociedade. É o dia de pensarmos por nós mesmos, de agirmos diferente.

terça-feira, outubro 30, 2012

Vida de eleitora

Eu gosto de política. É, ao contrário do que as pessoas, a maioria diz, eu gosto sim. E, apenas nisso, concordo com o prefeito eleito Eduardo Leite, política não tem a ver com sujeira, nem corrupção, nem safadeza, nem um monte de atribuições que se dá a ela, justamente por que a forma e as pessoas erradas estão fazendo parte da nossa política há tantos e tantos anos. Tenho uma memória em relação a política que me surpreende muitíssimo algumas vezes.
A primeira eleição de que tenho lembrança é a de 1989. Nesta época eu tinha 12 anos, devia estar na sexta série. Desde aquela época não compartilho do mesmo candidato que meu pai. Democracia é isto! Embora algumas vezes a gente até tenha votado no mesmo candidato, isto não aconteceu na maioria das vezes.
Não sei se minha lembrança em relação a esta eleição é tão boa pela repercussão ou se foi o fato de, dentro do colégio inclusive, ter tido tantos debates ou se foi realmente o fato histórico de ser a primeira eleição presidencial depois de tantos anos de ditadura militar. Eu realmente não sabia quem eram aqueles candidatos todos, e não tinha internet pra gente pesquisar e saber todos os detalhes daquele povo lá de longe. A gente contava em saber das coisas através da televisão, da boa e velha mídia brasileira. Triste é saber que (praticamente) a única fonte de informação era uma velha conhecida da ditadura, aliada dos generais e que sempre colocou seus interesses capitalistas antes de qualquer coisa. Mas eu era uma criança.
É possível que alguns amigos se decepcionem com a trajetória! Desde já destaco que mudei minhas opiniões em relação a muita coisa daquele tempo e... sempre posso mudar mais.
Eram tantos candidatos! Foram 22 concorrentes, sendo que alguns eram bem conhecidos, outros nunca havia ouvido falar e outros ainda ficaram marcados para sempre na lembrança, caso do Enéas do PRONA. Meu candidato, ainda que não pudesse votar, nesta foi o Guilherme Afif Domingos. Não me perguntem porque! hahahaha Não tenho a mínima ideia! O Afif era do PL, não sei se continua...
Desta eleição lembro de vários debates, lembro dos programas de televisão. E como não sabia nada de nada, e, principalmente, por não conhecer aquelas pessoas que queriam governar o país imaginava da minha parte que eles mal se conheciam e que mal conheciam meu país e a mim, já que estavam tão longe. Foi então que me surpreendi com o Lula  dizendo ao Caiado que o cavalo branco dele pastava em campos alheios. Lembro bem de mim pensando: "Como é que ele sabe que o outro tem cavalo e quem alimenta são outras pessoas?" Ainda não entendia metáforas!
Também não entendia como as mulheres podiam se enlouquecer com o Collor, sendo que, na minha opinião o Caiado era mais bonito.
Lembro vivamente dos programas de humor que alfinetavam os candidatos e já denunciavam desde aquela época o caráter do Maluf. Também me inquietava a angústia dos candidatos em relação aos boatos da candidatura do Silvio Santos. (Aqui preciso fazer um parêntese, porque eu não conhecia o Silvio Santos! É, na vila aonde eu morava não pegava nenhum outro canal que não fosse a Globo, repetida pela RBS. Até tinha a Band, que pegava mal pra caramba. Manchete e outros só se ouvia falar, que nem o caviar!) E não me saia da cabeça a musiquinha que perguntava aonde estava o Naji Nahas e a ligação que se fazia com o Maluf. Acho que eram muitas coisas pra uma guria de 12 anos, sem muitas fontes de pesquisa. Confesso que desde aquela época tinha uma simpatia com os partidos de esquerda! hahaha Esqueçam o Afif! Parafraseando aquele outro.
É, gente, tenho salvação, gostava do Gabeira e do Bisol, vice do Lula. Tinha minhas desconfianças com o Maluf (pra completar ele solta a famosa frase "estupra mais não mata") e achava que o Ulysses estava passado demais pr'aquilo tudo! Sendo que tinha o pé atrás com o PMDB desde essa época.
Tenho muito respeito pelo Brizola, ainda que naquele tempo não soubesse de sua história.

Em 1994, aconteceu a segunda eleição presidencial de que tenho ideia e foi a primeira em que votei. Amigos queridos, perdoem-me eu não sabia o que fazia. Sim, por pura antipatia com Lula votei no FHC. Continuava a saber nada de política. Havia passado ao largo do movimento caras pintadas, porque realmente estava por fora de tudo que se tratasse de política. Mas algo dentro de mim já se manifestava contra este neoliberal, ainda que eu tenha votado nele. Tínhamos que escrever uma redação e o tema era as eleições. Aliás, foi o texto que me fez optar pelo jornalismo como carreira. Pena que não o tenho mais. Mas usei de muita ironia para falar das propostas de governo do "super FHC" e ganhei o maior elogio de toda minha vida. A professora de literatura e português disse que meu texto usava um recurso muito utilizado pelo Machado de Assis, a ironia.
Fiquei muito grata, porque além do elogio ela perguntou-me se já tinha escolhido a faculdade que ia fazer, eu disse que não, na verdade não tinha nem ideia. Embora nutrição, com toda a sua química, tenha passado pela minha mente. Então ela sugeriu o jornalismo. Devo a minha escolha a professora Rosani.

Então eu me redimi totalmente nas eleições 1998. Esta sim eu já tinha alguma ideia do que era a política. E quantas raposas velhas sempre vinham nesta época mascarando suas intenções. Então teve um voto de protesto no Dr. Enéas. Porque eu sou extremista mesmo e ainda que minhas escolhas pareçam totalmente loucas, no fundo tem coerência comigo mesma. Sim, votei no FHC contra o Lula por antipatia a este. Mas depois mudei de ideia. Já tinha me dado conta que FHC era ex-ministro de Itamar, que era vice do Collor, acusado de corrupção junto com um bando de gente. E pra mim, fica difícil livrar a cara de um vice assim. E desde este tempo as coligações me chamam muito atenção. Algumas vezes até mais que a ficha dos candidatos ou o curriculum. Sendo assim... Votei pela primeira vez no Lula, mais pelo Brizola do que pelo Lula. E contrariada de saber que um já havia falado muito mal do outro em eleições passadas.

Nas eleições presidenciais de 2002 já havia pesquisando um pouco sobre a ditadura militar e a censura. Já me considera bem de esquerda, se é que dá pra me chamar de esquerdista. hahaha  Votei no Lula com convicção desta vez. E olha gente, o vice do Lula era PL. (Eu disse que tinha coerência! hahaha) Em 2006 votei na Heloísa Helena no primeiro turno e no Lula, óbvio no segundo.
Nas últimas eleições... 2010 eu votei na Marina Silva e no segundo eu anulei meu voto porque não consigo ter o mínimo de simpatia, ou seria respeito?, pelo Michel Temer. Reconheço que o governo do partido dos trabalhadores tem méritos, mas me decepcionei com estas coisas de "vale tudo" para conseguir chegar a meta. Sim, entendo que existem e são necessárias muitas estratégias para se chegar a um objetivo, mas coerência e ética pra mim é fundamental.
É provável que para muitos minhas ideias sejam completamente absurdas, obtusas e sem a mínima coerência. Eu admito que ainda sei pouco de política, mas sei muito das necessidades do povo, sou povo. Não acho que o governo, seja em que instância for, é um laboratório para experiências. Só que são necessárias alguns testes para conhecermos o trabalho. Nisto acabamos votando em gente que nos decepciona. E como todo mundo, não gosto de me decepcionar e se isto acontece na política o cara não ganha mais meu voto. Não acredito mais nos bichos papões comunistas que comiam criancinhas, pelo contrário compactuo de muitas ideias e ideais propagados por eles. Mas reservo muito cuidado para aqueles que desde antes da ditadura militar já estavam no poder, e nunca mais saíram, ampliando para sua família, de maneira quase que hereditária, a vida política.
Várias decepções tive nesta minha vida eleitoral. Porque vi gente que defendia melhores salários para os trabalhadores votaram contra um aumento mais substancial para estes e a favor do reajuste do seu salário exorbitante como deputado federal ou estadual. Defendendo o seu aumento e dizendo que o aumento do mínimo vai "quebrar" o país. Para mim isto é motivo de não mais receber votos sim. E eu sei bem que um trabalhador custa "caro" para a empresa que o emprega. Mas políticos custam muito mais e para todos, inclusive pr'aquele trabalhador que recebe o mínimo, mas paga imposto sobre tudo.
Não confio em quem troca de partido vira e mexe. E desconfio mais ainda em quem fala em mudança fazendo tudo igual aqueles a quem condena.
A gente muda a cada dia. Eu mesma mudei muito. E ainda tenho muito que mudar! Escrevi tudo isto porque, nestas eleições municipais que se encerraram vi gente apontando dedo na cara de amigos e acusando pessoas como se não tivessem um passado. Como se não vivêssemos numa democracia aonde o voto é secreto e livre! E mais, como se depois de votar todas as responsabilidades fossem apenas daqueles eleitos. Somos todos seres políticos! Todos nós somos responsáveis pela melhoria e a mudança da nossa cidade.


Eleições 1989
Eleições 1994
Eleições 1998
Eleições 2002
Eleições 2006
Eleições 2010


sexta-feira, outubro 26, 2012

Lições básicas do que é ter preconceito

Algumas pessoas, ainda que diga coisas carregadas de preconceito, diz que não o tem. Pode ser que tu realmente estejas no caminho de extirpar o preconceito do teu modo de ser, no entanto, utilizar estas expressões preconceituosas em momentos de fúria e raiva demonstram que há raízes internas ainda vivas. É simples de saber se somos ou não gente com algum tipo de preconceito.
Vejamos um exemplo:
Tu vens no teu carro e um outro carro corta a tua frente. Qual teu primeiro pensamento em relação ao outro motorista se ele for: branco, homem-hétero, magro? Geralmente é: corno, filho da puta, viado, depois vem: cretino, barbeiro, etc, etc. Não sei ao certo, mas acho que pra um homem hétero ser corno é a pior coisa, pois é o primeiro xingamento que lhe atribuem.
Mudemos o motorista para uma mulher. Qual é a primeira expressão que vem a cabeça? "Tinha que ser mulher", "ô dona Maria volta pro tanque ou pro fogão", mulher é bucha e depois ainda querem nos chamar de machista?
Troquemos mais uma vez o condutor que corta tua frente, agora é um homem ou uma mulher gordo. O xingamento começa por gordo cretino?
Agora quem conduz o veículo que corta tua frente é negro, tua reação ao xingar é "criolo barbeiro", ou "negro imbecil"?
Faça o exercício mudando o condutor para a minoria/etnia/religião para com a qual tu imaginas não ter ou ter preconceito. É simples. Porque não é a cor da pessoa que a fará um bom ou um mau motorista. Se o xingamento começa pela etnia abra seu olho, é preconceito.
Relacionar pessoas más com sua religião, cor, gênero ou orientação sexual é demonstração de preconceito sim. Por que ser mau caráter não tem a ver com a cor da pele ou do olho, tem a ver só com o caráter mesmo. E mau caráter tem em todos os seguimentos.
Não é a religião, por exemplo, que é ruim e faz as pessoas fazerem coisas ruins, são pessoas não tão boas que estão naquela religião interpretando ou induzindo ao mal. E ao contrário do que alguns de nós, já descrentes pensa, não são maioria não.
Há dias penso neste tema, porque me choca muito saber que ainda tem gente que ofende e agride os outros e depois se desculpa dizendo "não sou preconceituoso tenho amigos negros"! Pra coisa ficar mais bizarra só falta completar dizendo "são tão boa gente que nem parecem negros"! Custa-me e dói muito saber que num país miscigenado como o nosso tenha quem crê ser mais "puro" que os outros. Como já disse, desvio de caráter existe bastante, mas não é porque dentro de uma etnia tem um mau caráter que todos sejam. Não é porque tem alguém que age fora da lei na tua família que tu também és um criminoso.
Reveja teus conceitos, a mudança começa por nós, em nós mesmos!

quarta-feira, outubro 24, 2012

"Todo dia era dia de Índio" #genocidioGuaraniKaiowá



Um povo com a extinção decretada. Com certeza isto vem ocorrendo por inúmeros motivos. Desde que o europeu, o homem branco, chegou aqui a questão étnica foi mudando. Mudando de figura literalmente, misturando as cores, os traços e a cultura. Sempre fico muito inquieta quando alguém me diz que é meio italiano, meio francês. Ou como diziam numa cidadezinha que morei, inclusive com percentuais de cada uma das suas origens europeias. Além dos que tinham a pele negra ou o cabelo grosso do índio, apenas eu me dizia descendente de afros e indígenas. E sempre era duvidada! Nunca aceitavam que nas minhas veias corressem sangue negro ou índio, quando minha pele era branca, meus olhos claros, meu cabelo "bom" e alourado. 
A minha paciência quase sempre era testada nestes casos. E então eu dizia, desde que Cabral "estacionou" suas caravelas aqui no nosso imenso Brasil, na época terra de Vera Cruz, não existe mais branco, índio, ou negro, existem brasileiros, frutos de muita mistura, que impede que uma origem específica possa ser definida. Talvez através de pesquisas genéticas, como já vimos testes em programas de TV, possa determinar quanto de cada origem existe dentro de nós, demonstrando cientificamente que a mistura é grande, visto que a pessoa pode ter fisicamente todas as características europeias e o DNA 50% indígena. Ou como o caso do cantor seu Jorge, que todos conhecemos, que tem DNA europeu. Minha própria família é uma demonstração da misturança total que somos no país. 
Mas a extinção de que falei lá no início não tem a ver com o surgimento de uma etnia brasileira, onde todas as outras se fundiram e foi isso. A extinção do povo que falo é grave e cruel, passa pela violência e o assassinato de homens, mulheres e crianças. É genocídio, extermínio de gente por causa de terra. E ao contrário do que se pensa não foram eles que invadiram terras alheias, fazendas produtivas ou áreas particulares. Eles foram retirados das suas casas, quem resistiu morreu. Atualmente são 170 índios Guarani Kaiowá que resistem no local onde fora suas terras e que hoje são "protegidas" por pistoleiros armados jagunços, digo funcionários de empresários do agronegócio. Quem está assistindo a novela Gabriela deve perceber a semelhança que existe entre os coronéis da Ilhéus da década de 20 e certos latifundiários atuais. Quem leu o livro consegue enxergar a história daquela época de "desbravamento" do país com o momento em que as aldeias indígenas estão sendo massacradas. 
É difícil defender gente. Muito mais fácil é defender animais, pois eles podem ser condicionados aos nossos hábitos, aos nossos interesses. Gente não. Gente tem vontade própria, livre arbítrio, razão, sensibilidade, forma de pensar diferente da gente. É por isso que tem tanta gente por aí dizendo que prefere os animais às pessoas. Claro que sim, o animal me aceita como eu sou e se há nele algo que eu não aceite posso treiná-lo para que fique justinho como eu quero. Com as pessoas não dá pra fazer isto. Elas são imprevisíveis! Parecem boas, olha os índios, trocaram suas terras lá em 1500 por espelhinhos e quinquilharias e agora reclamam que estão sem ter aonde viver. 
Então eu olho o mapa do Brasil e vejo tanta terra, tanto espaço pra tanta gente... Será mesmo que só dá pra produzir soja e criar gado naquele lugar aonde os índios moram? É justo tirar aqueles que vivem em harmonia com a natureza de lá? Estes 170 homens, mulheres e crianças da tribo Guarani Kaiowá estão ameaçando suicídio coletivo se a decisão de os retirar de lá for mantida. Se a decisão for mantida não será suicídio, será assassinato!

terça-feira, outubro 23, 2012

A mudança que queremos passa pelo respeito aos outros

O problema não é ser contra ou a favor. O problema é usar a foto de alguém que existe, tem opinião própria e personalidade suficiente pra dizer e fazer as coisas com coerência atribuindo a esta pessoa uma fala que nós queremos. Uma fala preconceituosa, que ouvimos, há décadas por aí ditas por quem não gosta ou é anti-PT. Usar a imagem do ministro Joaquim Barbosa com a frase que se gostaria (caso da foto ao lado) que ele falasse é colocar em sua boca palavras que ele, provavelmente, pelo que demonstra seu caráter, jamais diria. Principalmente porque seria incoerente e totalmente contrária a sua postura. O ministro como cidadão já declarou em entrevista ter votado no ex-presidente Lula (quem o nomeou ministro do STF) e na presidente Dilma.

O trabalho de Barbosa é coerente com sua postura e está sendo feito com isenção. O que muito me orgulha, mas deve parecer coisa de outro mundo para aqueles acostumados a velha prática do "tudo acaba em pizza".

Como já disse nas redes sociais não vou votar em nenhum dos dois candidatos aqui em Pelotas porque tanto uma coligação quanto a outra são sacanas e baseadas em interesses, na minha modesta opinião e votar em qualquer uma seria compactuar, concordar e ser incoerente com a minha postura, visto que não concordo e critico ferrenhamente este tipo de conchavo político.

No caso de realmente admirar o trabalho do primeiro ministro negro do STF, Joaquim Barbosa, vamos deixá-lo trabalhar e parar de associar sua imagem a frases que NÓS queríamos que ele dissesse. Ele tem caráter e personalidade suficiente pra assumir  o que quer e tem a dizer. Ninguém tem o direito de desrespeitar isso.

Admiramos a postura de Barbosa, pois bem o tomemos como exemplo para a nossa conduta diária. Deixemos o famoso "jeitinho" de lado e vamos assumir o jeitão franco e direto do ministro. Sejamos como ele francos e coerentes. Argumentemos bem o porquê de votar neste ou naquele candidato, mas não usemos a imagem alheia para validar nosso argumento. Falemos por nós e só por nós mesmos.

Imagem do Facebook

sexta-feira, setembro 14, 2012

Pior do que tá não fica?

"Pior do que tá num fica!" Com este slogan o comediante Tiririca elegeu-se como mais votado deputado federal nas eleições passadas. Ele dizia não saber o que um deputado fazia e alegava firmemente que pior do que estavam as coisas não ficariam. Com o mesmo slogan e profissão o palhaço Claudio, do calçadão de Pelotas, candidatou-se a vereador.Nada contra um ou outro. Apenas discordo dos dois pois, conhecendo a famosa Lei de  Murphy, o provável é que a coisa fique pior sim.
O meu medo é que aconteça isso porque vários candidatos, que já haviam perdido seus mandatos, seja por impedimento de se candidatar, seja por que os eleitores não caíram nas suas promessas vazias e falsas estão novamente poluindo a cidade com seus cavaletes, sujando as ruas com seus santinhos, atordoando os ouvidos com seus carros de som (alguns em locais proibidos, como próximo a hospitais). E eles são tão sem memória que se apresentam como O NOVO, quando ficaram mais de 30 anos mamando na teta flácida da Câmara de Vereadores. Outros envolvidos em escândalos de corrupção, que colocam "suas" empresas em nome de familiares, que desde a militância estudantil se envolvem com maracutaias querem convencer os eleitores de que são honestos, de que tem ótimas intenções e projetos fenomenais para o município. Pedem mais, pedem que confiemos neles. Que novidade pode vir de um cidadão que vive de ser vereador? Que para garantir votos encaminha aposentadorias (direitos garantidos) e a confecção de documentos?
Tem aqueles que fizeram do seu mandato uma forma de garantir o pão de cada dia, mostrando sua casa e toda a "fartura" em que vivia. E quando chegou na Câmara pensou que estava num picadeiro.
Tem outros que são lotados em um determinado departamento de ensino, mas no qual nunca dá as caras. Para completar segue a ideia de que o voto é hereditário, não bastasse o vivente se candidatar leva também os filhos, mulher e sobrinhos a fazerem o mesmo. Como se a candidatura fosse uma fila de supermercado aonde se chega com o carrinho de compras e como estão muito extensas as filas cada um fica numa.
Um certo candidato fala que "se convencionou a ligar política com coisa suja", mas que as coisas podem ser diferentes. Realmente poderiam ser muito diferentes, se os partidos não negociassem cargos para apoiar o candidato de outro. Se para assegurar um direito ou uma mudança na lei que beneficiasse a todos meia dúzia não precisasse ter sua mão molhada com algum benefício escuso.
Realmente a cada nova eleição eu fico mais decepcionada com os candidatos e ainda mais com os partidos.

quinta-feira, setembro 13, 2012

Cinema Resistência - Verdades Verdaderas


Neste sábado, 15 de setembro, acontece mais uma edição do Cinema da Resistência. O filme em exibição é Verdades Verdaderas e debate com Estela Carlotto (presidenta da Associação Civil Avós da Praça de Maio, da Argentina) e Maurice Politi (diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política). Este programa contou com o apoio do Consulado Geral da Argentina em São Paulo.


Verdades Verdaderas, la vida de Estela (Nicolas Gil Lavedra, 2011, ARG, 99 min)
Ficha Técnica
Direção: Nicolás Gil Lavedra
Roteiro: Nicolás Gil Lavedra, Jorge Maestro, Maria Laura Gargarella
Produção: Mauro Debans
Elenco Susú Pecoraro, Alejandro Awada, Laura Novoa, Fernan Miras, Inês Effron, Carlos Portaluppi e Rita Cortese

Sinopse:
Em 1976, sob o pretexto da reorganização nacional, do combate à subversão e à perseguição ao perigo comunista, um golpe de estado derrubou o governo argentino, instaurando o "Processo de Reorganização Nacional", nome pelo qual ficou conhecida a Ditadura Militar Argentina. O país passou a vivenciar o Terrorismo de Estado e contabilizou o assassinato de aproximadamente 30.000 cidadãos de diferentes idades e classes sociais, além de sequestros de crianças.
O filme conta a história de Estela Barnes de Carlotto, ativista política de direitos humanos na Argentina e presidente da Associação Civil Avós da Praça de Maio (Abuelas de Plaza de Mayo), uma organização não governamental que tem como objetivo localizar e promover o retorno às suas legítimas famílias as pessoas sequestradas pela repressão política na Argentina durante a ditadura, bem como localizar e exigir punição aos responsáveis.

A história contada busca retratar os mais diversos aspectos da vida de Estela e o início de sua trajetória no ativismo político, logo após o sequestro de sua filha, Laura Estela Carlotto, em 1977.

Quando: Sábado 15 setembro, às 14h.
Onde: Memorial da Resistência de São Paulo - Largo General Osório, 66 - Luz (Auditório Vitae - 5° andar)
Fone: Memorial da Resistência de São Paulo

terça-feira, setembro 11, 2012

Candidatos a vereador

A Santinha
O que eu pergunto não é: "mas qualquer um pode se candidatar?" Esta pergunta nem deveria chegar a ser feita, afinal, vivemos numa democracia. Uma democracia em que somos obrigados a votar, mas, ainda assim democracia. Uma democracia meio torta, aliás, bem torta. Mas... O questionamento que pipoca  na minha mente é também uma preocupação. Muitos eleitores não tem ideia de quais são as atribuições de um vereador. E este desconhecimento também acontece com uma grande maioria dos candidatos.
Este despreparo, claro, é um dos pontos que me preocupa. Fico pensando se estas pessoas realmente tem consciência da situação em que se meteram. Será que estão cientes da exposição a que estão se colocando?
Palhaço Bebê candidato a vereador
Alguns candidatos são os famosos "fora da casinha". Figuras folclóricas da cidade, algumas que sabe-se que tem problemas psicológicos como aconteceu em anos anteriores.
Outras demonstram claramente o interesse financeiro, inclusive em sua fala, para ajeitar a sua vida, usando até bordões de outros candidatos.
O processo político eleitoral deveria ser um momento sério, no entanto, com tantos casos de corrupção, desvios de verbas, abusos de poder, CPIs que não punem ninguém a população não tem a mínima esperança de que existem políticos sérios. O resultado já conhecemos são votos de protesto nas figuras mais estapafúrdias do país, destaque-se: Enéas (Prona), Tiririca, Cururú entre outros.


Bebezão do carnaval
E é nesta onda que alguns candidatos tentam entrar, alguns palhaços de profissão usam da sua maquiagem e roupas coloridas para pedir o voto, outros usam a sua figura quase mítica, caso da candidata Santinha e do Melancia, conhecido guardador de carros na rua Anchieta. Aliás, este ano tem melancia, mugango, tem uma variedade de palhaços, tem vendedores ambulantes e até a empreguete, que declara estar cansada de limpar e passar, agora quer mandar.
Sempre me pergunto se realmente eles acreditam que irão ganhar e qual o grau de politização destas pessoas. Porque dizer que são ignorantes é muito fácil, atacar e jogar pedras é simples. Mas quantos de nós colocaríamos nossa cara a tapa assim, com ou sem consciência? Sem medo do ridículo?

Empreguete

Mas o que realmente me incomoda é: até que ponto o partido político está usando e abusando destas pessoas? Principalmente sabendo de todas as jogadas, as acomodações, as trocas que acontecem para que as coligações e parcerias entre siglas aconteçam. Os candidatos considerados simplórios e ignorantes podem não ter ideia do quão usados estão sendo. Eles podem, assim como não sabem o que fariam como vereadores, desconhecer a natureza do convite para a sua candidatura. Por outro lado, não creio que haja ingenuidade por parte dos partidos políticos. Estes não dão ponto sem nó.

O melancia
Não pensem que creio na ingenuidade pura e simples destes candidatos tidos como sem chance ou sem conhecimento do mundo político. Eles podem sim ser muito politizados, podem ter uma vivência política muito mais ampla e madura do que a minha, mas ainda me preocupo. Penso que mais triste é saber que talvez, só talvez estas pessoas realmente tenham boas intenções, sabem e tem projetos para agir, mas não tem a mínima chance de ganhar.
O horário eleitoral gratuito é uma palhaçada, não por conta destes candidatos mais, digamos, exóticos. E sim por conta daqueles que são sabidamente trambiqueiros, fichas sujas, mais sujas do que pau de galinheiro, mas que seguem descaradamente se candidatando, prometendo, mentindo e, tristemente, se elegendo. Elegendo-se porque tem mais condições de realizar campanhas, tem mais tino de por onde conquistar o eleitor.
Resta pra nós, cidadãos ser conscientes. Na minha opinião se a tua avaliação é de que não tem nenhum candidato que preste vota em branco ou anula, mas não vote no menos ruim. Chega de votar no menos ruim por falta de coisa melhor.

Fotos: retiradas do site Eleições 2012
Nota: Não estou fazendo crítica, tampouco campanha para os candidatos acima retratados, apenas utilizei os que mais me chamaram atenção nestas eleições. Tem muitos mais, mas o espaço é curto. Votem consciente!















quarta-feira, agosto 15, 2012

Cinema da Resistência

"O Memorial da Resistência tem procurado, por meio da sua programação, utilizar o potencial das diferentes manifestações artísticas para abordar os principais temas trabalhados pela Instituição- repressão e resistência políticas e direitos humanos.
Com o objetivo de utilizar o cinema de forma mais sistemática, o Memorial da Resistência iniciará, no segundo semestre de 2012, o projeto "Cinema da Resistência", com a exibição de 4 filmes (1 sábado por mês, de agosto a novembro, às 14 horas), sempre seguidos de debate com o diretor e/ou outro colaborador para realização do filme.
Serão conferidos certificados de hora complementar para estudantes.
Acesse nosso site para se atualizar sobre nossa programação e os links abaixo para conhecer mais sobre os próximos filmes.
Programação 
25 de agosto de 2012, às 14h
Perdão, Mister Fiel (Jorge Oliveira, 2009, BRA, 95min.)

15 de setembro de 2012, às 14h
Verdades Verdaderas, la vida de Estela (Nicolás Gil Lavedra, 2011, ARG, 99min.)

13 de outubro de 2012, às 14h
Batismo de Sangue (Helvécio Ratton, 2006, BRA, 94 min.)

10 de novembro de 2012, às 14h
Cabra Cega (Toni Ventura, 2005, BRA, 105min.)"

Fonte: Memorial da Resistência



quinta-feira, agosto 09, 2012

Seis anos de Lei Maria da Penha e a novela

Casualmente, ou não, justamente no dia em que se comemorava os seis anos da sanção da Lei Maria da Penha vai ao ar a cena da "lavagem" da honra do coronel Gesuíno (interpretado por José Wilker) na novela Gabriela, adaptação do romance de Jorge Amado. Não pude deixar de observar o fato, visto que li o romance e sabia que havia o duplo assassinato dos amantes, bem como aconteceu na primeira versão do folhetim e como ocorre algumas vezes nas nossas cidades nos dias de hoje. A época em que se passa o romance está bem determinada, os preconceitos e a hipocrisia muito bem pontuados pela personagem feminista Malvina, que questiona e afronta a ideia de que homens podem tudo e mulheres não podem nada.
A lei Maria da Penha é um avanço, no entanto, muito ainda há o que mudar. Muito temos ainda para lutar, pois há muitos casos que ficam impunes, sem que o culpado cumpra pena e pague sua dívida com a sociedade. Este ano aqui em Pelotas aconteceu um dos casos que mais me chocou. No dia do atentado eu estava com meu pai e meus familiares no Hospital São Francisco onde ele estava realizando uma cirurgia. Por volta de 15 horas, no momento da visita aos pacientes da UTI ficamos sabendo que o ex-marido havia ateado fogo no corpo de sua ex-mulher na esquina do hospital onde ela trabalhava como enfermeira.
Com uma arma na mão ele ameaçava qualquer pessoa que tentasse apagar o fogo. Mas o medo foi vencido e um mecânico a ajudou. O corpo da moça ficou praticamente carbonizado. Ela não resistiu mais que algumas horas na unidade intensiva.  Eu presenciei a noite o desespero e a tristeza dos familiares que iam visitar a mulher no hospital. Vi também a revolta!
Alguns dias atrás podemos assistir, estarrecidos (aqueles que ainda se chocam e se indignam) em todos os telejornais a tentativa de assassinato em pleno pronto socorro da cidade. A agressão, que havia começado na casa da ex-mulher, teve cenas de filme de terror dignas de um Hitchcock, gravadas pelas câmeras de segurança do hospital. E que não foram poupadas ou atenuadas pelas redes de TV. Uma das coisas que me deixou mais besta foi a passividade das pessoas que presenciavam a violência.
A denúncia é importante para a obtenção da medida protetiva. Por outro lado, apenas a medida protetiva não garante a vida e o bem estar das denunciantes e seus filhos, muitas vezes tão vítimas quanto elas.
As cenas de Gabriela muito me revoltaram, justamente por saber que coisas como esta acontecem no nosso cotidiano. Absolvição por legítima defesa da honra foi um argumento muito aceito nos tribunais do passado. E há quem considere um argumento válido ainda hoje, pois do contrário os machões não tratariam mulheres como propriedades determinando vida e morte conforme lhes agrada. Com certeza há pelo Brasil e pelo mundo gente que pensa como o Coronel Ramiro Bastos que quer mais é que os juízes limpem suas bundas com os processos em que os maridos mataram suas mulheres acusando-as de adultério. Por que é muita macheza que tem estes coronéis com as armas na mão usando suas mulheres como quem usa uma privada para se aliviar.
Embora as mudanças estejam apenas começando e muito se tenha a caminhar para  conquistar um mundo sem machismo temos que comemorar as batalhas vencidas até aqui, seguindo sempre firmes na luta!

sexta-feira, agosto 03, 2012

"Mulher tem outras prioridades que não são arrumar homem"

A fala da Luciana Nepomuceno no programa "Encontro com Fátima Bernardes", hoje pela manhã, foi muito boa e foi um contra ponto crucial no meio de um programa tão chavão sobre "periguetes". Aliás, chavão e moralista! Não conheço a Luciana fora das redes sociais e do blog Biscate Social Club. Adoro sua forma de escrever calma e clara, assim como foi no programa. (Aqui um parentese literal, que programinha bem ruim hein!? Não tinha assistido antes, mas desde o primeiro tenho percebido várias críticas sobre ele. E não vou nem falar daquele "humorista"!)
Não pude assistir desde o início, mas dei a sorte de pegar justamente no momento da fala da Lu (posso te chamar assim Luciana?).

Das coisas que ela falou e mais gostei (e eu gostei de tudo, mas este trecho que destaco é o que penso desde sempre na minha vida) é que "mulher tem outras prioridades que vão além de arrumar homem!" Ela complementou muito bem dizendo que "ter um homem é ótimo", mas que nossos anseios e desejos vão muito além. O que pra mim parece e sempre pareceu óbvio. Até porque... se nossa única prioridade fosse arrumar homem ficaríamos paradas no tempo naquela vidinha de casar, ter filhos, cuidar da casa submissas, como era no século passado, não é mesmo?

Outro detalhe que sempre me deixa desconfortável é a coisa de que a periguete é uma fera desembestada que ataca os homens indefesos (porque só quer homem, não é um específico e bem pode ser todos), mas quer principalmente dinheiro. E aí me vem a cabeça, se a periguete quer homem e tu te sentes tão ameaçada não seria porque ambas tem apenas um (e o mesmo) objetivo na vida????? Porque num relacionamento não existe submissão (relacionamento de verdade com amor e respeito). Ninguém é dono de ninguém, não tem dono e propriedade, ambas as partes são livres e autônomas. Do contrário são gêmeos siameses! Portanto ela não tirou teu homem.
Também existe problemas como a auto estima e o ciúme, mas nestes não vou dar pitaco.É uma questão, como bem disse a Luciana de estar confortável consigo mesma.

Adorei quando a Lu demonstrou com inteligência que sedução vai muito além de mostrar o corpo, a lingerie, jogar o cabelo ou fazer beicinho. A comparação da forma de se expressar de uma neuro cirurgiã e ser admirada por sua inteligência com a mulher bonita com uma roupa marcando, sendo uma taxada de periguete e a outra não foi, como diz meu pai de "cabo de esquadra!" E arrasou o argumento da Isís Valverde. Na própria novela em que atua Isís tem o exemplo da Nina (a famigerada!) que seduziu Tufão com sua culinária e sua cultura. E olha que ela só veste aquele uniforme chinfrim! E olha que homens tem muitas fantasias com mulheres de uniforme! Mas é o contra ponto e o argumento usado pela Luciana sendo exemplificado na ficção Nina sem maquiagem ou jóias, de cabelos curtos num uniforme feio e calçando molecas, com sua forme de cozinhar e levar cultura a mansão brega de Tufão. Do outro lado a Carminha sempre bem vestida em tons pastéis, cabelos longos e louros, com jóias, maquiagens, "encarnando o papel da senhora do lar respeitável" (isto quando os outros estão olhando, porque do contrário é quase uma periguete).

A participação da Luciana salvou o programa. Já algumas falas da Isís Valverde a meu ver deixaram a desejar. Não vi se ela defendeu a personagem Suelem como uma mulher bem resolvida, livre e que gosta muito de sexo. Mas tem boas defesas da personagem em alguns textos na web. O importante é deixar claro que periguete ou biscate são pessoas que estão bem resolvidas quanto a suas vidas!


Não entendo...

Há dias não consigo escrever por aqui! No entanto alguns fatos me obrigaram a fazer um esforço.
A primeira delas esta relacionada as olimpíadas, da qual praticamente não se houve falar na mídia convencional. A mais grave é a absurda reação dos americanos com a atleta Gaby Douglas, ouro na sua modalidade. Toda vez que ocorre alguma situação em que o preconceito se torna evidente os hipócritas correm para desculpar ou dizer "que isto? Este negócio do politicamente correto tá ficando é politicamente chato!". É triste, porque ainda há quem ache normal distinguir as pessoas pela cor da sua pele ou determinar que uma pessoa não é bonita porque seu cabelo é crespo.
Qual pode ser a explicação/motivo de o cabelo de Gaby estar sendo mais comentado do que a medalha de ouro que ela conquistou, que não preconceito? Pura futilidade????
As olimpíadas 2012 já começaram num contra pé, mostrando que o preconceito existe e está aí para quem quiser ver. A expulsão de uma atleta grega por comentários racistas comprovam isto. E no Brasil a coisa não é muito diferente não. O preconceito existe. Ainda que se negue ele está lá a espreita para se exibir em todo o seu orgulho e arrogância.

O segundo fato que me deixa muito de cara é a forma como os esportes olimpícos são tratados no país. Mas isto já é clássico não é mesmo? Esporte por aqui é só futebol, atleta é só jogador. E ainda assim, com todo este interesse a cobertura esportiva é muito, como dizemos aqui no Rio Grande do Sul, muito fora da casinha. São os cabelos dos jogadores, os brincos, os namoros, os carros e vai se por aí um caminhão de besteiras, fofocas, fuxico e disse-me-disse que passam bem longe do talento ou da técnica do futebol. Há tempos que a fama de um jogador, seu sucesso ou seu fracasso é determinado pela mídia. Em especial por uma grande rede televisiva que é capaz de fazer ou destruir um profissional. Sorte de quem cai nas graças da dita cuja! E muita falta de sorte (bate na madeira, pé de pato mangalô três vezes) porque este sim é aniquilado.

E neste meio temos nomes notórios como o Dunga, como técnico, embora como jogador também tenha sido bem relegado, mas tal como Zagalo teve de ser engolido na copa de 1994. E até o próprio Ronaldo, Fenômeno, queridinho em alguns momentos, mas que teve seu peso debatido inúmeras vezes em cadeia "nacional" da rede plim-plim.

Este ano, tomara que esteja errada, a vítima pode ser Diego Hypólito medalhista olímpico. Há duas olimpíadas que os nervos afetam seu sucesso, mas não apagam a sua trajetória dentro da ginástica olímpica masculina. Não apaga, mas pode ser deixada de lado se apenas o erro for divulgado. Funciona como aquela história da mentira  que contada muitas vezes acaba se tornando verdade. Bem, não se torna um fato verídico, mas bem que tentam. E como tentam!

Eu me pergunto... Porque a seleção masculina de futebol não recebe a mesma cobrança que Diego Hypólito? Afinal nunca recebeu um ouro olímpico e tem muito, MAS MUITO MAIS INCENTIVOS FINANCEIROS PARA TREINAR E JOGAR QUE QUALQUER ATLETA DE QUALQUER OUTRA MODALIDADE. Ãh?


Muitos atletas individuais, como o próprio Diego, optam por treinar no exterior por causa da infraestrutura. Isto que sabemos que são investidos bilhões, trilhões em épocas de Pan, olimpíadas e etc e depois não se dá a devida manutenção. Estes atletas não são valorizados, bem como os atletas paraolímpicos que conseguem muito mais êxito que qualquer outro e sem apoio. A cultura é dar o peixe,  (porque isto faz das pessoas com fome dependentes) ao invés de ensinar a pescar (o que daria autonomia). E isto acontece em todas as questões por aqui, não é mesmo?

terça-feira, julho 17, 2012

É preconceito!

É preconceito quando, antes de dizer o nome ou qualquer outra referência sobre uma pessoa, tu dizes aquele negro, aquela bicha... Sim, é preconceito! Quando uma pessoa tem mal caráter isto não se dá por ela ser gay, negra, tatuada ou mulher. E distingui-la pelo gênero, a raça ou orientação sexual é sim uma demonstração de preconceito.
Não bastasse o conhecido racismo velado que faz parte do dia-a-dia do nosso país ainda temos líderes religiosos e políticos que usam da sua influência para insuflar o preconceito, sempre de forma velada, sempre como se fosse algo  que eles dizem "pelo bem".
O deputado Jair Bolsonaro, que não compreendo como consegue se eleger, já é bem conhecido pelas suas polêmicas e atitudes preconceituosas. Agora temos o "bispo" Edir Macedo passando uma orientação para "os homens de Deus" quanto a idade e a cor das suas esposas. É sempre bom lembrar que ele já orientou os pastores como agir para tirar dinheiro dos fiéis.
Eu adoro a famosa frase "não é que tenhamos preconceito, mas os outros tem e como serão tratados os filhos de um casal miscigenado?". Não, óbvio que não é preconceito. Preconceituosos são os outros, a sociedade, o meio em que vivemos. Peraí, se nós não somos preconceituosos, porque todo este cuidado?
Se eu não tenho preconceito ou discrimino as pessoas, porque me importo tanto com o que os outros fazem na sua intimidade?
Parece-me uma demonstração clara de preconceito dizer que o "homem de Deus" não deve se casar com uma mulher mais velha ou com uma mulher de raça diferente. Ainda que o argumento seja proteger seus futuros filhos do preconceito cruel do mundo e da sociedade em que vivemos. O meio religioso é uma célula da sociedade e pelo que vemos na mídia no congresso e em outros locais aonde deveria prevalecer a liberdade de credo e crença, o preconceito embasado em questões "Bíblicas" é muito grande. Religiosos e "Crentes" (como eles mesmos se denominam) usam a tribuna para incitar o preconceito dentro da família. Escarram na cara da sociedade coisas a homofobia, dizendo que ser gay é ser doente, que na igreja eles curam. Curam de um tudo por lá! Tiram demônios e sabe-se-lá- mais quais impropérios.  E eu sempre me pergunto, que bíblia eles leêm? A que Jesus eles seguem? Como podem seguir Jesus se amam o dinheiro? Se não praticam caridade porque não receberão nada de volta? O JC que eu conheço expulsou os vendilhões do templo, condenou a cobrança de dízimo, pregou o amor e a caridade.
Basta olhar pra ver que o discurso é um e as atitudes são outras. É bem raro ver lógica em discursos evangélicos que falam em Jesus e constróem templos gigantes e luxuosos em meio a países que sofrem de miséria e fome. Fazer um discurso preconceituoso dizendo que o objetivo é proteger as pessoas do preconceito é só mais uma contradição!

quinta-feira, junho 28, 2012

Buracos fazendo aniversário e o secretário de serviços urbanos

Faz um certo tempo que não presto atenção no Jornal do Almoço. Tenho até um certo trauma deste telejornal! Sim, quando eu era criança ninguém podia falar na mesa na hora do comentário do Mendes Ribeiro.  É o pai do deputado de mesmo nome. Eu detestava aquele homem que me impedia de fazer qualquer pergunta, de falar qualquer coisa na hora em que estávamos todos reunidos para almoçar. Quando os comentários dele pararam e ele morreu já não dava mais muita bola pro que tava passando na televisão ao meio-dia e como já estava um pouco maiorzinha...
Com a ressalva do comentarista que eu detestava e do Paulo Santana, que me parecia sempre bêbado, o restante do jornal eu até encontrava algum interesse. Mas nos últimos tempos a coisa tá braba, como dizemos por aqui. Cada tragédia ocorrida no mundo obrigatoriamente tem que ter um gaúcho! Tá, eu também carrego meu barrismozinho aqui dentro, mas tem dó! Além disso, as reportagens com mais tempo de duração são as que falam sobre os novos programas da rede de televisão ou sobre amenidades, geralmente exibidas depois de uma matéria de cunho importante, como o caos na saúde, uma denúncia de corrupção ou a segurança precária, entre tantos outros assuntos polêmicos e importantes para o país.
Para mim a fragmentação da notícia e a disposição dos temas na programação é perceptível devida a minha formação em  Comunicação Social. No entanto, a grande maioria das pessoas não percebe e acaba ficando com a análise rasa e fútil muitas vezes do problema mais grave e com muitas informações inúteis sobre os novos personagens da novela.
Vez por outra, e aqui tenho que ser justa, o telejornal faz uma série de reportagens interessantes com a participação da população. Hoje foi encerrada a série "Blitz dos buracos", com a participação do secretário municipal de serviços urbanos e a série foi encerrada sem nenhuma explicação decente  por parte da prefeitura em relação aos buracos nas ruas. Segundo o secretário 500 buracos é tolerável, pra uma cidade como Pelotas. A gente até entende, a cidade é extensa, não dá pra fechar todos de uma só vez, mas tem buraco que já fez aniversário! Crateras para quem a população cantou parabéns!
Quando questionado por moradores sobre ruas que constam como asfaltadas e que, ao vivo, seguem de chão batido o secretário disse que "as pessoas tem direito de saber o que consta na Prefeitura". Tá ok, a gente já sabe que lá na papelada da secretaria constam como ruas asfaltadas, na vida real não estão, qual atitude que a prefeitura vai tomar em relação a isto? Dizer que o asfalto tá lá há 200 anos e a gente não vê por que já desencarnou? Ou será que vai jogar, simplesmente, para a gestão anterior e deixar por isto mesmo?
O secretário me pareceu muito desinteressado de tudo. A fala dele me pareceu, traduzindo algo como, a população pode falar o que quiser, afinal estamos numa democracia, mas se algo irá mudar ou se vamos (no caso ele e a prefeitura) nos interessar pelo que ele diz... isto é outra coisa.

quinta-feira, junho 21, 2012

Sábado Resistente

Neste dia, 30 de junho, das 14h às 17h 30min tem mais um Sábado Resistente. O encontro deste mês será dedicado aos 35 anos da prisão dos militantes da ex-Convergência Socialista, cidadãos que lutavam junto ao movimento operário pela derrubada da ditadura militar e pela legalização de um partido de trabalhadores que representasse e defendesse os interesses da classe operária.
Será debatido o legado deste movimento, assim como se obterá esclarecimentos sobre as ações que estão sendo movidas nas últimas semana pelo Ministério Público Federal para desvendar as responsabilidades pelos crimes que o Estado cometeu na região, atendendo às determinações da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Programação

14h: Boas vindas - Katia Felipini (Coordenadora do Memorial da Resistência de São Paulo).
Coordenação - Ivan Seixas (Presidente do Núcleo de Preservação da Memória Política)
Américo Gomes (Comissão dos presos e perseguidos políticos da ex-Convergência Socialista)

14h15min. Apresentação dos dados

14h30min - 15h 30min. Palestras
Bernardo Cerdeira
Jornalista, Editor da revista Versus, preso em 1977 e dirigente da ex-Convergência Socialista

Maria Salay
Operária Metalúrgica do ABC, dirigente das greves de 1977, militante da ex-Convergência Socialista

Álvaro Bianchi
Diretor do Arquivo Edgard Leuenroth e professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Américo Gomes
Advogado, membro da Comissão de Presos e Perseguidos Políticos da ex-Convergência Socialista

15h 30min: Projeção de vídeo sobre a história do movimento operário no final da década de 70-80 e a ligação com a ex-Convergência Socialista

16h: Homenagem
Nahuel Moreno
Ex-dirigente da Liga Internacional dos Trabalhadores, preso com os dirigentes e militantes da ex-Convergência Socialista

16h 30min: Lançamento da revista Correio Internacional comemorativa dos 30 anos de fundação da Liga Internacional dos Trabalhadores

Fonte: Memorial da Resistência de São Paulo
Largo General Osório, 66 - Luz
Auditório Vitae - 5° andar


quarta-feira, junho 20, 2012

A coerência política

Nem sei por onde começar. Passo dias sem postar nada, porque é tanta coisa acontecendo e tantas coisas estapafúrdias que minha mente não conseguiu formular algo em relação a cada fato. Mas não poderia me calar diante da aliança PT/PP para a prefeitura de São Paulo. A aliança é terrível e acaba por enterrar, se ainda existia alguma, qualquer diferença que ainda pudesse existir entre os partidos políticos. É absurdo que o PT tenha aceito o apoio do Paulo Maluf!
Sei que vão dizer que apoio é apoio e não se deve desperdiçar. Mas pode-se desperdiçar a moral, a ética, a coerência? Nunca fui petista, mas fiz campanha várias vezes, porque acreditava nas propostas que os candidatos traziam. Só que tanto na vida política, como na vida do cidadão não podemos aceitar o vale tudo! Nunca a expressão "farinha do mesmo saco" fez tanto sentido quanto neste momento político! E ao que parece, a grande maioria dos políticos não está se importando se sua ideologia é contrária a do partido que representa ou se coliga.
Quando Luiza Erundina retirou sua candidatura a vice na chapa com Haddad, pensei comigo, estão surpresos, mas é o mínimo que ela podia fazer dentro da coerência, dentro da sua história na política! O que me surpreende é Lula apertar a mão deste sujeito! Se bem que... depois de Sarney e tantos outros tubarões e raposas velhas com quem se aliou em nome da governabilidade, subir no palanque ao lado de Maluf é só mais uma demonstração de que a expressão popular pode estar certa mais uma vez e lá se vai mais uma boa intenção direto pro inferno. Afinal, não dizem que de boas intenções ele tá cheio?

quarta-feira, maio 23, 2012

A proposta: "amante fixa"

Costumo dizer, a respeito de mim mesma que: se não queres saber a minha opinião sincera sobre qualquer assunto não pergunte.É não sou flor que se cheire até porque estou mais pra planta carnívora do que pra qualquer flor perfumada dos lindos jardins. Não sou uma pessoa ruim, mas não mudo de opinião tão fácil assim (sou considerada teimosa e cabeça dura!) e cantadas podres e pobres não me levam a lugar nenhum muito menos pra cama. Não sou boneca inflável, tampouco banheiro público aonde, num momento de necessidade, tu pode te aliviar. Nem me sinto lisonjeada pelo fato de um homem me procurar com o único intuito de transar comigo. Não, não sou frígida, nem quero parecer santa! Porque, ainda hoje, as coisas são assim, simplistas, se gosta de sexo = vadia, se não gosta = frígida (ah! e tem a opção B, gay).

Até porque... né, o garanhão não é capaz de cogitar a opção correta: "gosto de sexo mas não contigo!".
E ele vai mais longe (o pseudo garanhão) na sua cabeça machista e perturbada, se a mulher gosta de sexo e é uma vadia (na cabeça dele, em ambas, a de cima e a debaixo) ela tem que dar pra quem quiser transar com ela e ponto. Eu, como boa bisca que sou, penso exatamente o contrário. Principalmente porque, ser uma biscate é ter o direito de escolher e liberdade para ser quem quiser ser.

Ontem fui colocada diante de uma situação destas, pela segunda vez. O papo começa sempre no mesmo sentido, afinal o outro já parte do pressuposto de que, como já te rotulou tu agirás dentro do rótulo que ele te deu. Então vem o cara, um rapaz jovem, que deveria ter a mente aberta... é, deveria... Começa se oferecendo como a última novidade do mercado, sendo que eu já comprei o produto e devolvi por apresentar defeito. Eu querendo ser aquela rosa meiga e cheirosa do jardim mais lindo do mundo evitei responder a fatídica pergunta: "não queres me pegar de novo?". Em pensamento já havia gargalhado e dito, a resposta está no início da pergunta. Educadamente eu disse que já havíamos tido aquela mesma conversa uma outra vez, na esperança de que o papo fosse cortado naquele exato momento. Ele se fez de desentendido.
Fico imaginando que alguns homens fazem isto na crença de que faremos como antigamente, sorriremos e consentiremos qualquer ideia deles, mesmo contra a nossa vontade. Ele insistiu na pergunta. Eu disse que nós não éramos compatíveis em nenhuma área. Não alcançou o raciocínio. E a planta carnívora dentro de mim pronta para dar o bote ia tentando o auto controle pensando, esta carne deve ser ruim!

Fui clara então. Não estou interessada em sexo por sexo. Isto pra não dizer na cara dele (pelo msn) que na nossa única experiência teve: uma brochada (neste caso de ambos, a minha resultado do desempenho que deixou a desejar), péssimas preliminares e nenhum gozo. Mas ele, como todo garanhão é egocêntrico demais para observar a minha cara e reação de descontentamento, além do pequeno sorriso de alívio quando disse que ia s'imbora.
Óbvio que ele usou argumentos muito "convincentes" (pode até ser que convença alguém, mas creio que nenhuma das mulheres que eu conheço) como o fato de ter pensado seriamente em ter-me como uma amante fixa! Gente! Quem me conhece deve imaginar a minha cara diante da tela do computador! Mas Deus sabe o que faz e não me deu visão de raio X, ou do contrário ele estaria derretido neste momento soltando fumacinha pelos ouvidos. Aham! é tudo o que eu quero na minha vida, ser amante fixa de um babaca machista!

A questão que me estarrece e indigna não é a falta de noção desta pessoa específica, mas saber que em pleno século XXI tem quem pense que mulher é propriedade dos homens. É o fato dos caras (alguns claro!) pensarem que a escolha só ocorre da parte deles, ou seja ele me escolheu, fico lisonjeada, sorrio e aceito a proposta! Que é mais indecente do que a que o Robert Redford fez pra Demi Moore, em Proposta indecente, visto que ele ofereceu um milhão de dólares pra ela e a decisão foi dela, ainda que o marido não tenha gostado nada-nada.

É meu corpo, é minha escolha. Eu tenho que ser respeitada, seja na minha escolha de fazer sexo sem compromisso ou na ideia romântica de passear de mãos dadas na praia sob a luz da lua. Como bem diz um amigo meu "a tentiada é livre!" Faz tuas cantadas grosseiras, mas não conte que eu vá gostar delas. Não milito em causas feministas e pelo fim da violência  contra a mulher atoa. Não sou objeto e não sou propriedade! Quero um companheiro! Com-pa-nhe-i-ro, não um sinhôzinho!

terça-feira, maio 22, 2012

Não sei se as revelações de abuso da Xuxa são verdadeiras, mas não creio que alguém minta sobre isto

Não sou fã da Xuxa, não gosto dos programas nem do estilo dela.O programa infantil da minha infância era "O balão mágico", com a Simony, o fofão, o Mike, o Tobby e o Jairzinho. Nem havia o programa da Xuxa ainda. E quando começou era na Manchete e não passava aqui. Eu tinha verdadeiro pavor quando alguém dizia que eu era "baixinha da Xuxa". Não sou, nem nunca fui, porque sempre gostei de pessoas verdadeiras e ela sempre me pareceu forçada demais. Sem contar o horror e as coisas bizarras que faziam com o Praga (o anão vestido de tartaruga)! Tenho pra mim que o verdadeiro motivo das crianças assistirem programas infantis são os desenhos, estes sim prendem as crianças diante da televisão e nem precisa ter ninguém pra anunciar, aliás, lembro-me bem de mim a espera de algum deles, mandando logo o apresentador sair e rolar a animação.

Xuxa tem muita fama e é querida por muitos, mas não faz parte dos ícones das novas gerações. Esta um pouco esquecida e se bobear tem muita criança que não sabe quem ela é. As revelações dadas ao Fantástico causaram muita polêmica, comoção e apoio por parte de uns, repulsa, acusações e outras coisas por parte de outros. Não assisto ao programa dominical há muito tempo, aliás há muito tempo não assisto muita coisa da Rede Globo. E os anúncios de declarações bombásticas da "rainha dos baixinhos" (de quem?) não me instigaram a curiosidade, até porque, em tempos de redes sociais se sabe de tudo, quase que em tempo real.

A entrevista polêmica teve o intuito de alavancar o ibope da revista eletrônica, que a muito tempo deixou de ser interessante, deixando as informações de lado para trazer muitas matérias sobre a própria programação da rede de tv ou pautada por elas. Embora Xuxa esteja numa situação de não ser mais a grande atração da Globo, não creio que, em sã consciência, alguém fosse em horário nobre contar mentiras pra se autopromover, com exceção dos políticos (aliás, muitos deles com algum grau de psicopatia, o que lhes confere total falta de sentimento e caráter). Quando falo mentiras me refiro a denúncia de ter sido abusada na infância e adolescência. Todas as outras revelações que ela fez considero muito questionáveis pelo próprio comportamento dela, tipo dizer que sua verdadeira paixão foi o Pelé, quando a vida inteira ela negou ter tido qualquer tipo de relacionamento com ele. Ou dizer que o amor de sua vida foi o Senna, mesmo tendo se separado dele. Nem sei se ela falou destas coisas e pouco importa, o mais sério de tudo é ela ter assumido ser vítima de abuso.

Como eu disse antes não sou fã, nem gosto dela, não gosto de ouvir nem a voz dela na televisão. Mas não creio que ela tenha mentido sobre o abuso. Pois neste caso ela seria muito mau caráter. Quando adulta ela pode ter tido uma conduta questionável, mas quem de nós pode questionar, não é mesmo? Acontece que a violência que ela sofreu foi na infância, num momento de fragilidade e temos que respeitar isto. Ela foi uma vítima como existem tantas outras  pelo Brasil afora.
Questionável pra mim é a conduta da emissora de usar isto pra alavancar ibope de programa fracassado. É a sociedade cobrar um papel e tu teres que te submeter para "parecer respeitável", porque é preciso parecer e ter, ser é outra história.

Não acho que a Xuxa seja uma coitadinha, ela fez as escolhas dela. Mas negar que ela é uma vítima e culpá-la pelo abuso que sofreu é demais, até pra mim que não gosto dela.

quarta-feira, maio 16, 2012

Que lado prevalecerá?

Estou sempre lendo textos, pesquisas, livros e artigos sobre a Ditadura Militar, a Lei de Anistia, desaparecidos políticos e coisas afins. Quando o primeiro, dito governo de esquerda foi empossado, animei-me pensando que realmente os arquivos secretos seriam abertos e todas aquelas histórias escabrosas de tortura, desaparecimentos, cemitérios clandestinos seriam esclarecidos e os torturadores seriam levados a julgamento. Mas nada aconteceu efetivamente e, assim como várias leis e programas,  o desarquivamento ficou para o próximo presidente, no caso presidenta.
Falou-se em revanchismo, em dureza e tudo mais. O bicho papão da esquerda no Brasil, depois do "Lulinha Paz e Amor" estava mansinho, mansinho. E a ex-guerrilheira, presa e torturada nos temidos e úmidos porões da ditadura militar tornou-se uma avó doce e meiga, a ponto de lançar um programa de governo com o nome de Brasil Carinhoso. Nada contra! Aliás, bem pelo contrário.  As trabalhadoras brasileiras necessitam ser contempladas com os pontos destacados no programa. Dilma segue sendo uma mulher firme, mas nesta questão da ditadura militar os milicos continuam ganhando.
Foram anunciados os sete integrantes da Comissão Nacional da Verdade, mas não há representantes das famílias ou dos movimentos pelos direitos humanos. A indignação veio com a declaração do integrante da CNV, Jose Carlos Dias, que destacou que o foco será a responsabilidade dos "dois lados". É tão linda a imparcialidade não é? Irão punir mais uma vez quem esteve preso e foi julgado pelos militares? Como farão com os desaparecidos? Eles se tornarão foragidos da Justiça? Não basta a crueldade de impedir suas famílias de dar-lhes um sepultamento digno? Não basta os militares seguirem comemorando o golpe, porque foi um golpe dado num governo legalmente constituído?
Quando penso neste período e nos acontecimentos, não consigo deixar de me  indignar com isto, com este absurdo que é manter secretos os acontecimentos que daria alento há centenas de famílias que não sabem se seus entes queridos estão realmente mortos. Famílias estas que não tiveram o direito de sepultar seus mortos e não se sabe se irão ver a Justiça ser feita. E com certeza, muito mais do que eu, devem ter sofrido horrores ao ler ou ouvir a declaração de José Carlos Dias.
Levarão os mortos ao banco dos réus? E os militares?
Os militares aprovaram os integrantes da Comissão Nacional da Verdade. Agora tirem suas próprias conclusões.

quarta-feira, maio 09, 2012

Cosmópolis

Semana Nacional de Museus
COSMÓPOLIS: São Paulo, Museu do Mundo
 (dias 12 e 19 de maio de 2012)

Apresentação:
As identidades multiculturais, decorrentes dos movimentos imigratórios e migratórios que ocorrem desde finais do século XIX, transformaram a cidade de São Paulo num amplo mosaico cultural.  Vista como um polo de oportunidades em distintos contextos sócio, político, econômico e cultural, pessoas oriundas de diversas partes do Brasil e do mundo compartilham desta rica diversidade cultural. Esta tem sido uma característica das grandes metrópoles. Entretanto, esse convívio nem sempre se dá de forma harmoniosa, mas também carregado de conflitos, de exploraçãoeconômica, dificuldades de interação entre as distintas culturas, preconceito cultural e, ainda, a ausência de direitos para os estrangeiros.
Ao lado da necessidade de implementação de políticas públicas que garantam os direitos fundamentais para todos os cidadãos, é fundamental que as comunidades participem ativamente do processo em diferentes instâncias. Nesse sentido, as instituições museológicas têm a potencialidade de desempenhar importante papel junto às comunidades, pois o conhecimento do patrimônio favorece a reafirmação das identidades, possibilita a reflexão crítica sobre a realidade e amplia a capacidade de construir novos laços deinterações e cooperações, necessários para a conquista dos direitos.
Acreditando nos princípios da cidadania global, em que os direitos humanos devem ser vistos sob uma perspectiva de direitos universais e que a consolidação da democracia somente pode se dar por meio do respeito à pluralidade e à diferença, este Seminário, concebido no âmbito do Programa da Semana de Museus sob o tema Cosmópolis: São Paulo, Museu do Mundo, tem como objetivo discutir sobre a possibilidade da construção social da cidadania por meio da reflexão crítica sobre a historicidade dos movimentos migratórios, dos avanços e perspectivas relativos à equidade de direitose do papel que as instituições museológicas comprometidas com uma Museologia social podem desempenhar neste processo.
Além disso, realizará uma oficina de arpilleras, com o objetivo de ampliar a reflexão sobre os temas discutidos por meio da construção coletiva de bordados a partir das memórias dos participantes. As inscrições deverão ser realizadas presencialmente no dia 12 de maio com Vanessa do Amaral.
Coordenação: Kátia Felipini Neves - Coordenadora do Memorial da Resistência de São Paulo
Assistente de Coordenação: Vanessa do Amaral

PROGRAMA
Dia 12 de maio de 2012 (sábado) – 10h
1) Movimentos Imigratórios e Migratórios em São Paulo: contexto sócio, político, econômico e cultural
- Zilda Marcia Grícoli Iokoi
Professora titular do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, na área de História do Brasil Independente, atuando principalmente na linha de pesquisa História das Relações e dos Movimentos Sociais, nos temas da educação, lutas camponesas, políticas públicas, imigração contemporânea, humanidades, direitos e outras legitimidades. É diretora executiva do Laboratório de Estudos sobre a Intolerância – LEI/USP e vice-diretora do Conselho Administrativo da Associação Museu daTolerância.

2) Legislação e políticas migratórias: cidadania global para a consolidação da democracia
- Deisy de Freitas Lima Ventura
Professora de Direito Internacional e Coordenadora de Projetos da Comissão de Cooperação internacional do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP). Coordena o Grupo de Estudos sobre Internacionalização do Direito e Justiça de Transição (IDEJUST, convênio USP/Ministério da Justiça) e o projeto de extensão universitária Educar para o mundo.

12h - 12h30: Debate

Dia 12 de maio de 2012 (sábado) – 14h

3) Respeito à Pluralidade e à Diferença: articulações para a criação de novos laços, interações e cooperações
- Oriana Jara Maculet
Socióloga. Presidente da organização não governamental Presença de América Latina (PAL), criadora e diretora do Projeto Presença Latina, que procura a integração das comunidades de migrantes hispano-latinos residentes em São Paulo. Representante (2005-2006) do segmento Migrantes Brasileiros e Estrangeiros na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

4) Pedagogia Museológica: afirmação das identidades por meio do patrimônio
- Maria Cristina Oliveira Bruno
Professora Titular em Museologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (2010), Livre-Docente em Museologia no MAE/USP (2001), especialista em Museologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e Licenciada em História pela Universidade Católica de Santos (1975). É autora e também responsável pela organização de livros e artigos em periódicos especializados, membro de conselhos de instituições museológicas e presta consultorias a instituições museológicas.

16h - 16h30: Debate


Dia 19 de maio de 2012 (sábado) – 9h30
9h30 - 13h30: Oficina de arpilleras
- Esther Vital Garcia Conti
Psicóloga, desenvolveu no mestrado a transformação de conflitos por meio da arte. Desde 2008, desenvolve e acompanha trabalhos no Brasil e no exterior, com imigrantes e outros grupos, tendo como base trabalhos com arpilleras e outros suportes artísticos.

Fonte: Memorial da Resistência de São Paulo
Largo General Osório, 66 – Luz
Auditório Vitae – 5º andar

quarta-feira, abril 25, 2012

Eu quero o Teatro Sete de Abril de volta!


Eu também quero o Teatro Sete de Abril de volta. Entre muitos motivos está o da importância que ele representa por se tratar de um dos mais antigo do país, pela representação histórica, pela beleza arquitetônica. O Teatro Sete de Abril recebeu as companhias de teatro mais renomadas do Brasil e de fora dele. É um ícone e está jogado as traças, esquecido.
O desrespeito por ele vai além da questão política! Há anos atrás foram feitas campanhas com o objetivo de arrecadar fundos para a restauração do teatro, coisa que nunca veio a ocorrer. Depois esteve fechado, passou por uma reforma no seu interior e agora está fechado novamente.
O Teatro Guarany é lindo, mas está em situação ainda mais precária que o próprio Sete que está fechado. Falo com conhecimento de causa, os camarins estão terríveis. Seria muito necessário uma limpeza das cortinas do palco, das paredes, do teto, enfim, faxina completa. E ainda que seja alugado o dinheiro não parece ser investido no próprio teatro. A pergunta que fica é: como receber grandes nomes do teatro ou da música sem ter aonde recebê-los?
Os camarins estão ruins para o pessoal da terra que se apresenta no teatro, mas também para os atores conhecidos da mídia. Porque abandonar a cultura assim, desta forma?
Comemorar 200 anos deveria começar por preservar e cuidar dos símbolos da cultura da nossa cidade. O Teatro Sete de Abril faz parte da história de Pelotas, faz parte dos 200 anos, mas sua história está com as portas lacradas. Que vergonha!

segunda-feira, abril 23, 2012

Responsabilidade

Há algum tempo estou para escrever este texto. Venho ruminando as palavras, pensando nos argumentos, nisto e naquilo e tenho deixado pra lá, para, talvez, não causar constrangimentos. Mas sempre há o dia em que o nó na goela precisa ser desfeito e antes que este nó me sufoque vou por pra fora alguns pensamentos.
Não tenho a intenção de falar mal de pessoas ou religiões, tal qual prevê a Constituição creio que a liberdade de culto deve ser respeitada. Sou espírita, ou espiritualista para ser exata e estar de acordo com a Doutrina Espírita. Algumas vezes sinto minha religião desrespeitada, ainda que a Constituição me assegure professá-la. No entanto, não é sobre religião que quero falar. Quero, e vou falar sobre a responsabilidade de gurus, pais de Santos, pastores e outros mais que usam da boa fé das pessoas para arrancar-lhe dinheiro prometendo curas e milagres.
Como disse antes, sou espiritualista, vou no centro espírita, no terreiro de umbanda e nunca, em nenhum dos ambientes que fui até hoje, (e isto é quase minha vida inteira, 35 anos) me cobraram R$ 0,10 se quer para dar um passe ou auxiliar-me. Assim como, em NENHUM DESTES LUGARES ME DISSERAM QUE NÃO PROCURASSE O MÉDICO PARA TRATAR UMA DOENÇA. Pelo contrário, lugares sérios ressaltam que: "Se houver cobrança, vá embora!". Além de que, orientam que as pessoas sigam fazendo o tratamento médico e tomando os remédios prescritos pelos doutores. E eu tenho isto pra mim deste sempre.

Tem um tempo que ouvimos e assistimos em telejornais e especias de televisão que alguns templos (eles se dizem) vendem a cura para as mais diversas doenças. Eu sei, tem os pais de santo que trazem o amor em três dias, curam de fimose a unha encravada, fazem de um tudo prevendo passado, presente e futuro. Mas destes, todos já estão avisados. Sabe-se de antemão que são charlatões que vendem até gatos bentos que "descagam" dinheiro. Agora, aqueles homens, sérios que lá do púlpito discorrem sobre a palavra de Deus, muitas pessoas, a grande maioria desesperada por alento, não está vacinada. São pessoas muitas vezes ingênuas que já recorreram a todas as possibilidades na vida para resolver seus problemas e sua última esperança é Deus. Não vou dizer que é a religião porque, embora compreenda a etimologia da palavra, as diferentes crenças tratam Deus e sua palavra conforme lhe convém.
Não importa se tu crê ou não em Deus, se és materialista ou espiritualista, nada disso importa. Porque o que precisamos ter por estas pessoas, que estão muitas vezes desesperadas, é compaixão. Pode ser que não sejam cultas, nem espertas ou inteligentes. Concordo até que algumas se deixam enganar, mas elas buscam algo maior. E é nesta busca que entram os irresponsáveis que vendem curas e unções milagrosas. Óbvio que uma pessoa diagnosticada com um câncer maligno ou HIV vai buscar consolo, seja aonde for, seja em todos os templos religiosos do planeta, é natural de quem não quer morrer. Assim como podemos até ver pessoas materialistas chamarem por Deus num momento de perigo. Não há nada de errado nisto.

O errado é usar do desespero alheio para ganhar dinheiro! Eu jamais acreditei que um... (vou usar mentor espiritual porque esta expressão na minha concepção engloba todas as religiões) mentor espiritual fosse tão irresponsável a ponto de dizer a um doente, diagnosticado com um câncer maligno que ele não precisava fazer tratamento ou cirurgia porque após uma atividade realizada por ele estaria curado.
Na minha mente não há como conceber! Não são apenas os doentes de câncer que recebem este tipo de "consolo" irresponsável, doentes de Aids e portadores de HIV são curados após sessões sabe-se-lá-do-quê. Há mentores que orientam estas pessoas a refazerem seus exames para comprovarem que ficaram curados. Mas sempre que os exames comprovam que a doença não foi curada, até porque não tem cura, ainda, a culpa é do doente que não mereceu a graça, foi algo que eles fizeram de errado ou não fizeram corretamente.

Então fico pensando... podemos responsabilizar estes mentores pela morte de alguma destas pessoas? Como podemos proceder nestes casos. Sim, vejo de perto uma situação destas e ouço médicos e enfermeiros relatando situações de pacientes que não realizam os tratamentos acreditando que sua fé já lhes curou. Como ser alguém tão vil e egoísta a ponto de deixar que um ser humano morra na dor, sem tratamento? Não é uma questão de religião, não é. É responsabilidade diante da vida de outra pessoa. É amor ao próximo, é compaixão, tá lá no livro, foi dito por Jesus, que eles dizem que seguem, que amam.

Quem responderá pelas vidas perdidas irresponsavelmente por estes mentores que vendem curas?
Pergunto porque no caso de um erro médico ou coisa parecida pode-se recorrer a Justiça, processar, pedir indenização, responsabilizar médicos, enfermeiros, hospitais. Mas no caso de alguém que comprou a cura num templo religioso qualquer? Quem é o culpado? Mais uma vez o pobre coitado que foi buscar consolo, porque é um lunático que interpretou tudo errado, que quer provar que é um mártir e sabe-se-mais-o-quê podem dizer de alguém que está deteriorado por uma doença. Acreditar, sim, eu tenho fé e peço socorro aos meus guias e orixás quando me sinto em perigo. No entanto, todas as vezes que pedi ajuda me disseram "há coisas que são do espírito e há coisas que são do corpo, aqui cuidamos do espiritual, vá ao médico, faça o tratamento recomendado. Cuide do corpo, pois ele é a casa do espírito"! Jamais disseram, esqueça os médicos e fique rezando ou fazendo oferendas nas encruzilhadas e acendendo velas e tua cura virá.

Charlatões há de toda ordem e credo. Mas alguns respondem pelos seus crimes com o rigor  da Lei, outros...
Meu objetivo com este texto é questionar mesmo, porque tenho visto gente padecendo  destes fanatismos e fé cega e definhando dia-a-dia. Podem dizer que bem feito pra esta pessoa que se deixou enganar, que o pior cego é o que não quer ver. Eu compreendo a posição de vocês! Também já tive raiva do doente. Mas o fato de ele se deixar enganar isenta o enganador de culpa?


terça-feira, abril 17, 2012

Ditadura militar (1964-1985): repressão, resistência e memória

O Prof. Dr. Carlos Fico (UFRJ) irá proferir a palestra "Ditadura militar (1964-1985): repressão, resistência e memória", no dia 28 de abril, as 10h 30min no Auditório Vitae.
Trata-se do primeiro Encontro de Aprofundamento Temático deste ano e tem o objetivo de discutir, de forma atualizada, questões que envolvem o aparato repressivo estruturado durante o regime militar para vigiar, desarticular e punir as ações da resistência política organizadas por setores da sociedade brasileira. Outro tema a ser abordado, é o tratamento dado às marcas da memória do período, incluindo, neste sentido, a implantação da Comissão Nacional da Verdade.

Carlos Fico
É mestre em História pela Universidade Federal Fluminense e doutor em História pela Universidade de São Paulo, onde também fez estágio de pós-doutoramento. Atualmente, é Professor Titular e História do Brasil da Universidade Federal do Rio de Janeiro e desenvolve pesquisas relacionadas aos seguintes temas: ditadura militar no Brasil e na Argentina, historiografia brasileira, rebeliões populares no Brasil republicano e História política dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. Foi "Cientista do Nosso Estado" da Fundação Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) entre 2003 e 2006 e recebeu o Prêmio Sergio Buarque de Holanda de Ensaio Social da Biblioteca Nacional em 2008.

Público alvo: professores, educadores, estudantes universitários (graduação e pós-graduação)
Inscrições: de 16 a 26 de abril, somente pelos telefones (11) 3324.0943 ou 0944, com Valdir ou Paulo (de segunda à sexta, das 10h às 17h 30min)
Local: Largo General Osório, 66 Luz
Entrada Franca
Haverá entrega de declarações de comparecimento aos interessados 

quinta-feira, abril 05, 2012

Falha nossa!

No texto anterior troquei o parentesco da pessoa que foi impedida de discursar na cerimônia da Comissão da Verdade. Embora tenha pesquisado, troquei pois quem foi impedida de discursar foi a filha do ex-deputado Rubens Paiva e não a viúva como coloquei no texto.
Peço desculpas aos amigos leitores!

domingo, abril 01, 2012

5ª Blogagem coletiva #desarquivandoBR

Outro dia assisti, na companhia do meu sobrinho, um filme dirigido pelo Clint Eastwood e protagonizado pela Angelina Jolie. Na trama do filme "A troca", Angelina tem seu único filho sequestrado e na ânsia de conseguir calar as reclamações da população (e da mãe) a polícia local a induz a receber um outro menino no lugar de seu filho desaparecido. Muitos abusos são cometido pela polícia até que um policial  vai atrás de um pista e descobre um assassino em série que caça meninos na rua e os mata em seu sítio. Entre os possíveis mortos pelo serial killer está o filho de Angelina Jolie, que está perfeita no papel da mãe. Como ela não se cala e vai buscando provas de que o menino que recebeu não é seu filho acaba sendo trancada em um manicômio, sob o argumento de que não queria reassumir, segundo o investigar corrupto, seu papel materno. Ao final da película a mãe segue em busca do filho desaparecido, visto que não foi encontrado corpo, portanto, para qualquer mãe segue existindo esperança de que o filho volte.

No final do filme eu lembrei das centenas de mães brasileiras que tiveram seus filhos roubados pela ditadura militar. E dos militares, que ironicamente comemoram no dia 1° de Abril uma Revolução, que nunca passou de um golpe militar. Na primeira vez que participei da blogagem coletiva eu falei sobre este tema, e volto a ele porque de todos os arquivos escondidos da ditadura militar do Brasil o direito de não enterrar seus mortos ainda é o mais difícil no meu entendimento, aliás, é o mais cruel! É a tortura institucionalizada da ditadura que ainda acontece.

Talvez ocorra com os nossos governantes (que ainda não abriram realmente os arquivos secretos) o mesmo que acontece com meu sobrinho, que assistiu o filme "A troca" e não gostou do fato da mãe seguir em busca do filho desaparecido. Creio que não seja necessário ser pai ou mãe para se sensibilizar com a dor destes pais que perdem seus filhos. Mas há quem não tenha esta capacidade e ainda que os direitos humanos ou qualquer outra  instituição internacional condene ou determine a abertura dos arquivos a dor de não saber aonde estão os restos mortais de seus entes queridos segue uma ferida aberta no peito de pais, mães, filhos, esposas. Já escutei várias mães dizendo que "ter um filho morto é uma dor inominável, mas ter um filho desaparecido deve ser muito pior, porque não se sabe como está, onde está, com quem está". E é nestas palavras que eu penso todo ano quando vejo as notícias de comemoração do golpe militar, porque foi um golpe.

É muita crueldade manter familiares há mais de 40 anos sem saber o que aconteceu com seus entes. Muitas mães já morreram, em desgosto e desespero, sem ter podido dar um enterro digno aos filhos. Sim, existem cemitérios clandestinos, de onde poderão ser retirados os restos mortais e se realizar exames de DNA para determinar de quem se trata, mas e aqueles que foram jogados ao mar?

Tão cruel quanto manter familiares sem saber, sem poder sepultar seu entes queridos é um governo, dito de esquerda se eximir diante de tudo isto de cumprir as determinações a que foram condenados a cumprir. É cruel, numa solenidade de assinatura da anunciada e festejada Comissão da Verdade, cortar o discurso da filha de um ex- deputado assassinado nos porões da ditadura.
Como isto pode acontecer no governo de uma ex-guerrilheira, de uma mulher que foi torturada e sofreu abusos? Compreendo que para governar é preciso ter jogo de cintura, realizar coligações, ceder alguns pontos. Mas atualmente o que vejo não é isto, mas uma completa mudança, parece até que nada das ideologias do passado restou. Chego a pensar que a verdadeira Dilma, a que tinha sonhos, ideologia, a que sofreu tortura sem entregar companheiros ficou perdida em algum lugar daqueles porões. Daqueles porões saiu uma Dilma modificada.  E infelizmente insensível aos apelos de companheiros do passado.

Todos nós que buscamos e pedimos a abertura dos arquivos e promovemos o #desarquivandoBR esperamos que o Brasil admita o erro que foi o golpe militar, reveja a Lei de Anistia e tome o período da ditadura como lição para que não volte a acontecer. Que os passos sejam dados com vagar, mas que sejam dados e sejam firmes para a abertura verdadeira. E principalmente, que acabe definitivamente esta tortura que ainda ocorre dos familiares que não podem dar um sepultamento digno a seus mortos.

Este texto faz parte da 5ª blogagem coletiva #desarquivandoBR pela abertura dos arquivos secretos, pela efetivação e cumprimento da  determinação da OEA pelo caso dos mortos na Guerrilha do Araguaia.

domingo, março 11, 2012

#Mulheres de Fibra

A série mulheres de fibra teria muita gente para colocar aqui. Nosso mundo ainda tem muito  o que  avançar nas conquistas femininas, mas há mulheres pelo mundo a fora que fazem toda a diferença, artistas plásticas, escritoras, ativistas, políticas e por aí a fora.
Quando comecei a série pensei em publicar um post sobre Margaret Tatcher pela lembrança que tenho de ouvir na "Dama de ferro". A impressão que tinha, quando criança, era do uso deste apelido de uma forma pejorativa, como se ela fosse uma mulher fria, calculista, capaz de qualquer coisa pela política inglesa. Lendo sobre sua biografia, e este ano tem o filme em que Tatcher é interpretada por Meryl Streep, vi que ela não era a pedra fria que eu imaginava ao ouvir o tal apelido. Não sei ao certo se concordo com sua ideologia, mas tenho respeito por esta mulher que era uma referência, uma das pessoas mais poderosas do mundo num período em que apenas os homens detinham o poder. Não conheço bem sua história, confesso e muitos podem descordar de mim, mas estar a frente do governo de um país por 11 anos na década de 80 não é pra qualquer um.

Pela admiração que tenho quero homenagear também as artistas plásticas Tarsila do Amaral e Frida Kahlo. Cada uma delas com uma forte história de vida, de amor e de talento. São muitas mulheres e suas histórias de vida são  histórias de luta. Todos nós conhecemos alguma mulher que precisou lutar muito para conquistar seus objetivos. Minha bisavó por exemplo criou sozinha seus filhos trabalhando na lavoura para tirar seu sustento de sol a sol. Esta é a luta diária a que temos que reverenciar, pois fazendo o seu pouco estamos fazendo muito para mudar o mundo. Sós a mudança não representa muito, pode inclusive ser pequena, mas no montante geral é uma grande mudança. Falando em vida difícil tem a admirável Florbela Espanca.

Aqui no Brasil uma das leis mais importantes da história foi assinada por uma mulher, a Princesa Isabel. Sabemos que o ato de libertar os escravos, embora um bem, foi também um grande problema, afinal depois de libertos o que tinham aqueles homens e mulheres? Para onde iriam, o que fariam? Foi-lhe dado a liberdade, mas também a miséria e a rua. As leis que antecederam a abolição da escravatura e a própria lei Áurea, tinham um objetivo nobre, ainda que os escravagistas e abonados senhores não aceitassem e continuassem a agir sob suas próprias regras.

Mas uma das  mulheres que mais admiro e queria homenagear é uma poetisa, considerada uma das principais escritoras brasileiras, Cora Coralina. Ela era doceira, uma senhorinha linda com muito pra contar, com poesias lindas! Uma mulher simples que através da palavra dá lições de vida contando o cotidiano simples das cidades do interior. Cora Coralina é um exemplo pra mim que espero um dia escrever um livro, pois sua primeira publicação foi feita quando ela estava com 76 anos.
Somos muitas mulheres neste mundão de meu Deus, que temos muita força para conquistar tudo o que merecemos. Enquanto vou escrevendo vou lembrando de outros nomes tão importantes como: Indira Gandhi, Zélia Gatai, Simone de Beauvoir, Cristina de Kirchner, Dilma Roussef, entre tantas outras. Como diz a música "sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher", mas antes de mais nada somos cidadãs. Lutamos por nós e lutamos por um mundo melhor e sem preconceitos.
Encerro a série Mulheres de fibra deste ano com o poema:


Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.

Nasci numa rebaixa de serra
Entre serras e morros.
“Longe de todos os lugares”.
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.

Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.

Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentro
da imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.

Numa ânsia de vida eu abria
O vôo nas asas impossíveis
do sonho.

Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia caída e a república
que se instalava.

Todo o ranço do passado era presente.
A brutalidade, a incompreensão, a ignorância, o carrancismo.
Os castigos corporais.
Nas casas. Nas escolas.
Nos quartéis e nas roças.
A criança não tinha vez,
Os adultos eram sádicos
aplicavam castigos humilhantes.

Tive uma velha mestra que já
havia ensinado uma geração
antes da minha.
Os métodos de ensino eram
antiquados e aprendi as letras
em livros superados de que
ninguém mais fala.

Nunca os algarismos me
entraram no entendimento.
De certo pela pobreza que marcaria
Para sempre minha vida.
Precisei pouco dos números.

Sendo eu mais doméstica do
que intelectual,
não escrevo jamais de forma
consciente e racionada, e sim
impelida por um impulso incontrolável.
Sendo assim, tenho a
consciência de ser autêntica.

Nasci para escrever, mas, o meio,
o tempo, as criaturas e fatores
outros, contra-marcaram minha vida.

Sou mais doceira e cozinheira
Do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes:
objetiva, concreta, jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.

Nunca recebi estímulos familiares para ser literata.
Sempre houve na família, senão uma
hostilidade, pelo menos uma reserva determinada
a essa minha tendência inata.
Talvez, por tudo isso e muito mais,
sinta dentro de mim, no fundo dos meus
reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo.
Sobrevivi, me recompondo aos
bocados, à dura compreensão dos
rígidos preconceitos do passado.

Preconceitos de classe.
Preconceitos de cor e de família.
Preconceitos econômicos.
Férreos preconceitos sociais.

A escola da vida me suplementou
as deficiências da escola primária
que outras o destino não me deu.

Foi assim que cheguei a este livro
Sem referências a mencionar.

Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.

Nem Menção Honrosa.
Nenhuma Láurea.

Apenas a autenticidade da minha
poesia arrancada aos pedaços
do fundo da minha sensibilidade,
e este anseio:
procuro superar todos os dias
Minha própria personalidade
renovada,
despedaçando dentro de mim
tudo que é velho e morto.

Luta, a palavra vibrante
que levanta os fracos
e determina os fortes.

Quem sentirá a Vida
destas páginas...
Gerações que hão de vir
de gerações que vão nascer.

(Meu Livro de Cordel, p.73 -76, 8°ed, 1998)