sexta-feira, junho 21, 2013

Massa de manobra

Lembro de forma clara a primeira vez que escutei a expressão "massa de manobra" foi depois de uma manifestação em frente a UPES (União Pelotense dos Estudantes Secundaristas) na época presidida pelo Flávio Souza (PMDB). Quem bradava que a Upes estava usando os estudantes como massa de manobra era o Gerônimo (não sei seu sobrenome, apenas que era estudante do Ginásio do Areal) que junto com outros estudantes havia organizado a manifestação contra aumento de passagens de ônibus, por meio passe para estudantes, mais atuação da Upes junto aos estudantes, pois segundo corria a boca pequena o presidente do órgão estudantil havia se conchavado com a prefeitura e ficado ao lado dos empresários do transporte e consequentemente contra os estudantes e o povo. Embora eu não soubesse o que significava a expressão "massa de manobra" compreendi no contexto geral do que veio após a manifestação.

Eu estava lá, não havia acontecido briga ou qualquer ato de vandalismo, mas no dia seguinte seguiam boatos de que os estudantes haviam quebrado portas e invadido a Upes e quebrado móveis. Na verdade fomos até a sede da união e o presidente não nos recebeu, gritamos, nos manifestamos e fomos embora. O tal quebra-quebra, se houve,  não foi promovido pelos estudantes e nunca teve um esclarecimento.
Depois disso fui atrás de saber o que tratava ser a tal "massa de manobra". Não havia google na época, nem internet. Tínhamos que descobrir na biblioteca, conversando com professores ou o pessoal do grêmio. Lá fui eu atrás de saber. Não lembro quem me explicou, mas em nenhum momento me senti parte da massa manobrável. Todo o tempo pensava no meu motivo para estar naquela mobilização, no motivo justo e claro. Eu não estava lá para apoiar possíveis conchavos Upes/prefeitura/empresário de ônibus. Estava lá justamente pelo contrário. Imaginem se hoje ainda estão abertas as feridas causadas pela ditadura, imaginem como não estava a cabeça dos estudantes pouco depois da abertura, antes do Collor?

Não participei do movimento "cara pintada"! Para alguns amigos que me tem como politizada isto será motivo de espanto, pr'aqueles que acham que eu tenho um pé no sistema reacionário uma confirmação, talvez. Não que eu aceite, concordo ou simpatizasse com o colorido, pelo contrário. Aliás, não consigo compreender como ele conseguiu um cargo de deputado apesar de tudo. O que pra mim é um indício de que outras formas de punir políticos devem ser pensadas. Mesmo sem participar ativamente, indo pras ruas vestindo preto (e isto sim foi bonito, porque foi como na música do Raul, "Como que se fosse combinado...") o pessoal estava lá e eu, trabalhando como office estava na fila do banco pagando contas. Senti-me participando, mesmo sem estar gritando ou marchando nas ruas. Não tinha a consciência política que tenho hoje, mas graças a minha ótima memória em relação a estas coisas que vi e vivi que formei minhas opiniões.

Tenho um sentimento dúbio em relação aos "caras pintadas" um é em torno da crítica que se faz a manipulação da Rede Globo que levou o povo para as ruas pedindo o impeachment do presidente, uma palavra aliás que quase ninguém tinha ouvido falar. E o orgulho que se tem de ter tirado o cara de lá mostrando que o povo tem poder. Fico dividida pensando sobre isto. E penso ainda mais quando as pessoas começam a questionar os rumos das atuais manifestações no Brasil.
Óbvio que percebo as pessoas que querem aproveitar-se do momento para incutir velhos preconceitos na pauta do Movimento Passe Livre. Não sou ingênua a ponto de acreditar que não há impostores infiltrados no movimento legítimo. Mas creio (e talvez, para alguns, eu esteja sendo muito otimista) que assim como eu e tantas outras pessoas quem participa das marchas sabem exatamente O PORQUÊ  estão na rua. Concordo que seja o momento de reunir o povo e unificar a pauta, esclarecer, especificar, para deixar ainda mais claro as coisas e destacar quem está destoando nesta manifestação.

Para mim, só o estranhamento que as pessoas estão tendo durante as mobilizações e estão relatando nas redes sociais já me parecem uma clara evidência de que o povo nas ruas não está inconsciente para servir de massa de manobra e os oportunistas estão sendo percebidos na multidão. A luta segue!

quinta-feira, junho 20, 2013

O livre pensar e a prática cotidiana

Quando a gente estuda sociologia e política percebe que alguns dos grandes pensadores não eram, efetivamente, pessoas trabalhadoras do povo. Eles tinham alguma forma de se sustentar que não era o trabalho cotidiano do operariado. Eles não precisavam pensar em como pagar o que comer, onde dormir ou coisa semelhante e isto lhes dava tempo para pensar nas necessidade de um bem maior que englobava outras pessoas em situações de miséria. Não me joguem pedras, não estou dizendo que eles eram vagabundos, ou vândalos. Tiveram e tem uma utilidade muito grande intelectualmente. Acontece que na prática do dia-a-dia não é muito fácil, aliás não é nada fácil, trabalhar, estudar, cuidar e sustentar família e buscar  formas de melhorar seus conhecimentos culturais. E ainda pensar, buscar alternativas para formar a sua própria opinião. O que não quer dizer, que um profissional do trabalho pesado não tenha capacidade de ter suas próprias opiniões.

Vejam bem, tanto o intelectual que leva sua vida em meio as pesquisas teóricas de como mudar o mundo, quanto o trabalhador cotidiano que vive o mundo são importantes e subestimar qualquer um dos dois é arrogância ou burrice. Na minha opinião adequar os discursos com a prática é importante.

A facilitadora do meu estudo de doutrina espírita sempre diz, "temos 24 horas, 8 horas pra trabalhar, 8 horas pra dormir e o que fazemos das outras 8h?" Eu ainda busco a resposta. Penso que temos os momentos de lazer, o tempo de deslocamento pro trabalho, o tempo que temos de reservar para a família e o tempo pra revisar os estudos. Chego a conclusão que temos de nos organizar melhor. No meio desta turbulência, já que o trabalho ocupa maior parte do dia, a rotina é uma ameaça constante. E pesada. E pode causar alienação. Mas não vamos generalizar.

Eu entendo quando as pessoas que trabalham pesado dizem que não estão muito a par do que tá acontecendo, que acham absurdo o quanto as coisas estão tendo os preços reajustados e o salário não dá até o fim do mês. Mas eles não podem discutir ou ir a uma manifestação porque eles tem que chegar em casa e ver os temas dos filhos, limpar a casa, lavar roupa, ou talvez estejam no trabalho, sabe? A pessoa talvez não tenha o tempo que eu tenho pra acessar redes sociais e outras formas de informação, então ela utiliza a televisão ou o rádio que estão ligados enquanto ela tá arrumando a cama ou preparando o almoço. É uma forma prática pra ela ficar sabendo do que tá acontecendo no mundo, sem parar o que tem que fazer todo santo dia. Provavelmente esta pessoa tá cuidando da sua casa e da sua família naquelas 8 horas restantes.

Não desmereço a luta dos intelectuais, mas não posso concordar com alguns que agem como se todos fossem ingênuos que não sabem distinguir as coisas. Aliás, alguns destes levam uma vida meio burguesa no meu ver, tem carro, filho em escola particular, viajam em todas as férias e coisas assim. Não que eu ache errado tudo isto, pelo contrário, desejo que todos os cidadão tivessem o mesmo. Mas ainda não é assim que funciona. As coisas melhoraram um pouco, mas ainda não está a maravilha que alguns apregoam. E justamente por o país ser muito grande os investimentos tem que ser muito grandes.

Eu me considero uma privilegiada porque não precisei parar de estudar para trabalhar e ajudar a sustentar a casa, o que aconteceu com meus pais. Estudei na escola pública e só cursei uma graduação superior em faculdade particular porque era noturno e eu podia trabalhar de dia. E trabalhei durante os cinco anos que cursei a faculdade. Quando precisava de médicos ia ao INAMPS. Meu meio mudou um pouco, já não moro mais na periferia, li alguns livros, conheci pessoas, mas minha raiz continua lá. Sigo convivendo com pessoas que precisam acordar de madrugada para tirar fichinha no posto de saúde, ou ficam horas no saguão do PS para receber atendimento. Assim como também convivo com pessoas que recebem bolsa família e graças a isto tem o que comer. E outras que jogam todo o bolsa família no bingo clandestino.
Meus sobrinhos estudam em escolas públicas. Quando a coisa é mais urgente pagamos uma consulta particular. Mas no geral, consultam no  posto. Pelo o fato de estar perto destas escolas, dos professores e da periferia sei que ainda tem muita coisa pra se fazer.

Concordo que muitas coisas foram feitas e repito, muito mais tem que ser feito. Questionar projetos de lei, atitudes, votações, posições do governo municipal, estadual e federal faz parte da democracia, ou me enganei? Discordar de determinadas coisas não me torna uma alienada direitista. Não quer dizer que quero derrubar a presidente por impeachment ou que nego tudo que de bom melhorou. Tampouco quer dizer que cai na conversa dos "direitosos". Acho sim que os governantes devem ajustar seus discursos as suas atitudes. E lamento se isto parece reacionário. Sou contra qualquer tipo de ditadura, seja de direita, seja de esquerda. E desculpa se pra alguém isto parecer que estou em cima do muro. Não estou. Estou do lado e estou na rua pelo direito de concordar ou discordar sem ser subestimada.


terça-feira, junho 18, 2013

Vândalos, baderneiros o foco da notícia

Um movimento apartidário que reúne milhares de pessoas em inúmeras cidades do país com reivindicações variadas toma as ruas e os noticiários do país. Mas na boa e velha mídia o foco de tudo resumi-se a *minoria* que vandalizou em algumas cidades. Sim sou contra a violência, mas temos de convir que numa manifestação com mais de 60 mil pessoas, ou cem mil, ou dez mil é inevitável que alguns problemas e contratempos ocorram. Vejamos uma manifestação pacífica, como por exemplo os abaixo assinados contra Renan Calheiros e Marco Feliciano, onde não foi quebrada nenhuma janela deu no que? Eles foram retirados dos cargos, não digo do eletivo, daquele através das urnas, mas digo o cargo negociado do Feliciano, por exemplo, na comissão dos direitos humanos. O cara continua lá tentando, na surdina, aprovar uma lei de cura gay. Como diria a personagem Felix... "pelas contas do rosário"!

A vontade do povo é expressa de forma clara quando assina um protesto como o abaixo assinado.  Mais de cem mil assinaturas tem que dizer alguma coisa da vontade do povo, mas os governantes levam em consideração isto? Os deputados, vereadores, senadores são julgados e condenados por corrupção renunciam para não serem cassados e na outra eleição estão candidatos novamente. "O povo  não sabe votar" é voz corrente e a gente diz vota em branco, vota nos nanicos e vem "os entendidos" e dizem que nada disso adianta, só coloca a "direita" no poder e enfraquece a esquerda. Aham! Tô careca de ouvir isto. Só que na prática com quem que a esquerda tá junto?

A governabilidade vale tanto e é tão inescrupulosa que permite que se negocie o cargo mais importante de uma comissão com um partido que dá o cargo pra pessoa que mais tem oprimido as minorias no país? E faz isto protegido por uma lei de imunidade parlamentar?! Desculpem-me os amigos petistas mas não dá pra ignorar Feliciano. Entre outros.

São muitas pautas de reivindicações, é verdade, mas discordo que enfraquecem o movimento esta multiplicidade. Quem esta na rua sabe porque esta. Não é um movimento despolitizado, é um movimento sem partido. E é muito diferente uma coisa da outra. Não é baderna, é luta e reivindicação. Mas os meios de comunicação tradicionais teimam em focar apenas o vandalismo. Há pouco tempo atrás os containers de lixo eram queimados todas as noites. Isto é vandalismo, mas não era manchete todo o dia. Paredes, fachadas e muros amanhecem pixados, isto é vandalismo, mas não é manchete todo dia. As imagens não são veiculadas a cada chamada do jornal. A repetição só acontece quando quase dez mil pessoas estão nas ruas reivindicando direitos.

Vi um comentário a pouco tempo no facebook dizendo que esta minoria causa descredito ao movimento e que os 9,5 mil manifestantes deveriam ter impedido a minoria de vandalizar. Concordo que descredibiliza, mas não concordo que os manifestantes deveriam impedir. Pois é pra isto que a polícia deve acompanhar as manifestações para conter os intrusos que usam as passeatas para atos criminosos. Mas a brigada não os impediu de quebrar vitrines, queimar e apedrejar ônibus e queimar lixeiras. Não estão aptos a combater manifestações violentas? Ou foram orientados a dispersar manifestantes pacíficos, como ocorreu nas passeatas anteriores, e depois da repercussão resolveu deixar a coisa correr livre. Parece não haver meio termo não é mesmo? Destacar que o movimento não tem liderança e que por isto não tinha quem contivesse os vândalos infiltrados não tem nada a ver. Até porque, quem estava próximo juntou o lixo espalhado no chão, gritou e vaiou a atitude violenta e depredativa.

Aquelas criaturas no meio dos protestos que quebraram vitrines, queimaram lixeiras, jogaram pedras e saquearam lojas ou comércios são pessoas sem caráter que atuam desta forma no seu dia-a-dia e só usaram o protesto  para meter a mão no alheio. Assim como aconteceu aqui em Pelotas de assaltantes arrumarem barcos para saquear as casas de pessoas atingidas pela enchente. Mau caratismo tem em todo lugar! O problema é que este recorte noticioso leva para a população menos atenta uma versão parcial dos fatos. Parcial e bem tendenciosa de que a manifestação era formada por vândalos.

A parte mais bonita que devia ser o destaque pouco apareceu na mídia. Sorte que atualmente todos podem ser agentes da notícia. Um celular na mão coloca várias versões do fato ao alcance de todos. Não sou do movimento "cansei", nem tenho medo como a Regina Duarte, mas me decepcionei com certos políticos sim. Não sou a favor do impeachment da presidente Dilma, mas espero que ela aja logo e mande esta corja que tá atrapalhando pra fora do governo dela.
As manifestações são legítimas e eu acredito na força do nosso povo. #VamoPraRua
revolucionar com nosso vinagre.

segunda-feira, junho 17, 2013

Democracia e repressão de manifestações

Aqueles que crêem na presidente Dilma me desculpem mas eu não consigo mais crer em qualquer coisa vinda dela ou do partido a que ela pertence, e isso já faz tempo. Na primeira coligação entre PT e PMDB "me caíram os butiás do bolso" como se diz por aqui. E o que mais me deixou decepcionada foi o fato de ambos os partidos, que foram um dia de esquerda com uma farta história de protesto e de luta junto ao povo, ter mudado completamente suas atitudes para com o povo. Lula e Dilma representavam uma grande esperança para este Brasilzão. Esperança de tempos mais democráticos, de uma visão mais igualitária, menos paternalista e demagógica. E o que a gente vê? Uma mobilização sem tamanho para adequar o país para os turistas que vem participar da copa e das olimpíadas. Cadê a mobilização para adequar o Brasil para os brasileiros?
Parece que não se deram conta de que a luta pela qual foram presos tornou o povo menos alienado. Hoje a gente obtém informações de vários ângulos, em vários níveis de profundidade, de veículos de comunicação, de blogs pros e contras e não mais apenas a versão oficial. Na hora da campanha política todos os candidatos orgulham-se de dizer que começaram suas atividades políticas junto aos grêmios, D.As e outras agremiações que juntavam as pessoas por um país melhor. Mas ao serem eleitos muitos deles se entorpecem com o poder e esquecem quem os elegeu voltando a realidade de quatro em quatro anos quando precisam novamente voltar aos locais mais variados para pedir votos. Ainda que a grande força da massa não tenha sido sentida nas urnas e criaturas como Sarney, Renan Calheiros e mais uma camarilha continuem sendo reeleitos o povo tem outros meios de mobilizar-se e se fazer ver.
Os últimos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus estão deixando bem claro o quanto as pessoas estão sabendo o que está acontecendo. São manifestações pacíficas sim, do contrário não restaria mais pedra sob pedra. Como em todos os meios existem sim aqueles que querem mais é ver o circo pegar fogo e incitam ao quebra-quebra. Ir para rua é atuação política, porque a política é exercida assim, no dia-a-dia. Todos somos seres políticos, embora tu não queira discutir ou mesmo votar não estás neutro, tem coisas com as quais tu concordas e outras não.
De tudo que tenho visto, o que mais me decepciona, sempre é a posição da presidente Dilma. Primeiro diante das reivindicações feitas direto a ela em relação a revisão da lei da Anistia. É uma decepção pra quem acreditou que ter sido presa e torturada faria com que ela fosse mais forte no seu posicionamento. Depois o fato da comissão da verdade e de direitos humanos estar nas mãos de pessoas que vão totalmente contra os ideais defendidos primeiramente. E mesmo que o povo promova abaixo assinado e se manifeste pacificamente deixando claro seu desgosto para com certos políticos, eles ignoram totalmente a vontade dos eleitores e mantém as criaturas lá, mesmo com provas contundes e cabais de que seu lugar é o xadrez.
Como acreditar numa presidente "socialista" que não está próxima do povo? Desculpem-me, mais uma vez aqueles que crêem nela, mas é tanta mudança na mesma pessoa que ela nem parece a mesma de algum tempo atrás. E não digo só a aparência física, mas a postura política mesmo.
O país é muito grande e os investimentos para que as coisas aconteçam devem ser muito grandes também. O povo jamais vai entender como que existem milhões de reais (ou dólares, ou euros) para investir em estádios e não tem para investir em saúde, segurança, transporte, educação. Como que pode ter dinheiro para enviar, doar, emprestar para adequações em outros países e não tem para investir aqui no nosso Brasil. Os brasileiros estão fazendo sua parte. Quem trabalha paga impostos, quem empreende também e o retorno cadê?
Ir para as ruas foi a demonstração de que não estamos de acordo com tudo não. Passamos uma procuração através do voto mas estamos acompanhando e exigimos respeito. Estamos dando continuidade ao que vários fizeram durante a ditadura militar e outras épocas de repressão. Não é por 0,20 centavos, é contra a corrupção, é por respeito, por cidadania é porque queremos um país melhor. É porque vivemos numa democracia e reprimir manifestações não me parece coisa de país democrático. No início vai ser complicado, algumas pessoas vão chegar tarde em casa, vai ter alguns engarrafamentos, outros se sentirão incomodados. E o objetivo é incomodar sim, é incomodar quem está no poder até que eles adeqüem seus discursos e suas promessas de campanha às suas atitudes. Não queremos políticos como FHC que disse esqueçam o que escrevi. Queremos políticos que digam eu sou o que vivi  lutei e não me esqueci.

quinta-feira, junho 06, 2013

Tantas coisas...

Faz bastante tempo que não escrevo aqui no imprensa, mas tem acontecido tanta coisa que me deixa triste que nem tenho vontade. Não que me falta indignação, não falta, mas penso que apenas externar minha opinião sem muita ação tem pouca valia. Começo comentando o caso dos protestos contra os cortes de árvores em Porto Alegre. Admiro muito a luta daquele povo, ainda que a mídia em geral tenha tratado a causa deles como uma coisa sem muita importância, caricaturando as pessoas que encabeçaram o movimento e dando uma enfase para os fatos como se a coisa toda não passasse de tempestade em copo d'água.
Em nenhum momento estes veículos questionaram os reais motivos de tamanho ataque da serra elétrica por conta do senhor prefeito Fortunatti. Cortar árvores para dar lugar a estacionamentos não me parece muito ecológico. Mas afinal de contas o que há por trás de tudo isto? O que sei, talvez equivocadamente, é que tais "obras" tem objetivo de preparar a capital para a famosa Copa das Confederações. Campeonato este que está custando muito caro para os cofres públicos e para os quais os governantes fazem vista grossa.

E assim, as verdadeiras necessidades de uma cidade vão sendo distorcidas. Os valores morais e éticos dão lugar aos valores materiais, quase esvaindo a esperança daquelas pessoas batalhadoras. Mas não conseguem aniquilar nossa fé não. Porque eu ainda creio que há mais bem do que mal.

Para completar tem as questões polêmicas sobre o tal do estatuto do nascituro, tem a violência contra mulher que tem sido manchete dia sim, dia não nos noticiários (e ainda tem gente que diz que não existe mais machismo) e tem a a verdadeira guerra que se declarou contra os povos indígenas. Tem a religião envolvendo-se diretamente nas proposições legais, e desta forma interferindo em políticas de prevenção de doenças.
A primeira vista parece que estamos de volta a um tempo funesto. Tempo em que índios não tinham alma, portanto sem direitos. Mulheres eram uma propriedade valiosa entre tantas posses de seus senhores. Nem vou tocar nas questões religiosas tão em voga ultimamente, mas gostaria que refletissem a respeito disto.

Parece tão distante não é mesmo? Mas os índios estão sendo mortos hoje enquanto lutam para garantir a sua terra, seu direito de seguir sendo índio. Não é a questão de super proteger um silvícola, que sem alma, sem cultura, sem conhecimento (como previa a legislação) não pode responder por si. Assim como nós, nas cidades evoluímos eles também e temos de adequar a legislação. Mas, como? Se defender alguns pontos de vista referente a igualdade entre os povos e as pessoas é visto como um golpe comunista, e de comunistas da mais vil espécie, aqueles que comem criancinhas.
Posso estar falando besteira é verdade, mas é assim que eu tenho percebido as coisas. Muita intolerância.

Fonte: Imagens do google

quarta-feira, abril 24, 2013

Justiça e Direitos Humanos

Não sou uma conhecedora das questões do direito. Como outras pessoas compartilho a ideia de que, de nada adianta ter leis e sanções se não houver fiscalização e aplicação das mesmas. Mas a necessidade das leis existe pois não temos a evolução moral que as tornariam supérfluas. Geralmente quando acontece algum caso que comove uma cidade, ou até o país, todos querem a aplicação imediata da lei, a pena, a condenação e o cárcere para o culpado o quanto antes. Estes casos que comovem o mundo são sempre bem repercutidos e tem como vítimas uma pessoa inocente, muita das vezes bonita, jovem e de classe média. Talvez, infelizmente tenhamos nos habituado a aceitar de forma melhor as mortes nas periferias. Afinal são séculos e séculos aonde os mais pobres morrem de doença e morte matada, desde as mais remotas épocas da antiguidade, não só aqui nas senzalas do nosso querido Brasil, mas mundo afora.
Estas mortes prematuras são fruto da violência desenfreada, da miséria, da gritante diferença entre ricos e pobres, da banalização e da ideia de quê "não dá nada matar". E quando acontece queremos Justiça, clamamos por ela e nos indignamos de como as pessoas podem agir assim contra seu semelhante. Muitos começam a falar que a humanidade não tem jeito, que o mundo esta perdido e por aí. Outros reclamam que só quem tem proteção é o bandido, que depois de agir de forma vil é protegido pelos direitos humanos. Apoio totalmente a indignação, assim como apoio que a legislação criminal deve ser mudada. Mas o que a vítima de violência necessita é de JUSTIÇA. É a lei que deve ser aplicada no seu rigor, direitos humanos são pra casos de violação de direitos... humanos, cárcere, escravidão, tortura. É pra quando o Estado, ou os dirigentes, ou pessoas com muito poder atuam contra os direitos constitucionais das pessoas. Pra estes casos clama-se aos direitos humanos. "Ah! Mas os bandidos tem!". Tem, como todos nós temos. Pois os bandidos quando encarcerados em presídios estão sob guarda do Estado.
O caso do massacre do Carandirú tem sido notícia ultimamente, por conta do julgamento dos responsáveis pelas mortes no presídio. Passaram-se 21 anos, alguns dos acusados já morreram e as penas, que passam de cem anos de reclusão, sabemos não chegarão a ser cumpridas, visto que com um terço delas já se pode sair em liberdade.
A mim também parece que não há justiça, que os culpados não pagam sua dívida, são depositados nos presídios feito porcos nas encerras, num sistema prisional que não recupera ninguém. Não é hipocrisia, a  indignação fazem parte do meu ser e fico muitíssimo revoltada com casos de violência, pedofilia, exploração de menores, tráfico e coisas do tipo. Mas não creio que diminuir a maior idade penal vá resolver a situação da violência. Serão apenas mais homens e mulheres com menos idade dentro de um presídio. Antes de diminuir a maior idade penal seria necessário modificar a legislação e a forma de "tentar" recuperar pessoas que cometeram crimes. Já diz um ditado popular que "mente vazia é oficina do capeta". Seguindo esta linha o mais importante em primeiro momento seria colocar o estudo e o trabalho como meio de recuperação desde as "fases" e aplicando-se também aos presídios. A reclusão por si só é uma forma de punição, mas não faz  com que a maioria dos culpados pensem ou corrijam seus crimes.  Ficar anos preso sem ter nenhum aprendizado real, além das maldades ou da própria criminalidade que se propaga muitas vezes nestes espaços de reclusão, não devolverá para a sociedade alguém ressocializado. Pode devolver alguém que "pagou" sua dívida, mas não alguém "recuperado".
É sabido, embora pouquíssimo trabalhado, que a mudança real para a criminalidade passa pela  verdadeira melhoria na educação, saúde, remuneração trabalhista e segurança. Também é preciso responsabilizar e punir políticos corruptos e assemelhados. Mas a questão é complexa visto que quem poderia atuar para esta mudança é justamente aquele que desvia dinheiro de causas sociais. A impunidade dos grandes corruptos faz com que a maioria das pessoas deixe de acreditar na justiça. Sei que existem pessoas do bem (muito mais do que aquelas do mal) que atuam de forma independente em projetos sociais na busca de amenizar os problemas que acabam na violência. Devemos dar voz a estes cidadãos. Como dizia Gandhi "seja a mudança que você quer ver no mundo".

Fotos google imagens.

quinta-feira, abril 04, 2013

Religião não se discute

A religiosidade e a sua expressão, seja em forma de culto ou de um simples pensamento, é um direito assegurado pela constituição federal no Brasil, que se diz um estado laico. Sabe-se que numa época atrás algumas manifestações religiosas eram  proibidas. Mas hoje existe liberdade para que as pessoas creiam no que mais lhe agrada o coração. No entanto ainda falta respeito a escolha alheia. Desde criança eu nunca gostei ou frequentei igrejas, sejam elas católicas ou evangélicas. Minha mãe me permitiu fazer a escolha que se adequava a mim. Batizou-me, depois de ter que confrontar o falecido padre Schramm sobre o merecimento de uma criança em receber um sacramento ou não pelo fato de  os pais não serem casados. Ou seja, "pais pecadores" filhos pecadores por tabela!
Eu disse a ela que não precisava nada disso, mas ela acreditava que, talvez um dia eu pudesse querer casar e como tal deveria ter os "santos sacramentos". Por outro lado ela mesma não se diz católica, na juventude frequentou a igreja, mas só naquela época e é bem provável que a recusa inicial em me batizar tenha sido um dos motivos do seu afastamento.
Eu respeito os dogmas da igreja, embora não concorde com eles. Argumento sim que, em muitos casos não há lógica em certas coisas. Mas não tem lógica pra mim, pra tantas outras pessoas tem. Assim como os evangélicos seguem a lei mosaica e interpretam a bíblia a seu modo. Eu respeito a opção deles. Mas não concordo nenhum pouco como a maioria das igrejas evangélicas, pois elas se dizem perseguidas mas quem impede, julga, aponta e desrespeita a individualidade dos outros são eles querendo impor a sua verdade. Discordo da forma como ser cristão é interpretado por certos seguimentos, principalmente por dizerem que seguem Jesus e fazem tudo completamente diferente do que ele pregou. Com certeza alguém há de questionar  se Jesus realmente existiu. O importante é que a sua mensagem de  amor.
O que a gente vê por aí a fora, são pessoas falando em Jesus e apontando os erros alheios sem jamais olhar para os seus. Foi Jesus quem disse "jogue a primeira pedra aquele que não tiver pecado!" E convenhamos, é preciso muita soberba (um dos pecados capitais) pra se crer sem pecados né? É fácil interpretar a ira de Deus para os outros e a condescendência consigo.
Devemos nos mirar em pessoas que pregaram o amor, a paz e a caridade como Jesus, Gandhi, Madre Tereza, Chico Xavier. Tirando Jesus Cristo, que não teve e nem pregou religião nenhuma, todos os outros tinham a sua. E dentro da sua religiosidade pregaram o amor e praticaram a caridade e o bem. Estes praticaram os mandamentos de Jesus "amaram Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos". Um budista  (Gandhi), uma católica (Madre Tereza de Calcutá) e um espírita (Chico Xavier).
Mas quais exemplos evangélicos que temos deste tipo de amor? Dizem que "amam o pecador e não o pecado", mas isto é uma falácia, porque só esta forma de se referir ao outro como "pecador" já é uma forma de discriminar.  Amar é respeitar o outro na sua individualidade e diferenças. Ninguém precisa ser igual ao outro, mas tem sim que respeitar. Eu respondo por mim, eu preciso corrigir a mim mesmo e só a mim posso modificar.
A gente costuma dizer que religião não se discute e eu bem concordo com isto em parte. Não devemos discutir no sentido de brigar, mas devemos debater sim para conhecer a religião que professamos. Acatar o que diz um líder religioso sem pensar por si de forma cega é fanatismo. E o fanatismo não é um bom conselheiro.

sexta-feira, março 08, 2013

8 de março dia de luta!

Hoje é dia 08 de março dia internacional da mulher, dia internacional de luta! Depois de tanto tempo, há quem diga que a luta feminista já não tem mais razão de ser. No entanto, o nível de violência contra a mulher segue altíssimo. Tem toda a ladainha de que a mulher que é agredida e segue ao lado do agressor é porque gosta e toda sorte de impropérios que saem boca afora de todos aqueles que foram condicionados a viver num mundo machista.
Proponho que façamos um breve levantamento próximo de nós. Vamos fazer uma análise rápida da vida das mulheres que estão próximas de nós. Não vamos levar para esta análise nenhuma ideia ou juízo de valor, vamos apenas observar quem são estas mulheres, como vivem e como são analisadas por nós e pela sociedade. Sim, comece pela vizinha chamada de periguete, faça de conta que não tem nenhum sentimento em relação a ela. Como ela vive, sozinha, com a família? Ela trabalha? O que faz as pessoas a julgarem uma periguete as roupas que usa, sua liberdade de se relacionar sexualmente, ou é sua coragem de ser quem realmente é sem submeter aos padrões impostos pela sociedade?

Observe estas mulheres e atente, principalmente, para a forma como as pessoas agem com elas, o que falam por trás. Talvez tu te surpreendas em perceber que esta mulher apenas tá exercendo o seu direito de ser livre.
A mim também parecia absurdo mulheres se submetendo a toda sorte de violência por medo. Calar pra mim nunca foi estratégia de defesa. E tenho que pagar o preço muitas vezes. Porque "quando uma mulher avança nenhum homem retrocede". No entanto, conheço muitas mulheres que se sentem envergonhadas pela violência que sofrem e sabendo que serão colocadas como culpadas ao invés de vítimas preferem calar para não serem ainda mais humilhadas. No meu ciclo de amizade sei de pelo menos três mulheres que sofreram algum tipo de violência, da agressão física a psicológica. Tenho uma amiga que terminou um namoro e era seguida pelo ex, chegou a ameaça-la e só ficou livre dele quando o pai dela interviu no mesmo tom de ameaça, lembrando ao agressor que ele também tinha família.
Outra por pouco não perde o bebê que esperava devido a agressão sofrida enquanto estava grávida. O nenê nasceu prematuro e pode ter sequelas. Uma outra sofre pressão psicológica e agressão verbal, xingamentos de todo o tipo.
Nossa luta não se tornou obsoleta. O machismo está aí batendo na nossa cara todo dia, através daqueles machões que acham que dizer piadinha para uma mulher sozinha a noite não é violência, é só um elogio, é só uma brincadeira. Pr'aqueles que acham que se esfregar numa mulher no ônibus é só uma consequência do péssimo transporte público e já que temos que usá-lo "vamos aproveitar pra tirar uma casquinha"! Estas coisas continuam acontecendo, com todas as mulheres. Acontece com a periguete e com a crente.
É por isto que o dia 08 de março é um dia de comemorar, mas também é um dia de luta, de lembrar que precisamos e exigimos respeito todos os dias, pois somos mulheres todos os dias!

Fotos Google imagens

terça-feira, fevereiro 26, 2013

Renúncia do Papa

Não entendo nada da religião católica. Nada de dogmas e estas coisas. Li uma reportagem onde dizia que o Papa Bento XVI havia recebido, lá em 2010, um dossiê com denúncias de casos de homo afetividade (sou politicamente correta), prostituição e desvios de dinheiro dentro do Vaticano. É no Vaticano, a casa do papa. Além disso tem todas as várias denúncias de pedofilia contra alguns padres. Sabemos que os dogmas seculares da igreja não vão mudar de um dia para o outro, no entanto é papel do Papa posicionar-se diante das denúncias. Óbvio que não perdoando os "pecadores", mas encarando de frente estas questões.
Creio que o primeiro ponto deveria ser tirar os padres dos pedestais e colocá-los junto com todos os outros cidadãos. Padre não é, nem nunca foi, homem santo. Isto nem existe, prova disto são as denúncias reais de abuso de poder, porque ser padre dá algum poder sobre os fiéis. E não é papel do pároco tirar proveito de suas "ovelhas", mas sim orientar, auxiliar.
Outro ponto que me pareceria interessante é, ao invés de perdoar, agir com os padres pedófilos com o mesmo rigor que agem com casais divorciados, com homo afetivos ou em outras tantas situações em que a igreja e os padres tratam os envolvidos como se fossem o próprio capeta em forma de gente. No caso de  padre pedófilo a punição deveria ser a excomunhão. Explico porque digo isto. Não que eu acredite ou tema a excomunhão. Na verdade não acredito nem tenho medo, porque sei que esta é uma decisão tomada por um homem, de um ponto de vista apenas, que não representa a opinião de Deus. Não sou católica, creio no perdão, mas entendo (posso tá errada) que a maioria das pessoas esperavam que o Papa fizesse isso. Mas ele não fez nada disso e deixou as coisas quietas, como se nada tivesse acontecido.
É que espera-se da religião a mesma decência que esta mesma religião coloca nos dogmas que professa. Espera-se que os padres, ministros, bispos, papa sigam estes dogmas com mais rigor do que o fiel que frequenta a igreja.
Está certo que o pontífice é um homem de idade avançada e atualmente cheio de problemas de saúde. Mas há dois anos ele teve esta "revelação" e ficou refletindo, sem encontrar uma solução. A batata quente foi passada para o próximo papa, que será escolhido num conclave em março. Com certeza não haverá a comoção do último, em que se escolheu o sucessor de João Paulo II. A carga que o novo papa terá de encarar não vai ser fácil, mas grandes poderes trazem grandes responsabilidades.

quarta-feira, fevereiro 06, 2013

A fé que cura e a fé que mata


Sou uma pessoa de fé. Acredito em Deus. Sou espírita, freqüento o centro, tomo passe, oro e faço o evangelho no lar. Tenho uma i finidade de defeitos. Mas tento guiar minhas atitudes dentro dos ensinamentos de Jesus Cristo, que foi um homem como nós, em carne, só que muito mais evoluído espiritualmente que qualquer outro ser encarnado e muito mais do que qualquer cristão poderia descrever. Principalmente certos cristãos que crêem estar acima do bem e do mal.

Tenho plena consciência de que a fé ajuda na cura de doenças. Inclusive há estudos sobre a relação cura e fé. Mas compreendam bem, não sejam tolos ou arrogantes de imaginar que serão curados sem fazer um tratamento físico. A fé auxilia na cura, porque parte do tratamento é espiritual. O corpo tem que ser tratado com o medicamento, com a cirurgia, com o soro, com a injeção, com o curativo. Conheço pessoas religiosas que tiveram doenças graves que se curaram bem mais rapidamente da sua enfermidade por crer em algo maior. Seja lá o nome que se queira dar. Enquanto outras fizeram o tratamento, curaram-se com um pouco mais de vagar por não ter uma fé. E conheço pessoas que estão morrendo em sofrimentos medonhos por serem orientados a não tratarem seu físico e ficarem apenas com a fé.

Sei que algus vão dizer, são fanáticos que morram estão escolhendo isto, nada mais natural. Mas tenhamos compaixão, empatia. Alguém que recebe o diagnostico de um câncer maligno (ainda que hoje existam tratamentos eficientes) ou um exame de HIV em que descobre ser portador do vírus sente-se como se houvesse recebido uma sentença de morte. No primeiro momento se sentirão abandonados, revoltados, perdidos. Irão buscar além do tratamento médico tudo e qualquer tipo de cura alternativa que lhe oferecerem. É muito difícil manter o equilíbrio sabendo a barra que tem de enfrentar no tratamento de tais doenças. Então as pessoas vão buscar na igreja, na umbanda, na benzedeira um conforto pra sua alma. Não podemos julgá-las. Elas estão sofrendo. Estão desesperadas.

Mas o padre, o pai de santo, a benzedeira, o rabino, o pastor tem que saber que tem grande responsabilidade junto daquela pessoa. Suas palavras serão regras, serão ordens praquele ser que busca sarar seus males. E eles devem ser responsabilizados criminalmente, se preciso for, ao orientarem alguém a largar o tratamento médico. Mandar alguém não fazer um tratamento é assassinato, porque aquela pessoa não quer morrer, ela esta buscando algo que a conforte e ajude em momento tão difícil.
Pastores que orientam seus fiéis a não se tratarem devem responder criminalmente. Pois não é assim que o médico responde por um erro ou por negar atendimento?

Estou vivendo a perda do meu sobrinho de 24 anos, com toda a vida pela frente. Ele foi diagnosticado com um sarcoma maligno no braço esquerdo e foi orientado por seis médicos a amputar o braço, pois desta forma tinha 79% de chance de cura. Ele morreu esperando um milagre que lhe venderam. Eu digo que ele foi assassinado, pois o pastor, mentor espiritual dele disse que ele não deveria fazer a cirurgia, que os médicos queriam mutilá-lo. Aliás, esta criatura que se diz servo de Deus, disse em alto e bom tom que (vejam se não é caso de polícia) “mesmo que Deus lhe dissesse que o Igor deveria fazer a cirurgia ele não diria”. Foram as palavras dele, dentro de uma sala cheia de testemunhas. E o Igor me disse que se Deus o orientasse a fazer a cirurgia ele faria. Mas não adiantou dizer que era o que Ele queria. Não adiantou que outras várias pessoas que o amavam lhe dissessem. Ele precisava ouvir da boca do pastor, que se negou a dizer mesmo quando a mãe do Igor implorou que ele dissesse.

Este pastor de meia pataca agiu da maneira mais vil e cruel, de maneira que pessoas de bem nem conseguem imaginar tamanha crueldade e mesquinhez. Ele via o guri com dores horríveis e dizia que ele não devia tomar os remédios pra não se “viciar”. Fez com que meu sobrinho passasse vários meses com dores terríveis, agüentando no osso do peito as dores lancinantes, que ele corajosamente chamava “desconforto”. Mesmo nos últimos dias, já com metástase nos pulmões e em outros órgãos o Igor tinha medo de tomar morfina e enfraquecer o coração ou se viciar. Porque ele esperava o milagre que o pastor lhe prometera. A cura, a reconstituição do braço e suas carnes necrosadas. O milagre para o qual se preparara batizando-se, deixando de sair com os amigos de sua idade, indo de casa para a igreja e da igreja pra casa sem um divertimento. E quando ele se deixava levar pelo espírito juvenil e ia a um baile os seguidores do tal pastor e o próprio diziam que ele estava se desviando. Levando-o a crer que não recebera o milagre ainda por sua conduta. Como se Deus fosse um tirano torturador, que só julga e cobra.  O pastor falava ao Igor que ele não podia ficar deitado, que tinha que se forçar e caminhar, mesmo que o corpo não tivesse forças pra isto. Mesmo que se esvaísse o pouco de vitalidade que lhe restava. O pastor deu contra sempre! Foi contra todas as indicações médicas, chegando ao ponto de dizer, quando um dos médicos sugeriu tratamento psicológico, que “psicólogo é pra louco!”.

E nós, que tanto brigamos, argumentamos, amamos o Igor pedindo que ele fizesse a cirurgia não tivemos o crédito que o pastor assassino teve. E assim como este homem teve coragem de orientar um jovem do seu próprio sangue, a não tratar sua enfermidade grave, ele deve orientar outras pessoas com doenças tão graves quanto a dele, sempre pedindo dízimo, sempre estendendo a mão para pegar o dinheiro daquele que nele crê. Sem dar ao próximo um pingo de compaixão. Este sujeito é tão cara de pau que cobra até para fazer uma oração. Vejam se é coisa de quem diz seguir os mandamentos de Jesus? Ninguém precisa acreditar em Deus ou em Jesus para enxergar a desumanidade e a crueldade que é usar algo em que uma pessoa acredita e a que ela se agarrou como tábua de salvação para tirar dinheiro dela.

Não tenho a intenção de abalar a fé ou a crença de ninguém. Como disse no início do texto eu tenho fé, creio em Deus e não quero que ninguém deixe de crer. Minha intenção e a da minha família, principalmente da minha irmã, mãe do Igor, é alertar outras pessoas para que não caiam em ciladas da fé. Creiam, mas não se ceguem! O guia espiritual, seja da religião que for, é um homem igual a gente com as mesmas possíveis qualidades e os possíveis defeitos. Não há perfeição aqui. Pratiquem sua fé, mas respeitem os outros. As pessoas que freqüentam as igrejas e templos não podem ser taxadas de pessoas ruins porque há dirigentes que são mau caráter. Os seguidores de uma crença estão ali pelo que crêem, estão em busca de uma comunhão com Deus, errados são aqueles que usam disto para obter lucro. Dizem estes senhores que seguem Jesus, mas vendem seus fiéis tal qual fez Judas, dando inclusive o beijo da traição na face.

A história pode ser ainda mais triste e macabra. Mas por enquanto vou parando por aqui. Espero que este pastor assassino, porque ele cometeu um assassinato sim orientando meu sobrinho a não tratar-se, tenha consciência e que sua consciência doa e o faça pensar no erro tremendo que o cometeu.

Sei que o Igor está sendo auxiliado no astral, que recebe, embora não acredite, o auxilio que precisa da espiritualidade. Peço a todos que orem pedindo luz pra ele. Pedindo força pros pais dele e pra toda a família. Solicito que compartilhem, comentem, alertem as pessoas de suas relações quanto a esta história. Ela é real embora pareça um romance. É a vida imitando a arte ou a arte imitando a vida.