Um povo com a extinção decretada. Com certeza isto vem ocorrendo por inúmeros motivos. Desde que o europeu, o homem branco, chegou aqui a questão étnica foi mudando. Mudando de figura literalmente, misturando as cores, os traços e a cultura. Sempre fico muito inquieta quando alguém me diz que é meio italiano, meio francês. Ou como diziam numa cidadezinha que morei, inclusive com percentuais de cada uma das suas origens europeias. Além dos que tinham a pele negra ou o cabelo grosso do índio, apenas eu me dizia descendente de afros e indígenas. E sempre era duvidada! Nunca aceitavam que nas minhas veias corressem sangue negro ou índio, quando minha pele era branca, meus olhos claros, meu cabelo "bom" e alourado.
A minha paciência quase sempre era testada nestes casos. E então eu dizia, desde que Cabral "estacionou" suas caravelas aqui no nosso imenso Brasil, na época terra de Vera Cruz, não existe mais branco, índio, ou negro, existem brasileiros, frutos de muita mistura, que impede que uma origem específica possa ser definida. Talvez através de pesquisas genéticas, como já vimos testes em programas de TV, possa determinar quanto de cada origem existe dentro de nós, demonstrando cientificamente que a mistura é grande, visto que a pessoa pode ter fisicamente todas as características europeias e o DNA 50% indígena. Ou como o caso do cantor seu Jorge, que todos conhecemos, que tem DNA europeu. Minha própria família é uma demonstração da misturança total que somos no país.
Mas a extinção de que falei lá no início não tem a ver com o surgimento de uma etnia brasileira, onde todas as outras se fundiram e foi isso. A extinção do povo que falo é grave e cruel, passa pela violência e o assassinato de homens, mulheres e crianças. É genocídio, extermínio de gente por causa de terra. E ao contrário do que se pensa não foram eles que invadiram terras alheias, fazendas produtivas ou áreas particulares. Eles foram retirados das suas casas, quem resistiu morreu. Atualmente são 170 índios Guarani Kaiowá que resistem no local onde fora suas terras e que hoje são "protegidas" por pistoleiros armados jagunços, digo funcionários de empresários do agronegócio. Quem está assistindo a novela Gabriela deve perceber a semelhança que existe entre os coronéis da Ilhéus da década de 20 e certos latifundiários atuais. Quem leu o livro consegue enxergar a história daquela época de "desbravamento" do país com o momento em que as aldeias indígenas estão sendo massacradas.
É difícil defender gente. Muito mais fácil é defender animais, pois eles podem ser condicionados aos nossos hábitos, aos nossos interesses. Gente não. Gente tem vontade própria, livre arbítrio, razão, sensibilidade, forma de pensar diferente da gente. É por isso que tem tanta gente por aí dizendo que prefere os animais às pessoas. Claro que sim, o animal me aceita como eu sou e se há nele algo que eu não aceite posso treiná-lo para que fique justinho como eu quero. Com as pessoas não dá pra fazer isto. Elas são imprevisíveis! Parecem boas, olha os índios, trocaram suas terras lá em 1500 por espelhinhos e quinquilharias e agora reclamam que estão sem ter aonde viver.
Então eu olho o mapa do Brasil e vejo tanta terra, tanto espaço pra tanta gente... Será mesmo que só dá pra produzir soja e criar gado naquele lugar aonde os índios moram? É justo tirar aqueles que vivem em harmonia com a natureza de lá? Estes 170 homens, mulheres e crianças da tribo Guarani Kaiowá estão ameaçando suicídio coletivo se a decisão de os retirar de lá for mantida. Se a decisão for mantida não será suicídio, será assassinato!
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