terça-feira, outubro 30, 2012

Vida de eleitora

Eu gosto de política. É, ao contrário do que as pessoas, a maioria diz, eu gosto sim. E, apenas nisso, concordo com o prefeito eleito Eduardo Leite, política não tem a ver com sujeira, nem corrupção, nem safadeza, nem um monte de atribuições que se dá a ela, justamente por que a forma e as pessoas erradas estão fazendo parte da nossa política há tantos e tantos anos. Tenho uma memória em relação a política que me surpreende muitíssimo algumas vezes.
A primeira eleição de que tenho lembrança é a de 1989. Nesta época eu tinha 12 anos, devia estar na sexta série. Desde aquela época não compartilho do mesmo candidato que meu pai. Democracia é isto! Embora algumas vezes a gente até tenha votado no mesmo candidato, isto não aconteceu na maioria das vezes.
Não sei se minha lembrança em relação a esta eleição é tão boa pela repercussão ou se foi o fato de, dentro do colégio inclusive, ter tido tantos debates ou se foi realmente o fato histórico de ser a primeira eleição presidencial depois de tantos anos de ditadura militar. Eu realmente não sabia quem eram aqueles candidatos todos, e não tinha internet pra gente pesquisar e saber todos os detalhes daquele povo lá de longe. A gente contava em saber das coisas através da televisão, da boa e velha mídia brasileira. Triste é saber que (praticamente) a única fonte de informação era uma velha conhecida da ditadura, aliada dos generais e que sempre colocou seus interesses capitalistas antes de qualquer coisa. Mas eu era uma criança.
É possível que alguns amigos se decepcionem com a trajetória! Desde já destaco que mudei minhas opiniões em relação a muita coisa daquele tempo e... sempre posso mudar mais.
Eram tantos candidatos! Foram 22 concorrentes, sendo que alguns eram bem conhecidos, outros nunca havia ouvido falar e outros ainda ficaram marcados para sempre na lembrança, caso do Enéas do PRONA. Meu candidato, ainda que não pudesse votar, nesta foi o Guilherme Afif Domingos. Não me perguntem porque! hahahaha Não tenho a mínima ideia! O Afif era do PL, não sei se continua...
Desta eleição lembro de vários debates, lembro dos programas de televisão. E como não sabia nada de nada, e, principalmente, por não conhecer aquelas pessoas que queriam governar o país imaginava da minha parte que eles mal se conheciam e que mal conheciam meu país e a mim, já que estavam tão longe. Foi então que me surpreendi com o Lula  dizendo ao Caiado que o cavalo branco dele pastava em campos alheios. Lembro bem de mim pensando: "Como é que ele sabe que o outro tem cavalo e quem alimenta são outras pessoas?" Ainda não entendia metáforas!
Também não entendia como as mulheres podiam se enlouquecer com o Collor, sendo que, na minha opinião o Caiado era mais bonito.
Lembro vivamente dos programas de humor que alfinetavam os candidatos e já denunciavam desde aquela época o caráter do Maluf. Também me inquietava a angústia dos candidatos em relação aos boatos da candidatura do Silvio Santos. (Aqui preciso fazer um parêntese, porque eu não conhecia o Silvio Santos! É, na vila aonde eu morava não pegava nenhum outro canal que não fosse a Globo, repetida pela RBS. Até tinha a Band, que pegava mal pra caramba. Manchete e outros só se ouvia falar, que nem o caviar!) E não me saia da cabeça a musiquinha que perguntava aonde estava o Naji Nahas e a ligação que se fazia com o Maluf. Acho que eram muitas coisas pra uma guria de 12 anos, sem muitas fontes de pesquisa. Confesso que desde aquela época tinha uma simpatia com os partidos de esquerda! hahaha Esqueçam o Afif! Parafraseando aquele outro.
É, gente, tenho salvação, gostava do Gabeira e do Bisol, vice do Lula. Tinha minhas desconfianças com o Maluf (pra completar ele solta a famosa frase "estupra mais não mata") e achava que o Ulysses estava passado demais pr'aquilo tudo! Sendo que tinha o pé atrás com o PMDB desde essa época.
Tenho muito respeito pelo Brizola, ainda que naquele tempo não soubesse de sua história.

Em 1994, aconteceu a segunda eleição presidencial de que tenho ideia e foi a primeira em que votei. Amigos queridos, perdoem-me eu não sabia o que fazia. Sim, por pura antipatia com Lula votei no FHC. Continuava a saber nada de política. Havia passado ao largo do movimento caras pintadas, porque realmente estava por fora de tudo que se tratasse de política. Mas algo dentro de mim já se manifestava contra este neoliberal, ainda que eu tenha votado nele. Tínhamos que escrever uma redação e o tema era as eleições. Aliás, foi o texto que me fez optar pelo jornalismo como carreira. Pena que não o tenho mais. Mas usei de muita ironia para falar das propostas de governo do "super FHC" e ganhei o maior elogio de toda minha vida. A professora de literatura e português disse que meu texto usava um recurso muito utilizado pelo Machado de Assis, a ironia.
Fiquei muito grata, porque além do elogio ela perguntou-me se já tinha escolhido a faculdade que ia fazer, eu disse que não, na verdade não tinha nem ideia. Embora nutrição, com toda a sua química, tenha passado pela minha mente. Então ela sugeriu o jornalismo. Devo a minha escolha a professora Rosani.

Então eu me redimi totalmente nas eleições 1998. Esta sim eu já tinha alguma ideia do que era a política. E quantas raposas velhas sempre vinham nesta época mascarando suas intenções. Então teve um voto de protesto no Dr. Enéas. Porque eu sou extremista mesmo e ainda que minhas escolhas pareçam totalmente loucas, no fundo tem coerência comigo mesma. Sim, votei no FHC contra o Lula por antipatia a este. Mas depois mudei de ideia. Já tinha me dado conta que FHC era ex-ministro de Itamar, que era vice do Collor, acusado de corrupção junto com um bando de gente. E pra mim, fica difícil livrar a cara de um vice assim. E desde este tempo as coligações me chamam muito atenção. Algumas vezes até mais que a ficha dos candidatos ou o curriculum. Sendo assim... Votei pela primeira vez no Lula, mais pelo Brizola do que pelo Lula. E contrariada de saber que um já havia falado muito mal do outro em eleições passadas.

Nas eleições presidenciais de 2002 já havia pesquisando um pouco sobre a ditadura militar e a censura. Já me considera bem de esquerda, se é que dá pra me chamar de esquerdista. hahaha  Votei no Lula com convicção desta vez. E olha gente, o vice do Lula era PL. (Eu disse que tinha coerência! hahaha) Em 2006 votei na Heloísa Helena no primeiro turno e no Lula, óbvio no segundo.
Nas últimas eleições... 2010 eu votei na Marina Silva e no segundo eu anulei meu voto porque não consigo ter o mínimo de simpatia, ou seria respeito?, pelo Michel Temer. Reconheço que o governo do partido dos trabalhadores tem méritos, mas me decepcionei com estas coisas de "vale tudo" para conseguir chegar a meta. Sim, entendo que existem e são necessárias muitas estratégias para se chegar a um objetivo, mas coerência e ética pra mim é fundamental.
É provável que para muitos minhas ideias sejam completamente absurdas, obtusas e sem a mínima coerência. Eu admito que ainda sei pouco de política, mas sei muito das necessidades do povo, sou povo. Não acho que o governo, seja em que instância for, é um laboratório para experiências. Só que são necessárias alguns testes para conhecermos o trabalho. Nisto acabamos votando em gente que nos decepciona. E como todo mundo, não gosto de me decepcionar e se isto acontece na política o cara não ganha mais meu voto. Não acredito mais nos bichos papões comunistas que comiam criancinhas, pelo contrário compactuo de muitas ideias e ideais propagados por eles. Mas reservo muito cuidado para aqueles que desde antes da ditadura militar já estavam no poder, e nunca mais saíram, ampliando para sua família, de maneira quase que hereditária, a vida política.
Várias decepções tive nesta minha vida eleitoral. Porque vi gente que defendia melhores salários para os trabalhadores votaram contra um aumento mais substancial para estes e a favor do reajuste do seu salário exorbitante como deputado federal ou estadual. Defendendo o seu aumento e dizendo que o aumento do mínimo vai "quebrar" o país. Para mim isto é motivo de não mais receber votos sim. E eu sei bem que um trabalhador custa "caro" para a empresa que o emprega. Mas políticos custam muito mais e para todos, inclusive pr'aquele trabalhador que recebe o mínimo, mas paga imposto sobre tudo.
Não confio em quem troca de partido vira e mexe. E desconfio mais ainda em quem fala em mudança fazendo tudo igual aqueles a quem condena.
A gente muda a cada dia. Eu mesma mudei muito. E ainda tenho muito que mudar! Escrevi tudo isto porque, nestas eleições municipais que se encerraram vi gente apontando dedo na cara de amigos e acusando pessoas como se não tivessem um passado. Como se não vivêssemos numa democracia aonde o voto é secreto e livre! E mais, como se depois de votar todas as responsabilidades fossem apenas daqueles eleitos. Somos todos seres políticos! Todos nós somos responsáveis pela melhoria e a mudança da nossa cidade.


Eleições 1989
Eleições 1994
Eleições 1998
Eleições 2002
Eleições 2006
Eleições 2010


sexta-feira, outubro 26, 2012

Lições básicas do que é ter preconceito

Algumas pessoas, ainda que diga coisas carregadas de preconceito, diz que não o tem. Pode ser que tu realmente estejas no caminho de extirpar o preconceito do teu modo de ser, no entanto, utilizar estas expressões preconceituosas em momentos de fúria e raiva demonstram que há raízes internas ainda vivas. É simples de saber se somos ou não gente com algum tipo de preconceito.
Vejamos um exemplo:
Tu vens no teu carro e um outro carro corta a tua frente. Qual teu primeiro pensamento em relação ao outro motorista se ele for: branco, homem-hétero, magro? Geralmente é: corno, filho da puta, viado, depois vem: cretino, barbeiro, etc, etc. Não sei ao certo, mas acho que pra um homem hétero ser corno é a pior coisa, pois é o primeiro xingamento que lhe atribuem.
Mudemos o motorista para uma mulher. Qual é a primeira expressão que vem a cabeça? "Tinha que ser mulher", "ô dona Maria volta pro tanque ou pro fogão", mulher é bucha e depois ainda querem nos chamar de machista?
Troquemos mais uma vez o condutor que corta tua frente, agora é um homem ou uma mulher gordo. O xingamento começa por gordo cretino?
Agora quem conduz o veículo que corta tua frente é negro, tua reação ao xingar é "criolo barbeiro", ou "negro imbecil"?
Faça o exercício mudando o condutor para a minoria/etnia/religião para com a qual tu imaginas não ter ou ter preconceito. É simples. Porque não é a cor da pessoa que a fará um bom ou um mau motorista. Se o xingamento começa pela etnia abra seu olho, é preconceito.
Relacionar pessoas más com sua religião, cor, gênero ou orientação sexual é demonstração de preconceito sim. Por que ser mau caráter não tem a ver com a cor da pele ou do olho, tem a ver só com o caráter mesmo. E mau caráter tem em todos os seguimentos.
Não é a religião, por exemplo, que é ruim e faz as pessoas fazerem coisas ruins, são pessoas não tão boas que estão naquela religião interpretando ou induzindo ao mal. E ao contrário do que alguns de nós, já descrentes pensa, não são maioria não.
Há dias penso neste tema, porque me choca muito saber que ainda tem gente que ofende e agride os outros e depois se desculpa dizendo "não sou preconceituoso tenho amigos negros"! Pra coisa ficar mais bizarra só falta completar dizendo "são tão boa gente que nem parecem negros"! Custa-me e dói muito saber que num país miscigenado como o nosso tenha quem crê ser mais "puro" que os outros. Como já disse, desvio de caráter existe bastante, mas não é porque dentro de uma etnia tem um mau caráter que todos sejam. Não é porque tem alguém que age fora da lei na tua família que tu também és um criminoso.
Reveja teus conceitos, a mudança começa por nós, em nós mesmos!

quarta-feira, outubro 24, 2012

"Todo dia era dia de Índio" #genocidioGuaraniKaiowá



Um povo com a extinção decretada. Com certeza isto vem ocorrendo por inúmeros motivos. Desde que o europeu, o homem branco, chegou aqui a questão étnica foi mudando. Mudando de figura literalmente, misturando as cores, os traços e a cultura. Sempre fico muito inquieta quando alguém me diz que é meio italiano, meio francês. Ou como diziam numa cidadezinha que morei, inclusive com percentuais de cada uma das suas origens europeias. Além dos que tinham a pele negra ou o cabelo grosso do índio, apenas eu me dizia descendente de afros e indígenas. E sempre era duvidada! Nunca aceitavam que nas minhas veias corressem sangue negro ou índio, quando minha pele era branca, meus olhos claros, meu cabelo "bom" e alourado. 
A minha paciência quase sempre era testada nestes casos. E então eu dizia, desde que Cabral "estacionou" suas caravelas aqui no nosso imenso Brasil, na época terra de Vera Cruz, não existe mais branco, índio, ou negro, existem brasileiros, frutos de muita mistura, que impede que uma origem específica possa ser definida. Talvez através de pesquisas genéticas, como já vimos testes em programas de TV, possa determinar quanto de cada origem existe dentro de nós, demonstrando cientificamente que a mistura é grande, visto que a pessoa pode ter fisicamente todas as características europeias e o DNA 50% indígena. Ou como o caso do cantor seu Jorge, que todos conhecemos, que tem DNA europeu. Minha própria família é uma demonstração da misturança total que somos no país. 
Mas a extinção de que falei lá no início não tem a ver com o surgimento de uma etnia brasileira, onde todas as outras se fundiram e foi isso. A extinção do povo que falo é grave e cruel, passa pela violência e o assassinato de homens, mulheres e crianças. É genocídio, extermínio de gente por causa de terra. E ao contrário do que se pensa não foram eles que invadiram terras alheias, fazendas produtivas ou áreas particulares. Eles foram retirados das suas casas, quem resistiu morreu. Atualmente são 170 índios Guarani Kaiowá que resistem no local onde fora suas terras e que hoje são "protegidas" por pistoleiros armados jagunços, digo funcionários de empresários do agronegócio. Quem está assistindo a novela Gabriela deve perceber a semelhança que existe entre os coronéis da Ilhéus da década de 20 e certos latifundiários atuais. Quem leu o livro consegue enxergar a história daquela época de "desbravamento" do país com o momento em que as aldeias indígenas estão sendo massacradas. 
É difícil defender gente. Muito mais fácil é defender animais, pois eles podem ser condicionados aos nossos hábitos, aos nossos interesses. Gente não. Gente tem vontade própria, livre arbítrio, razão, sensibilidade, forma de pensar diferente da gente. É por isso que tem tanta gente por aí dizendo que prefere os animais às pessoas. Claro que sim, o animal me aceita como eu sou e se há nele algo que eu não aceite posso treiná-lo para que fique justinho como eu quero. Com as pessoas não dá pra fazer isto. Elas são imprevisíveis! Parecem boas, olha os índios, trocaram suas terras lá em 1500 por espelhinhos e quinquilharias e agora reclamam que estão sem ter aonde viver. 
Então eu olho o mapa do Brasil e vejo tanta terra, tanto espaço pra tanta gente... Será mesmo que só dá pra produzir soja e criar gado naquele lugar aonde os índios moram? É justo tirar aqueles que vivem em harmonia com a natureza de lá? Estes 170 homens, mulheres e crianças da tribo Guarani Kaiowá estão ameaçando suicídio coletivo se a decisão de os retirar de lá for mantida. Se a decisão for mantida não será suicídio, será assassinato!

terça-feira, outubro 23, 2012

A mudança que queremos passa pelo respeito aos outros

O problema não é ser contra ou a favor. O problema é usar a foto de alguém que existe, tem opinião própria e personalidade suficiente pra dizer e fazer as coisas com coerência atribuindo a esta pessoa uma fala que nós queremos. Uma fala preconceituosa, que ouvimos, há décadas por aí ditas por quem não gosta ou é anti-PT. Usar a imagem do ministro Joaquim Barbosa com a frase que se gostaria (caso da foto ao lado) que ele falasse é colocar em sua boca palavras que ele, provavelmente, pelo que demonstra seu caráter, jamais diria. Principalmente porque seria incoerente e totalmente contrária a sua postura. O ministro como cidadão já declarou em entrevista ter votado no ex-presidente Lula (quem o nomeou ministro do STF) e na presidente Dilma.

O trabalho de Barbosa é coerente com sua postura e está sendo feito com isenção. O que muito me orgulha, mas deve parecer coisa de outro mundo para aqueles acostumados a velha prática do "tudo acaba em pizza".

Como já disse nas redes sociais não vou votar em nenhum dos dois candidatos aqui em Pelotas porque tanto uma coligação quanto a outra são sacanas e baseadas em interesses, na minha modesta opinião e votar em qualquer uma seria compactuar, concordar e ser incoerente com a minha postura, visto que não concordo e critico ferrenhamente este tipo de conchavo político.

No caso de realmente admirar o trabalho do primeiro ministro negro do STF, Joaquim Barbosa, vamos deixá-lo trabalhar e parar de associar sua imagem a frases que NÓS queríamos que ele dissesse. Ele tem caráter e personalidade suficiente pra assumir  o que quer e tem a dizer. Ninguém tem o direito de desrespeitar isso.

Admiramos a postura de Barbosa, pois bem o tomemos como exemplo para a nossa conduta diária. Deixemos o famoso "jeitinho" de lado e vamos assumir o jeitão franco e direto do ministro. Sejamos como ele francos e coerentes. Argumentemos bem o porquê de votar neste ou naquele candidato, mas não usemos a imagem alheia para validar nosso argumento. Falemos por nós e só por nós mesmos.

Imagem do Facebook