domingo, março 11, 2012

#Mulheres de Fibra

A série mulheres de fibra teria muita gente para colocar aqui. Nosso mundo ainda tem muito  o que  avançar nas conquistas femininas, mas há mulheres pelo mundo a fora que fazem toda a diferença, artistas plásticas, escritoras, ativistas, políticas e por aí a fora.
Quando comecei a série pensei em publicar um post sobre Margaret Tatcher pela lembrança que tenho de ouvir na "Dama de ferro". A impressão que tinha, quando criança, era do uso deste apelido de uma forma pejorativa, como se ela fosse uma mulher fria, calculista, capaz de qualquer coisa pela política inglesa. Lendo sobre sua biografia, e este ano tem o filme em que Tatcher é interpretada por Meryl Streep, vi que ela não era a pedra fria que eu imaginava ao ouvir o tal apelido. Não sei ao certo se concordo com sua ideologia, mas tenho respeito por esta mulher que era uma referência, uma das pessoas mais poderosas do mundo num período em que apenas os homens detinham o poder. Não conheço bem sua história, confesso e muitos podem descordar de mim, mas estar a frente do governo de um país por 11 anos na década de 80 não é pra qualquer um.

Pela admiração que tenho quero homenagear também as artistas plásticas Tarsila do Amaral e Frida Kahlo. Cada uma delas com uma forte história de vida, de amor e de talento. São muitas mulheres e suas histórias de vida são  histórias de luta. Todos nós conhecemos alguma mulher que precisou lutar muito para conquistar seus objetivos. Minha bisavó por exemplo criou sozinha seus filhos trabalhando na lavoura para tirar seu sustento de sol a sol. Esta é a luta diária a que temos que reverenciar, pois fazendo o seu pouco estamos fazendo muito para mudar o mundo. Sós a mudança não representa muito, pode inclusive ser pequena, mas no montante geral é uma grande mudança. Falando em vida difícil tem a admirável Florbela Espanca.

Aqui no Brasil uma das leis mais importantes da história foi assinada por uma mulher, a Princesa Isabel. Sabemos que o ato de libertar os escravos, embora um bem, foi também um grande problema, afinal depois de libertos o que tinham aqueles homens e mulheres? Para onde iriam, o que fariam? Foi-lhe dado a liberdade, mas também a miséria e a rua. As leis que antecederam a abolição da escravatura e a própria lei Áurea, tinham um objetivo nobre, ainda que os escravagistas e abonados senhores não aceitassem e continuassem a agir sob suas próprias regras.

Mas uma das  mulheres que mais admiro e queria homenagear é uma poetisa, considerada uma das principais escritoras brasileiras, Cora Coralina. Ela era doceira, uma senhorinha linda com muito pra contar, com poesias lindas! Uma mulher simples que através da palavra dá lições de vida contando o cotidiano simples das cidades do interior. Cora Coralina é um exemplo pra mim que espero um dia escrever um livro, pois sua primeira publicação foi feita quando ela estava com 76 anos.
Somos muitas mulheres neste mundão de meu Deus, que temos muita força para conquistar tudo o que merecemos. Enquanto vou escrevendo vou lembrando de outros nomes tão importantes como: Indira Gandhi, Zélia Gatai, Simone de Beauvoir, Cristina de Kirchner, Dilma Roussef, entre tantas outras. Como diz a música "sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher", mas antes de mais nada somos cidadãs. Lutamos por nós e lutamos por um mundo melhor e sem preconceitos.
Encerro a série Mulheres de fibra deste ano com o poema:


Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.

Nasci numa rebaixa de serra
Entre serras e morros.
“Longe de todos os lugares”.
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.

Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.

Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentro
da imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.

Numa ânsia de vida eu abria
O vôo nas asas impossíveis
do sonho.

Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia caída e a república
que se instalava.

Todo o ranço do passado era presente.
A brutalidade, a incompreensão, a ignorância, o carrancismo.
Os castigos corporais.
Nas casas. Nas escolas.
Nos quartéis e nas roças.
A criança não tinha vez,
Os adultos eram sádicos
aplicavam castigos humilhantes.

Tive uma velha mestra que já
havia ensinado uma geração
antes da minha.
Os métodos de ensino eram
antiquados e aprendi as letras
em livros superados de que
ninguém mais fala.

Nunca os algarismos me
entraram no entendimento.
De certo pela pobreza que marcaria
Para sempre minha vida.
Precisei pouco dos números.

Sendo eu mais doméstica do
que intelectual,
não escrevo jamais de forma
consciente e racionada, e sim
impelida por um impulso incontrolável.
Sendo assim, tenho a
consciência de ser autêntica.

Nasci para escrever, mas, o meio,
o tempo, as criaturas e fatores
outros, contra-marcaram minha vida.

Sou mais doceira e cozinheira
Do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes:
objetiva, concreta, jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.

Nunca recebi estímulos familiares para ser literata.
Sempre houve na família, senão uma
hostilidade, pelo menos uma reserva determinada
a essa minha tendência inata.
Talvez, por tudo isso e muito mais,
sinta dentro de mim, no fundo dos meus
reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo.
Sobrevivi, me recompondo aos
bocados, à dura compreensão dos
rígidos preconceitos do passado.

Preconceitos de classe.
Preconceitos de cor e de família.
Preconceitos econômicos.
Férreos preconceitos sociais.

A escola da vida me suplementou
as deficiências da escola primária
que outras o destino não me deu.

Foi assim que cheguei a este livro
Sem referências a mencionar.

Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.

Nem Menção Honrosa.
Nenhuma Láurea.

Apenas a autenticidade da minha
poesia arrancada aos pedaços
do fundo da minha sensibilidade,
e este anseio:
procuro superar todos os dias
Minha própria personalidade
renovada,
despedaçando dentro de mim
tudo que é velho e morto.

Luta, a palavra vibrante
que levanta os fracos
e determina os fortes.

Quem sentirá a Vida
destas páginas...
Gerações que hão de vir
de gerações que vão nascer.

(Meu Livro de Cordel, p.73 -76, 8°ed, 1998)

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