Não gosto muito da sonoridade das palavras consciência negra, juntas. No meu entender soa um pouco como aquelas velhas histórias de "período negro" como período ruim e difícil, entre tantas outras expressões que usamos sem dar conta algumas vezes de tão entranhado que está no nosso cotidiano. Consciência negra me soa como consciência pesada. Na verdade é o que deveríamos ter mesmo, afinal, ainda que existam leis, ainda que tenhamos evoluído tecnologicamente ainda existe racismo e preconceitos na nossa sociedade. São as piadinhas, são as personagens caricatas e escrachadas, são as expressões carregadas que alguns usam antes de se referirem a alguém.
Pra mim é absurdo que um brasileiro olhe outro brasileiro com desdém porque a cor da sua pele é diferente, porque seu sotaque é cantado, porque sua cabeça é chata ou seu cabelo é crespo. Já contei que quando era criança fiquei cuidando minha mão depois de apertar a mão de um senhor negro. Poderia ali ter virado uma criatura que acha mesmo que a cor da pele faz diferença no caráter de alguém. Mas minha mãe sempre me ensinou que somos todos iguais, ainda que muito diferentes nas "embalagens". Eu aprendi bem a lição. E sei bem que o que faz uma pessoa boa ou má é seu caráter e que este independe da condição social, da cor da pele, do cabelo, dos olhos, do grau de estudo, ou do sexo. Caráter tem a ver com caráter.
É com o nosso amadurecimento e crescimento moral que vamos percebendo certas coisas que estão arraigadas no dia-a-dia e que parece impossível mudar de tão incrustado que está. Mas aos poucos, mudando na gente mesma, vamos percebendo que outros tantos estavam incomodados com a situação e precisavam apenas de um exemplo pra mudar também. E bons exemplos é o que não falta neste mundão.
Nossa consciência pesada deveria ser o despertar para tais mudanças, que aliviariam muito este peso. Respeitar as diferenças é o amadurecimento posto em prática.
Somos bombardeados com padrões de beleza, sucesso e conduta pela mídia, pelas pessoas, pela sociedade que, muitas vezes, nem acredita mesmo em toda a baboseira que reproduz. Não é possível dizer o que é feio ou bonito, porque isto é um padrão subjetivo, não fosse assim todas as mulheres do mundo se matariam para ter o Brad Pitt. E eu sei bem que tem muita gente que daria um dedinho por uma noite com o Javier Bardem ou com o Seu Jorge, outras tantas que mudariam de país pra cheirar o cangote do Tom Cruise e outras que sentem um arrepio só de ouvir a voz do Diogo Nogueira (Eu, por exemplo). Estou falando em homens, mas o mesmo vale para as mulheres. Tem quem acredite que Gisele Bündchen é a mulher mais bonita do mundo, noutro tempo era a Naome Campbell e quando chegaram ao Brasil muitos portugueses caíram de amores pelas índias.
Eu adoro um cabelo black power, adorava ver meu tio em frente ao espelho ajeitando os cabelos com o garfo. Que depois, claro eu tentava passar no meu. Muitas vezes eu ouvi as pessoas me dizerem que eu gosto do cabelo crespo porque o meu não é assim. Mas não é verdade. Gosto porque acho lindo! E na maioria das vezes acho feio o cabelo com chapinha ou escova progressiva. Gosto não é mesmo...
O dia da consciência negra é pra ser o dia em que tomamos consciência da beleza e da importância do povo negro na construção do nosso país. Assim como o dia do índio (19 de abril) deveria servir para o mesmo. Mais do que datas no calendário devem ser dias de luta, devem ser momentos de ver o que se fez em prol da verdadeira igualdade dentro da nossa sociedade. É o dia de pensarmos por nós mesmos, de agirmos diferente.
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