terça-feira, novembro 20, 2012

Consciência Negra

Não gosto muito da sonoridade das palavras consciência negra, juntas. No meu entender soa um pouco como aquelas velhas histórias de "período negro" como período ruim e difícil, entre tantas outras expressões que usamos sem dar conta algumas vezes de tão entranhado que está no nosso cotidiano. Consciência negra me soa como consciência pesada. Na verdade é o que deveríamos ter mesmo, afinal, ainda que existam leis, ainda que tenhamos evoluído tecnologicamente ainda existe racismo e preconceitos na nossa sociedade. São as piadinhas, são as personagens caricatas e escrachadas, são as expressões carregadas que alguns usam antes de se referirem a alguém.
Pra mim é absurdo que um brasileiro olhe outro brasileiro com desdém porque a cor da sua pele é diferente, porque seu sotaque é cantado, porque sua cabeça é chata ou seu cabelo é crespo. Já contei que quando era criança fiquei cuidando minha mão depois de apertar a mão de um senhor negro. Poderia ali ter virado uma criatura que acha mesmo que a cor da pele faz diferença no caráter de alguém. Mas minha mãe sempre me ensinou que somos todos iguais, ainda que muito diferentes nas "embalagens". Eu aprendi bem a lição. E sei bem que o que faz uma pessoa boa ou má é seu caráter e que este independe da condição social, da cor da pele, do cabelo, dos olhos, do grau de estudo, ou do sexo. Caráter tem a ver com caráter.
É com o nosso amadurecimento e crescimento moral que vamos percebendo certas coisas que estão arraigadas no dia-a-dia e que parece impossível mudar de tão incrustado que está. Mas aos poucos, mudando na gente mesma, vamos percebendo que outros tantos estavam incomodados com a situação e precisavam apenas de um exemplo pra mudar também. E bons exemplos é o que não falta neste mundão.
Nossa consciência pesada deveria ser o despertar para tais mudanças, que aliviariam muito este peso. Respeitar as diferenças é o amadurecimento posto em prática.
Somos bombardeados com padrões de beleza, sucesso e conduta pela mídia, pelas pessoas, pela sociedade que, muitas vezes, nem acredita mesmo em toda a baboseira que reproduz. Não é possível dizer o que é feio ou bonito, porque isto é um padrão subjetivo, não fosse assim todas as mulheres do mundo se matariam para ter o Brad Pitt. E eu sei bem que tem muita gente que daria um dedinho por uma noite com o Javier Bardem ou com o Seu Jorge, outras tantas que mudariam de país pra cheirar o cangote do Tom Cruise e outras que sentem um arrepio só de ouvir a voz do Diogo Nogueira (Eu, por exemplo). Estou falando em homens, mas o mesmo vale para as mulheres. Tem quem acredite que Gisele Bündchen é a mulher mais bonita do mundo, noutro tempo era a Naome Campbell e quando chegaram ao Brasil muitos portugueses caíram de amores pelas índias.
Eu adoro um cabelo black power, adorava ver meu tio em frente ao espelho ajeitando os cabelos com o garfo. Que depois, claro eu tentava passar no meu. Muitas vezes eu ouvi as pessoas me dizerem que eu gosto do cabelo crespo porque o meu não é assim. Mas não é verdade. Gosto porque acho lindo! E na maioria das vezes acho feio o cabelo com chapinha ou escova progressiva. Gosto não é mesmo...
O dia da consciência negra é pra ser o dia em que tomamos consciência da beleza e da importância do povo negro na construção do nosso país. Assim como o dia do índio (19 de abril) deveria servir para o mesmo. Mais do que datas no calendário devem ser dias de luta, devem ser momentos de ver o que se fez em prol da verdadeira igualdade dentro da nossa sociedade. É o dia de pensarmos por nós mesmos, de agirmos diferente.