Eu gosto de política. É, ao contrário do que as pessoas, a maioria diz, eu gosto sim. E, apenas nisso, concordo com o prefeito eleito Eduardo Leite, política não tem a ver com sujeira, nem corrupção, nem safadeza, nem um monte de atribuições que se dá a ela, justamente por que a forma e as pessoas erradas estão fazendo parte da nossa política há tantos e tantos anos. Tenho uma memória em relação a política que me surpreende muitíssimo algumas vezes.
A primeira eleição de que tenho lembrança é a de 1989. Nesta época eu tinha 12 anos, devia estar na sexta série. Desde aquela época não compartilho do mesmo candidato que meu pai. Democracia é isto! Embora algumas vezes a gente até tenha votado no mesmo candidato, isto não aconteceu na maioria das vezes.
Não sei se minha lembrança em relação a esta eleição é tão boa pela repercussão ou se foi o fato de, dentro do colégio inclusive, ter tido tantos debates ou se foi realmente o fato histórico de ser a primeira eleição presidencial depois de tantos anos de ditadura militar. Eu realmente não sabia quem eram aqueles candidatos todos, e não tinha internet pra gente pesquisar e saber todos os detalhes daquele povo lá de longe. A gente contava em saber das coisas através da televisão, da boa e velha mídia brasileira. Triste é saber que (praticamente) a única fonte de informação era uma velha conhecida da ditadura, aliada dos generais e que sempre colocou seus interesses capitalistas antes de qualquer coisa. Mas eu era uma criança.
É possível que alguns amigos se decepcionem com a trajetória! Desde já destaco que mudei minhas opiniões em relação a muita coisa daquele tempo e... sempre posso mudar mais.
Eram tantos candidatos! Foram 22 concorrentes, sendo que alguns eram bem conhecidos, outros nunca havia ouvido falar e outros ainda ficaram marcados para sempre na lembrança, caso do Enéas do PRONA. Meu candidato, ainda que não pudesse votar, nesta foi o Guilherme Afif Domingos. Não me perguntem porque! hahahaha Não tenho a mínima ideia! O Afif era do PL, não sei se continua...
Desta eleição lembro de vários debates, lembro dos programas de televisão. E como não sabia nada de nada, e, principalmente, por não conhecer aquelas pessoas que queriam governar o país imaginava da minha parte que eles mal se conheciam e que mal conheciam meu país e a mim, já que estavam tão longe. Foi então que me surpreendi com o Lula dizendo ao Caiado que o cavalo branco dele pastava em campos alheios. Lembro bem de mim pensando: "Como é que ele sabe que o outro tem cavalo e quem alimenta são outras pessoas?" Ainda não entendia metáforas!
Também não entendia como as mulheres podiam se enlouquecer com o Collor, sendo que, na minha opinião o Caiado era mais bonito.
Lembro vivamente dos programas de humor que alfinetavam os candidatos e já denunciavam desde aquela época o caráter do Maluf. Também me inquietava a angústia dos candidatos em relação aos boatos da candidatura do Silvio Santos. (Aqui preciso fazer um parêntese, porque eu não conhecia o Silvio Santos! É, na vila aonde eu morava não pegava nenhum outro canal que não fosse a Globo, repetida pela RBS. Até tinha a Band, que pegava mal pra caramba. Manchete e outros só se ouvia falar, que nem o caviar!) E não me saia da cabeça a musiquinha que perguntava aonde estava o Naji Nahas e a ligação que se fazia com o Maluf. Acho que eram muitas coisas pra uma guria de 12 anos, sem muitas fontes de pesquisa. Confesso que desde aquela época tinha uma simpatia com os partidos de esquerda! hahaha Esqueçam o Afif! Parafraseando aquele outro.
É, gente, tenho salvação, gostava do Gabeira e do Bisol, vice do Lula. Tinha minhas desconfianças com o Maluf (pra completar ele solta a famosa frase "estupra mais não mata") e achava que o Ulysses estava passado demais pr'aquilo tudo! Sendo que tinha o pé atrás com o PMDB desde essa época.
Tenho muito respeito pelo Brizola, ainda que naquele tempo não soubesse de sua história.
Em 1994, aconteceu a segunda eleição presidencial de que tenho ideia e foi a primeira em que votei. Amigos queridos, perdoem-me eu não sabia o que fazia. Sim, por pura antipatia com Lula votei no FHC. Continuava a saber nada de política. Havia passado ao largo do movimento caras pintadas, porque realmente estava por fora de tudo que se tratasse de política. Mas algo dentro de mim já se manifestava contra este neoliberal, ainda que eu tenha votado nele. Tínhamos que escrever uma redação e o tema era as eleições. Aliás, foi o texto que me fez optar pelo jornalismo como carreira. Pena que não o tenho mais. Mas usei de muita ironia para falar das propostas de governo do "super FHC" e ganhei o maior elogio de toda minha vida. A professora de literatura e português disse que meu texto usava um recurso muito utilizado pelo Machado de Assis, a ironia.
Fiquei muito grata, porque além do elogio ela perguntou-me se já tinha escolhido a faculdade que ia fazer, eu disse que não, na verdade não tinha nem ideia. Embora nutrição, com toda a sua química, tenha passado pela minha mente. Então ela sugeriu o jornalismo. Devo a minha escolha a professora Rosani.
Então eu me redimi totalmente nas eleições 1998. Esta sim eu já tinha alguma ideia do que era a política. E quantas raposas velhas sempre vinham nesta época mascarando suas intenções. Então teve um voto de protesto no Dr. Enéas. Porque eu sou extremista mesmo e ainda que minhas escolhas pareçam totalmente loucas, no fundo tem coerência comigo mesma. Sim, votei no FHC contra o Lula por antipatia a este. Mas depois mudei de ideia. Já tinha me dado conta que FHC era ex-ministro de Itamar, que era vice do Collor, acusado de corrupção junto com um bando de gente. E pra mim, fica difícil livrar a cara de um vice assim. E desde este tempo as coligações me chamam muito atenção. Algumas vezes até mais que a ficha dos candidatos ou o curriculum. Sendo assim... Votei pela primeira vez no Lula, mais pelo Brizola do que pelo Lula. E contrariada de saber que um já havia falado muito mal do outro em eleições passadas.
Nas eleições presidenciais de 2002 já havia pesquisando um pouco sobre a ditadura militar e a censura. Já me considera bem de esquerda, se é que dá pra me chamar de esquerdista. hahaha Votei no Lula com convicção desta vez. E olha gente, o vice do Lula era PL. (Eu disse que tinha coerência! hahaha) Em 2006 votei na Heloísa Helena no primeiro turno e no Lula, óbvio no segundo.
Nas últimas eleições... 2010 eu votei na Marina Silva e no segundo eu anulei meu voto porque não consigo ter o mínimo de simpatia, ou seria respeito?, pelo Michel Temer. Reconheço que o governo do partido dos trabalhadores tem méritos, mas me decepcionei com estas coisas de "vale tudo" para conseguir chegar a meta. Sim, entendo que existem e são necessárias muitas estratégias para se chegar a um objetivo, mas coerência e ética pra mim é fundamental.
É provável que para muitos minhas ideias sejam completamente absurdas, obtusas e sem a mínima coerência. Eu admito que ainda sei pouco de política, mas sei muito das necessidades do povo, sou povo. Não acho que o governo, seja em que instância for, é um laboratório para experiências. Só que são necessárias alguns testes para conhecermos o trabalho. Nisto acabamos votando em gente que nos decepciona. E como todo mundo, não gosto de me decepcionar e se isto acontece na política o cara não ganha mais meu voto. Não acredito mais nos bichos papões comunistas que comiam criancinhas, pelo contrário compactuo de muitas ideias e ideais propagados por eles. Mas reservo muito cuidado para aqueles que desde antes da ditadura militar já estavam no poder, e nunca mais saíram, ampliando para sua família, de maneira quase que hereditária, a vida política.
Várias decepções tive nesta minha vida eleitoral. Porque vi gente que defendia melhores salários para os trabalhadores votaram contra um aumento mais substancial para estes e a favor do reajuste do seu salário exorbitante como deputado federal ou estadual. Defendendo o seu aumento e dizendo que o aumento do mínimo vai "quebrar" o país. Para mim isto é motivo de não mais receber votos sim. E eu sei bem que um trabalhador custa "caro" para a empresa que o emprega. Mas políticos custam muito mais e para todos, inclusive pr'aquele trabalhador que recebe o mínimo, mas paga imposto sobre tudo.
Não confio em quem troca de partido vira e mexe. E desconfio mais ainda em quem fala em mudança fazendo tudo igual aqueles a quem condena.
A gente muda a cada dia. Eu mesma mudei muito. E ainda tenho muito que mudar! Escrevi tudo isto porque, nestas eleições municipais que se encerraram vi gente apontando dedo na cara de amigos e acusando pessoas como se não tivessem um passado. Como se não vivêssemos numa democracia aonde o voto é secreto e livre! E mais, como se depois de votar todas as responsabilidades fossem apenas daqueles eleitos. Somos todos seres políticos! Todos nós somos responsáveis pela melhoria e a mudança da nossa cidade.
Eleições 1989
Eleições 1994
Eleições 1998
Eleições 2002
Eleições 2006
Eleições 2010
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