terça-feira, dezembro 14, 2010

Polêmicas e falta de tato

Quando eu escolho um candidato a qualquer coisa penso na sua capacidade intelectual, na ética, na moral, na competência e na sua sensibilidade em relação a assuntos que eu considero importantes, afinal de contas ele irá me representar, seja lá no congresso, na Câmara de vereadores, na prefeitura ou no condomínio onde moro.
Mas mesmo que o meu candidato não tenha ganho, e isto acontece sempre (desculpem amigos candidatos), fico de olho nos que venceram, no que fazem, no que dizem e nas ideias que defendem. Coerência e senso crítico são quesitos indispensáveis. Por isto me choco quando escuto, vejo ou leio declarações tão estapafúrdias e absurdas vindas políticos. Hoje o queixo caiu com a declaração do governador do Rio de Janeiro em defesa do aborto. Tem um ditado popular que diz: "o bom julgador por si se julga", quando ele questiona os empresários será que está rememorando algo do passado? A pergunta: "Quem é aqui que não teve uma namoradinha que teve que abortar?"  é no mínimo impensada.

Já falei a respeito do aborto por aqui, sou contra a realização porque existem métodos de evitar uma gravidez indesejada. Penso que se cidadãos abastados, como os empresários para quem Cabral falou passaram por uma situação destas, é porque foram no mínimo irresponsáveis, NO MÍNIMO! Junto com as mulheres que se submeteram a fazer sexo sem proteção ou que o fizeram por interesse na pensão.
A defesa pelo aborto legalizado não é para que as mulheres saiam por aí transando a torto e a direito e depois vão a uma clínica por conta do SUS realizar o aborto. Não! A defesa é para que pessoas de baixa renda parem de submeter-se a açougueiros em clínicas clandestinas, que causam além da morte do feto, muitas vezes a morte da mãe e a infertilidade.

O assunto é sério, é polêmico, envolve questões morais, religião e hipocrisia. Mas não é da forma como Cabral falou que se irá acabar com a hipocrisia. Ela existe sim, sabemos muito bem que muitos filhinhos de papai, no passado e hoje em dia, começam suas vidas sexuais com as secretárias do lar ou as filhas destas  e muitas vezes por coação ou por ilusão as moças caem na conversa fiada e situações como a questionada pelo governador do Rio acabam acontecendo, mas de forma bem abafada. A pergunta foi retórica, quem foi dentre eles que levantou a mão e disse que foi um canalha e enganou alguma mulher na vida, mesmo com a porca desculpa de que era jovem e não sabia o que fazia? Nenhum. Ninguém vai admitir uma coisa destas!
Aqui mete o dedo na ferida dos hipócritas e dos moralistas. Nós sabemos que estas coisas acontecem deste de o tempo do império, o senhôzinho deitava com as negras e seus filhos eram apenas bastardos mestiços para quem sobrava apenas o tronco e o chicote. Mas nem antes e menos agora alguém admitirá ter lançado mão de um método ilegal para se livrar de um problema. As pessoas preferem manter o esqueleto bem escondido no armário porque há a possibilidade de ninguém descobrir.

Eu me apavoro com a quantidade de adolescentes grávidas, porque os alertas estão por aí em todo lugar. A escola orienta, nos postos de saúde públicos existem orientação e material para prevenção. Mas infelizmente ainda não é suficiente. E conta aí um elemento muito peculiar do gênero feminino, as mulheres acreditam nas juras de amor dos homens. Elas se entregam, se iludem e esquecem que a prova pedida acaba crescendo dentro delas por nove meses. Acidentes acontecem, claro. Mas existe a pílula do dia seguinte. É cuidado que a mulher deve ter mais do que o parceiro, pois é o seu corpo e os filhos de uma gravidez indesejada, na grande maioria ficam com as mães. Os homens tem total responsabilidade. O ato é feito a dois, mas num país machista, ainda existe a velha história de que o homem veste uma outra camisa e continua o mesmo enquanto que a mulher, tenha tido o filho e lutado bravamente e sozinha por ele ou feito o aborto, ou apenas transado com alguém por quem sentiu atração ou amor fica marcada pra sempre.

Para admitir a hipocrisia primeiro há que se admitir o preconceito contra a mulher, o machismo latente e velado. É preciso mudar o pensamento machista, não só dos homens, mas de algumas mulheres que crêem que tudo é sua culpa, que diferenciam os filhos e filhas no momento da criação.  Uma mulher independente que não se apega às questões moralistas é apontada sim, sendo chamada de puta até frígida, passando por xingamentos e apontamentos absurdos pelo simples motivo de ser dona do seu nariz e não se dobrar a convenções sociais.
O sexo forçado dentro do lar também é uma das maneiras utilizadas como violência contra a mulher. E por ser ainda uma situação tão constrangedora denunciar vira uma decisão de vida ou de morte. Algumas vezes a demora nesta decisão acaba resultando na morte de toda uma família. Concordo com o governador Sérgio Cabral quando defende que o debate deve ser aprofundado. Tem que ser, precisa ser, é questão de saúde pública, não pode ser tratado como assunto de polícia, como um crime simplesmente.

Quanto à religião... a ela cabe cuidar das questões da alma e do espírito. Afinal admitem o livre arbítrio e fazer ou não um aborto é decisão de quem o fará, não do padre, do pastor, do guia espiritual ou do papa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem pessoal, mesmo que suas opiniões sejam diferentes das minhas eles serão publicados. Só não pode comentário ofensivo, dedo no olho e mordida na orelha. Por favor assine seus comentários, não há porque ser anônimo quando se dá opinião. Comentários sem assinatura não serão publicados!