sexta-feira, janeiro 28, 2011

Cavalheirismo ou apenas uma forma "sutil" de dominação?

Outro dia lendo o comentário de uma amiga sobre a iniciativa de um homem que não te conhece se oferecer para te pagar uma bebida e sobre qual seria a  reação dele se a sua atitude fosse responder, "não, eu mesma pago o que vou beber".  Fiquei pensando em como NÃO GOSTO desta situação no meu dia-a-dia. Desde que comecei a sair nunca gostei de fazê-lo sem grana. Também nunca aceitei que os guris pagassem bebidas ou entradas em eventos. Óbvio que algumas vezes os rapazes pagaram a conta sozinhos, mas não sem algum protesto meu. Alguns amigos argumentavam não ver nada demais em pagar a conta sozinho "afinal de contas somos amigos". Outros acreditam que assim é que deve ser, pois é uma atitude normal e até tradicional. Para eles quem deve pagar a conta é o homem e assumem se sentir muito desconfortáveis quando a mulher paga a conta sozinha. Eu acho que, justamente por sermos amigos não há mal algum em dividirmos a conta. Não fica pesado pra ninguém!
Só que neste "cavalheirismo" em que o homem paga a conta, te pega e te leva em casa, estes dois últimos no tempo dele, é claro, há algo implícito. E me incomoda demais.
Não gosto que os homens paguem a conta sozinhos. Para mim é uma forma de dominação sobre a minha pessoa.  No meu entender a independência financeira é um ponto determinante para a independência da mulher de um modo geral. Não é que a paquera não vá acontecer, não quer dizer que nos encontros a conta deva sempre ser rachada. A questão é que sempre me senti numa situação desagradável quando outra pessoa paga as minhas contas, seja quem for. E mais, me sentia como uma espécie de "propriedade" do pagante, pois muita coisa vem implícita naquele convite "inocente" de pagar uma bebida.
Quando eu comecei a escrever este post e quando li os comentários da minha amiga Anucha e mais precisamente quando comecei a pensar em como me sinto em relação a esta situação, cheguei a pensar que estava falando uma bobagem. Que muitas mulheres e homens (com certeza os 20 seguidores, a quem sou muito grata por lerem meu blog) fossem ler minhas palavras e dizer BOBAGEM, ISTO QUE DIZES É UMA GRANDE BOBAGEM! No entanto, vivemos num mundo machista e que esta sim entranhado na nossa sociedade. E mesmo que conscientemente e tão hipocritamente, como sabemos, se diga através dos lábios que isto não existe mais e que as mulheres "dominaram" o mundo, a verdade é que muitas mulheres se submetem aos caprichos de maridos e companheiros violentos por serem dependentes financeiramente.
Alguns crimes passionais, inclusive, se dão justamente por existir entre o homem e a mulher esta relação de dono e propriedade.
Como fala a Dra. Luiza Nagib Eluf no livro A paixão no banco dos réus* "O crime passional costuma ser uma reação daquele que se sente “possuidor” da vítima. O sentimento de posse, por sua vez, decorre não apenas do relacionamento sexual mas também do fator econômico. O homem, em geral, sustenta a mulher, o que [pg. XIII] lhe dá a sensação de tê-la “comprado”. Por isso, quando se vê contrariado, repelido ou traído, acha-se no direito de matar."

Creio que há base para o meu argumento. Claro que é legal tu sair sem te preocupar com a conta. É óbvio que às vezes a gente gosta de ser paparicada! Só que alguns homens confundem dar um presente com "comprar" a mulher! É como se fosse uma negociação comercial, te levo pra jantar e tu me dá depois. Tá certo que algumas mulheres se vendem! Tenho uma ou duas amigas que só saem com caras que bancam tudo! O que eu acho absurdamente errado!
Fico assustada com a existência de situações como estas ainda hoje! Fico perplexa quando ouço alguém dizer que fulana deve casar com um cara bem de vida para sustentá-la! Na minha cabeça sinto como se voltasse a década de 20, 30, sei lá! Vai saber se o choque maior não é porque fui criada para ser independente? E isto foi uma criação dada não só pela minha mãe, mas meu pai também defendia que eu devia estudar, trabalhar e ser independente desde que eu era criança. Pode ser que esta forma dele agir seja interpretada por algumas pessoas como machismo, também. E até certo ponto é, afinal de contas ele tem mais de 60 anos. A questão primordial é que ele não pretendia, e não pretende ainda, me casar. Não faz parte da ideia dele encontrar um "homem de boa família e situação financeira" que me assuma. Meu pai me criou para que eu não dependesse de ninguém, para que eu fosse dona da minha vida. Claro, ele quer que eu o obedeça, mas isto é outra história.

*Neste link dá pra baixar o livro em PDF.

2 comentários:

  1. Acredito que não exista dúvidas de que o mundo é machista. E muito tempo ainda haverá até que se possa extirpar esse mal da face da terra.

    Assim como tantas outras atitudes preconceituosas que são quase que inerentes, infelizmente, a natureza humana.

    Mas falando de machismo. Uma das coisas que mais "ajuda" o machismo são as mulheres. As mulheres costumem ser, em muitos casos, mais machistas que os próprios homens. Esse pensamento que expressaste no teu texto, das mulheres que querem homens que banquem, que as sustentem, demonstram o quanto as mulheres são machistas, infelizmente.

    E, em termo práticos, enquanto as mulheres fomentarem o machismo, leverá algum tempo até que se possa ver a terra livre deste mal.

    Mas, este mundo é um mundo de expiação e está em constante evolução. Um dia chegará...

    Beijo!!

    Antonio

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  2. eu posso até abrir a porta do carro... mas se a mulher pagar meio a meio... blz

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