sexta-feira, janeiro 21, 2011

Perseguições, olhares invasivos, medo...

Quando escrevi o post anterior em que minhas amigas relatavam sobre homens que desrespeitam mulheres sozinhas na rua tocando seus corpos de forma indecente, puxei pela memória para lembrar se havia acontecido algo assim comigo. Eram tantas pessoas comentando, minha mãe mesma relatou de uma vez que ia pela rua e aconteceu. Minhas primas, tias, amigas, todas tinham uma história sobre a constrangedora situação e do sentimento inexplicável que fica. É um misto de vergonha, medo, raiva, nojo, impotência, insegurança...
Puxando pela memória (e isto demorou pois estava evitando acessar o arquivo de lembranças tristes) lembrei de uma vez em que estava participando de um almoço do Sindicato de Couros e Peles aqui em Pelotas.  O lugar estava cheio, muitas famílias, crianças e homens bebendo. Quando fui a copa comprar um refrigerante um dos "bêbados" encostado ao balcão puxou assunto, mas eu não respondi, apenas me arredei mais para o lado, enquanto esperava ser atendida. Ele então, sem respeitar a mim ou a qualquer outra pessoa por ali, passou a mão pelo meu cabelo e foi descendo até a minha bunda. Se meu olhar tivesse raios com certeza ele teria sido fulminado na hora!
Quando me virei minha mãe estava próxima de mim, mas ela não é dada a discussões e barracos. Diferente de mim que, mesmo sendo contra a violência, entro na briga. O mais absurdo da história, pra mim, é que eu tinha uns doze anos era uma criança!  Pensa que aquela aberração pediu desculpas??? Claro que não! Pois como todo o criminoso, na sua doentia mente pensa, a culpada sempre é a vítima.
Mas este não é  o pior caso ou o que me causou mais pânico.  Próximo a minha casa vivia um sujeito mal encarado, daqueles que olham pra gente de um jeito que dá medo! Tipo os tarados dos filmes e novelas, que causam asca só de olhar! Este cara, praticamente meu vizinho, me perseguia. Eu tinha tanto medo dele, que evitava sair na rua, não gostava de ir a venda que ficava na esquina, quase em frente a casa do dito cujo. Se bem que... ele sempre estava na esquina, na rua, de bicicleta.
Uma vez precisei ir ao bar, não lembro buscar o que, no entanto lembro o medo que senti quando voltava pra casa e ele vinha atrás de mim dizendo barbaridades, palavrões e todo o tipo de coisas que pretendia fazer comigo. Entrei no portão da minha casa como um vento! A cara de pavor e as lágrimas escorriam pelo rosto! Havia contado para minha mãe que não gostava daquele cara. Era hora do almoço, meu pai tava em casa e eu tinha medo de dizer pra ele o que o nojento fazia e ele rebentar a cara do dito... Mas naquele dia não dava pra disfarçar. Então meu pai me levou a rua e perguntou quem era o cara, eu apontei e ele disfarçando como se não entendesse do que se tratava.
Meu pai, meu herói, foi pra cima dele e disse: "ela é minha filha, ela vai andar na rua e tu nunca mais vai nem olhar pra ela! Se ela falar que tu disse uma palavra, eu te arrebento a fuça!". Não sei dizer a sensação que tive, morria de medo daquele cara e olha que era muito novinha, não tinha nem ideia das coisas nojentos do que ele falava. Agora mesmo comentando com minha mãe a sensação de nojo volta e ao falar, um pouco exaltada com a lembrança, ela diz que não vale a pena, que uma pessoa como esta não merece raiva ou nojo, merece o esquecimento e o desprezo. Concordo que guardar raiva ou ódio não serve de nada pra gente, só faz mal. Por outro lado, deixar pra lá coisas assim não significa "permitir" que sujeitos como este sigam fazendo o mesmo com outras pessoas, ou melhor, com crianças?
Não desejo mal a ele! Graças a esta situação me tornei uma pessoa ainda mais atenta nas ruas. Por mais que pareça distraída não deixo de cuidar quem vem atrás ou a frente quando caminho, passo longe de homens parados na calçada, atravesso a rua sim, me desculpem os homens decentes. Por que as palavras não machucam, mas agridem. Que consciência tem uma criança de sete, oito anos sobre sua sexualidade? O que pode fazer uma menina desta idade que provoque ou seduza um homem? É absurdo quando sabemos de casos de violência sexual com crianças, mas quantas pessoas dentro da própria casa sofreram constrangimentos com tios ou primos e nunca falaram por serem parentes, por serem mais velhos? Uma professora certa vez comentou de um tio que ela e as primas viviam fugindo por ser "meio tarado"!
Minhas reações em situações como esta podem ser as mais diversas, como já foram. Já corri, já fiz que não ouvi, já respondi. E uma vez, quando o tarado não contente em dizer coisas e falar besteira, arriou as calças até os tornozelos, veio pra cima de mim com o membro a mostra. Bati nele de sombrinha! Não aconselho, afinal... ele poderia ter me batido e feito o que queria! Era de manhã cedinho e na parada de ônibus aonde eu estava não havia ninguém. Talvez minha reação tenha sido um choque pra ele, por isto vestiu a calça, pegou sua bicicleta e fugiu.  Eu acabei voltando pra casa! Com as pernas bambas e as mãos tremendo. Que pavor!
Minha sorte foi ter tido presença de espírito e proteção do meu São Jorginho! Mas quantas mulheres, meninas, crianças não tem a mesma sorte? Quantas não tem tempo de fugir?
Começamos falando das grosserias que escutamos pelas ruas e nos fazem tanto mal e acabei chegando aqui, na violência criminosa que alguns cometem nas ruas. É o atentado ao pudor, a agressão sexual que levam a mulher a pensar que foi a causadora de tal atitude  por estar vestindo uma calça mais justa, uma saia curta ou um decote mais "ousado". Em algumas situações, pela criação e pelo comportamento machista da sociedade achamos que a culpa é da mulher. "Também com aquela roupa"!
Quantas vezes não escutamos isto. Não foi exatamente o que ocorreu com a Geisy Arruda? Quer dizer que ela é a culpada por ter sido ofendida?
Eu acho que nós mulheres devemos nos dar ao respeito e exigir respeito. Eu particularmente não gosto de roupas curtíssimas ou ultra justas. Mas o fato é, que não são as roupas as culpadas por uma violência sexual. Afinal o que de ousado veste uma menina de 5 meses, 2 anos?  As fraldas?????
Não são as roupas que devem mudar, mas nosso pensamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem pessoal, mesmo que suas opiniões sejam diferentes das minhas eles serão publicados. Só não pode comentário ofensivo, dedo no olho e mordida na orelha. Por favor assine seus comentários, não há porque ser anônimo quando se dá opinião. Comentários sem assinatura não serão publicados!