segunda-feira, dezembro 01, 2008

Anônimo

Recebi por email um texto emocionante. Não se tratava de uma corrente, tão pouco de uma daquelas mensagens em ppt, cheia de fotinhos bonitinhas, que eu adoro e compartilho apenas com os amigos, que sei também gostam deste tipo de mensagem. Quem me passou foi minha cunhada Suéllen, que nunca me escreve. O texto não tem assinatura, portanto não sei quem o escreveu, mas, mesmo assim, deixo claro que não sou eu a autora. É uma leitura um pouco longa, e talvez alguns não gostem do tom espiritualista que há nela. No entanto, ainda que não acreditemos em nada o ocorrido em Santa Catarina é uma lição. Uma lição de que devemos preservar a natureza, de que devemos ser solidários com os outros, enfim, inúmeras são as lições, resta a cada um de nós avaliarmos por nós mesmos e tirar as que nos servem.

O sol brilhou!

Hoje 27 de novembro de 2008 o sol saiu e conseguimos voltar a trabalhar.
A despeito de brincadeiras e comentários espirituosos normais sobre
esta "folga forçada" a verdade é que nunca me senti tão feliz de voltar
ao trabalho. Não somente pelo trabalho, pela instituição e pela própria
tranqüilidade de ter aonde ganhar o pão, mas também por ser um sinal de que
a vida está voltando ao normal aqui na nossa Itajaí.
As fotos que circulam na internet e os telejornais já nos dão as imagens
claras de tudo que aconteceu então não vou me estender narrando e
descrevendo as cenas vistas nestes dias. Todos vocês já sabem de cor. Eu
quero mesmo é falar sobre lições aprendidas.
Por mais que teorias e leituras mil nos falem sobre isso ainda é
surpreendente presenciar como uma tragédia desse porte pode fazer aflorar no
ser humano os sentimentos mais nobres e os seus instintos mais primitivos.
As cenas e situações vividas neste final de semana prolongado em Itajaí nos
fizeram chorar de alegria, raiva, tristeza e impotência. Fizeram-nos perder
a fé no ser humano num segundo, para recuperar-la no seguinte. Fez-nos ver
que sempre alguém se aproveitará da desgraça alheia, mas que também é mais
fácil começar de novo quando todos se dão as mãos.
Que aquela entidade superior que cada um acredita (Deus, Alá, Buda, GADU
etc.) e da forma que cada um a concebe tenha piedade daqueles:
- Que se aproveitaram a situação para fazer saques em Supermercados, levando
principalmente bebidas e cigarros
- Que saquearam uma farmácia levando medicamentos controlados, equipamentos
e cofres e destruindo os produtos de primeira necessidade que ficaram assim
como a estrutura física da mesma.
- Que pediam 5 reais por um litro de água mineral.
- Que chegaram a pedir 150 reais por um botijão de gás.
- Que foram pedir donativos de água e alimentos nas áreas secas pra vender
nas áreas alagadas.
- Que foram comer e pegar roupas nos centros de triagem mesmo não tendo suas
casas atingidas.
- Que esperaram as pessoas saírem das suas casas para roubarem o que
restava.
- Que fizeram pessoas dormir em telhados e lajes com frio e fome para não
ter suas casas saqueadas.
- Que não sentiram preocupação por ninguém, algo está errado em seu coração.
- Que simplesmente fizeram de conta que nada acontecia, por estarem em
áreas secas.

Da mesma forma, que essa mesma entidade superior abençoe:
- Aqueles que atenderam ao chamado das rádios e se apresentaram no domingo
no quartel dos bombeiros para ajudar de qualquer forma.
- Os bombeiros que tiveram paciência com a gente no quartel para nos
instruir e nos orientar nas atividades que devíamos desenvolver.
- A turma das lanchas, os donos das lanchinhas de pescarias de fim de semana
que rapidamente trouxeram seus barquinhos nas suas carretas e fizeram tanta
diferença.
- À equipe da lancha, gente sensacional que parecia que nos conhecíamos de
toda uma vida.
- Aos soldados do exército do Paraná e do Rio Grande do Sul..
- Aos bravos gaúchos, tantas vezes vitimas de nossas brincadeiras que
trouxeram caminhões e caminhões de mantimentos.
- Aos cadetes da Academia da Polícia Militar que ainda em formação se
portaram com veteranos.
- Aos Bombeiros e Policias locais que resgataram, cuidaram , orientaram e
auxiliaram de todas as formas, muitas vezes com as suas próprias casas
embaixo das águas.
- Aos Médicos Voluntários.
- Às enfermeiras Voluntárias.
- Aos bombeiros do Paraná que trabalharam ombro a ombro com os nossos.
- Aos Helicópteros da Aeronáutica e Exercito que fizeram os resgates nos
locais de difícil acesso.
- Aos incansáveis do SAMU e das ambulâncias em geral, que não tiveram
tempo nem pra respirar.
- Ao pessoal do Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo, que mostrou que
longo é o braço da solidariedade.
- Ao pessoal das rádios que manteve a população informada e manteve a
esperança de quem estava isolado em casa.
- Aos estudantes que emprestaram seus físicos para carregar e descarregar
caminhões nos centros de triagem.
- Às pessoas que cozinharam para milhares de estranhos.
- Ao empresário que não se identificou e entregou mais de mil marmitex no
centro de triagem.
- A todos que doaram nem que seja uma peça de roupa.
- A todos que serviram nem que seja um copo de água a quem precisou.
- A todos que oraram por todos.
- Ao Brasil todo, que chorou nossos mortos e nossas perdas.
- Aos novos amigos que fiz no centro de triagem, na segunda-feira.
- A todos aqueles que me ligaram preocupados com a gente.
- A todos aqueles que ainda se preocupam por alguém.
- A todos aqueles que fizeram algo, mas eu não soube ou esqueci.

Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina um anônimo escreveu isto:

COMEÇAR DE NOVO
Eu tinha medo da escuridão
Até que as noites se fizeram longas e sem luz

Eu não resistia ao frio facilmente
Até passar a noite molhado numa laje

Eu tinha medo dos mortos
Até ter que dormir num cemitério

Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires
Até que me deram abrigo e alimento

Eu tinha aversão a Judeus
Até darem remédios aos meus filhos

Eu adorava exibir a minha nova jaqueta
Até dar ela a um garoto com hipotermia

Eu escolhia cuidadosamente a minha comida
Até que tive fome

Eu desconfiava da pele escura
Até que um braço forte me tirou da água

Eu achava que tinha visto muita coisa
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas

Eu não gostava do cachorro do meu vizinho
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar

Eu não lembrava os idosos
Até participar dos resgates

Eu não sabia cozinhar
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome

Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras
Até ver todas cobertas pelas águas

Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome
Até a gente se tornar todos seres anônimos

Eu não ouvia rádio
Até ser ela que manteve a minha energia

Eu criticava a bagunça dos estudantes
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias

Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos
Agora nem tanto

Eu vivia numa comunidade com uma classe política
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora

Eu não lembrava o nome de todos os estados
Agora guardo cada um no coração

Eu não tinha boa memória

Talvez por isso eu não lembre de todo mundo
Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos

Eu não te conhecia
Agora você é meu irmão

Tínhamos um rio
Agora somos parte dele

É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio
Graças a Deus

Vamos começar de novo.
(Anônimo)


É hora de recomeçar, e talvez seja hora de recomeçar não só materialmente.
Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se reinventar e de
crescer como ser humano.
Pelo menos é a minha hora, acredito.
Que Deus abençoe a todos. (autor desconhecido, pelo menos de mim)

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