segunda-feira, dezembro 01, 2008

Abuso

A muito que vem se debatendo a posição da televisão frente a situações de extrema polêmica. É claro que isto não fica só na televisão, isso vale para a imprensa de modo geral. As questões éticas por vezes passam longe das redações dos jornais, que preferem divulgar uma notícia superficial e mal apurada a perder o furo de reportagem para algum concorrente. É nesse afã que muitas informações erradas são passadas pelo público, pois ainda vale aquele dito popular de que "quem conta um conto, aumenta um ponto". Foi assim no caso da Escola Base lá em São Paulo e é assim em qualquer crime que esteja sendo investigado ou que tenha acontecido. A imprensa tá lá mostrando minuto a minuto todos os acontecimentos do fato e dando munição ao criminoso para se safar. Um dos casos mais recentes foi o seqüestro em Santo André, onde o criminoso deu várias entrevistas a emissoras de rádio e televisão durante o tempo em que mantinha suas vítimas em cárcere.
Esta não é a função do jornalista. Nunca foi e aproveitar-se de uma situação extrema para vender jornal e aumentar audiência também é um crime. Eu sou jornalista, cursei quatro anos de faculdade e trabalhei em jornal. Digo abertamente que me decepcionei com a maneira que o jornalismo é encarado hoje em dia. Não existe mais uma função social, pois o sensacionalismo tomou conta de tudo, são raros os noticiários que buscam apresentar uma informação bem trabalhada, investigada de forma verdadeira objetivando da elucidação dos fatos. Quando acontece uma tragédia, seja lá de que magnitude, apenas aquilo é noticiado, e as imagens são as mesmas em todas as emissoras, o enfoque informativo é o mesmo e as entrevistas não passam de um cutucão na ferida abertas das vítimas que não sabem o que dizer, porque a dor é imensa. Mas o repórter tá lá enfiando o microfone na cara das pessoas, sem pensar em nem por um momento na fragilidade daquela criatura que pode ter perdido tudo ou que ainda não tomou conhecimento do tamanho do problema que está enfrentando.
Tenho consciência de que o jornalismo que gostaria de fazer não é prática em jornal algum. Minha maneira de ver as coisas e de querer passá-las é romântica, ocupa espaço e pode não fazer com que os jornais sejam comprados. Até porque esta maneira de trabalhar a informação requer tempo para ouvir todos os lados do mesmo fato, precisa de interesse pelas coisas que envolvem aquele acontecimento e muitas vezes pesquisa para uma comparação e o jornal tem que ser fechado hoje, o site tem que ser atualizado agora, a notícia tem que ir ao ar daqui a meia hora.
No entanto, mesmo trabalhando na correria, fazendo entrevistas pelo telefone e escrevendo dez matérias por edição de jornal dá para atuar de forma coerente e ética no jornalismo, basta querer. Basta que se tenha ética na vida.
Dos livros que li na faculdade o que considero como mais importante na minha formação é A Regra do jogo, do jornalista Cláudio Abramo. Naquelas páginas está demonstrada que não existe a ética do jornalista, mas a ética do marceneiro. É como ter caráter. Caráter todos tem, o que difere é que uns são mau caráter e outros são bons. Abramo diz em seu livro que é uma ética apenas que existe, não dá para eu pensar e agir com uma ética na minha vida profissional e na minha vida familiar e social de outra. Ou sou ética nas duas ou em nenhuma.
Porque comecei a falar sobre tudo isto, depois de ler a notícia de que o Ministério Público pede uma indenização de R$1,5 milhão a RedeTV, através de ação civil pública pela entrevista divulgada no programa da apresentadora Sônia Abraão, A Tarde é sua. Foram exibidas duas entrevistas com Lindenberg e a ex-0namorada Eloá. A primeira entrevista foi ao vivo, durante o cárcere e a segunda foi gravada. O MP considera que a atitude atrapalhou a ação policial. O que é criticado por muitas pessoas pois o que se percebeu foi que o bandido monitorava a atuação da polícia pelas notícias da tevê.

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