terça-feira, novembro 23, 2010

Os absurdos de um país que diz não ter preconceitos

Eu digo sim que não tenho preconceito, sem medo de estar  sendo hipócrita, até porque, já levei e levo muita pancada por conta da minha sinceridade. Quando não gosto de algo que vejo, ouço ou até mesmo penso, demonstro na face o desagrado. É ruim, é muito ruim, mas não posso ser acusada de cínica. O fato é que sou pobre, me criei numa família simples, mas de valores morais e éticos fortes. Tão fortes quanto misturados, é misturados sim, assim como 90%, ou seriam 100%, da população brasileira. Aliás, seguido digo isto não existe por aqui nem negro puro, tão pouco branco, depois que o Cabral chegou a mistura foi o que reinou, pra nossa sorte. Afinal tenho certeza de que é a mistura que faz do brasileiro um povo bonito. No entanto... infelizmente, e apesar de toda a mistura ainda tem gente que guarda preconceito pela cor da pele ou pela nacionalidade, embora jure de pés juntos que não.
É esta negação que torna o que uns dizem sinceramente uma hipocrisia total. Porque sim, eu não tenho preconceito, qualquer que seja, mas não posso garantir que aqueles que convivem comigo compartilham do mesmo pensamento. Aliás, alguns dizem claramente que tem preconceito. O que eu deveria fazer com eles? Discriminar como eles fazem? Não, eu não tenho preconceitos e muito menos a pretensão de mudá-los. Afinal... só a vida pode mudar a gente, através da gente mesmo.
Uma vez conversando com uns amigos chegamos ao assunto do preconceito. Eu defendia que embora a maioria das pessoas negassem ainda havia preconceito de cor e que este era o mais visado por causa da postura, corretissima, daqueles que denunciam o crime. Foi ai que um amigo meu trouxe um argumento que realmente não tive como refutar. Ele disse que hoje em dia existe sim inúmeros tipos de preconceitos, mas nenhum é tão forte quanto o da classe social.
Analisando a fala do senhor Luiz Carlos Prates, tão comentado nos últimos dias, tenho que dar, mais uma vez a mão a palmatória e concordar. No entanto, embora o preconceito contra os pobres seja enorme, a violência física ainda ocorre mais quanto voltada para outros tipos de preconceito.
Fico chocada com os argumentos usados pelas defesas dos agressores para tentar convencer que a violência não foi por este ou aquele motivo. É homofobia, é violência contra a mulher, é porque é pobre, é porque é nordestino, é porque é negro, ou índio, é porque é torcedor do time tal. Tá na rua, tá no jornal e com certeza saiu de dentro das casas. Porque nenhuma criança ou adolescente vai expressar tanto ódio contra uma coisa ou pessoa que mal conhece se não vê isto no cotidiano. Se não entende tal coisa como normal, ou melhor como ANORMAL.
O que é o bullying?  Nada mais do que a expressão do preconceito contra os "mais fracos". Eu sofri bullying quando criança, aliás, sofro até hoje, afinal eu não cresci muito, mas nunca fui fraca, pelo contrário, encarava os agressores. Até porque, como disse neste post aqui, tô mais pra incrível Hulk do que pra Mulher Maravilha. Concordo com a Nani People, quando ela diz que "só fazem com a gente o que deixamos que façam". É a pura verdade, mas quando a coisa passa a ser uma corrente de pensamento geral, é difícil de lutar contra sozinho.
O que mais me choca é a irracionalidade, a falta de motivos com que agem estes agressores e mais ainda com os argumentos, que me indignam absurdamente, dos pais e advogados que os defendem. Não me sai da cabeça a fala da mãe de uma daquelas criaturas que agrediram três rapazes na avenida Paulista em São Paulo com lâmpadas fluorescentes. Ela disse que eles eram "meninos de 16 anos e que estavam lá dentro chorando"! Quer dizer, temos que ter pena deles? Eles golpearam um dos rapazes no rosto, sem mais nem porquê.
Realmente eu tenho pena deles, afinal, eles não receberam noções de certo e errado, tampouco limites. E continuarão fazendo coisas erradas, pois os pais tratam o ocorrido como se não tivesse sido nada, como se fosse apenas uma brincadeira.
Uma testemunha afirma que os garotos agrediram porque o grupo era homossexual.  Mesmo sabendo que a culpa de eles serem assim vem da má criação que tiveram, eles devem responder pelo que fizeram, devem ser responsabilizados sim, menores ou não. No entanto, eu, como uma grande parte da população não crê que isto irá acontecer, afinal de contas os mocinhos são da classe média e devem, no máximo, pagar umas cestas básicas e pronto. A esperança vai se esvaindo, estou perdendo a fé, principalmente se as questões envolvem política e grana. Aí mesmo que a esperança está mortinha da silva!
Há alguns anos, antes de toda esta balburdia, ódio e violência contra homossexuais, nordestinos, pobres, negros e as ditas minorias estarem tão fortes, havia uma campanha na televisão que questionava "aonde tu guardas o teu preconceito?". Em cima deste questionamento, em 2006 escrevi um texto reflexivo a respeito do que penso sobre o preconceito.
Mesmo sem muita fé eu continuo fazendo as coisas da forma como aprendi, o que é certo é certo e o que é errado deve ser punido, pois a vida é assim, se erras ela te cobra, mais cedo ou mais tarde.

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