quarta-feira, outubro 15, 2008

Política promíscua

Muita gente diz que não gosta de política. Eu, ao contrário destas pessoas, gosto, tanto que chego a estudar fatos da história e é justamente observando estes fatos que percebo que realmente a política perdeu sua essência. Sim, sempre aconteceram fatos desagradáveis em relação aos homens públicos, corrupção, negociatas, conchavos. Mas a coisa era muita mais definida. Quando o Ivan Duarte diz: "pela esquerda companheiros, coerência, coerência, coerência" está demonstrando verbalmente o que estou lhes dizendo. Não há mais direita e esquerda. Os partidos políticos rigorosamente esquerdistas e extremistas em sua ideologia, hoje não passam de meros negociadores de cargos de "puder".
Façamos uma breve observação: PMDB, antigo Movimento Democrático Brasileiro, lutou contra a ditadura militar, encabeçou a luta pelas diretas, anistia e assembléia nacional constituinte. Era a única oposição legalmente reconhecida pelos milicos que o país teve durante 20 anos de regime ditatorial. Após a reforma partidária acrescentou o Pê de Partido ao antigo nome e parece que com isto perdeu sua característica de oposição. Recebeu como membro o senhor José Sarney, que veio a ser o primeiro presidente civil pela impossibilidade do candidato a presidente, Tancredo Neves que morreu antes de assumir o cargo. O detalhe é que Sarney era presidente da Arena, partido que apoiava aertamente a ditadura. Até hoje este senhor faz parte das esferas do "puder", não se houve negociação de partidos sem ouvir seu nome ou a citação do seu partido.
ARENA (Aliança Nacional Renovadora), esta declarou seu apoio ao regime de exceção. Seus políticos eram membros das altas rodas do poder desde o regime militar. Mas o PMDB também, mesmo antes do golpe Tancredo Neves já freqüentava a residências dos presidentes, tanto que agiu ativamente durante o governo do também ditador Getúlio Vargas. Observando ambos no período de 20 anos em que durou a ditadura militar eles parecem bem distantes, mas... sua essência é praticamente a mesma quando se disseca. Depois da reforma partidaária virou PDS, daí o Tancredo que era do MDB filiou-se a ele.
PC do B e PCB - ambos ilegais segundo o regime ditatorial. Ou melhor, segundo todos os regimes ditatoriais. A ameaça comunista ia muito além da velha história de "comer criancinhas", suas ações encantavam jovens que buscava um mundo melhor. E a possibilidade de retirar o poder dos velhos aristocratas jamais poderia vir a acontecer, pois, defendiam os políticos tradicionais, o mundo viraria um caos vermelho. Mesmo postos na ilegalidade os comunistas e socialistas não desestiram de lutar, defenderam o país do golpe que se instalou em 1964. Alguns membros dos partidos comunistas lutaram com as mesmas armas, algumas literalmente, dos milicos. A guerrilha armada não foi um ataque, foi sim uma defesa.
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro, fundado pelo ex-presidente Getúlio Vargas também foi "encerrado" durante a ditadura, sendo reativado por Ivete Vargas, logo após a instalação do multipartidarismo. O PTB foi alvo de disputa entre Ivete e Brizola, ambos herdeiros da política getulista, mas a sigla ficou com ela obrigando Leonel Brizola a fundar um novo partido com seus correligionários, surge então o PDT - Partido Democrático Trabalhista.
Nasce também neste período o PT - Partido dos Trabalhadores, fundado por sindicalistas do ABC paulista, entre eles o atual presidente Luis Inácio da Silva. Na época os jornais colocavam o nome do presidente do sindicato dos metalúrgicos seguidos de; o Lula.
Com este breve e curtíssimo histórico, pois faltam muitos partidos como o PFL de ACM, entre outros, observamos que a maioria dos partidos surgidos após o regime militar eram de oposição. Obviamente bem demarcadas as características e as ideologias de cada um. Agora observe os homens que fazem parte do governo Lula, pense em seus nomes, em que lugar estavam durante a ditadura militar, e quais são os seus partidos. Todos os partidos vendem seus apoios por cargos. E mesmo assim tem cara de pau suficiente para atacar o outro durante as campanhas eleitorais.
Aqui em Pelotas, enquanto o PT de Marroni, coligado com o PSB, PC do B, tem o apoio de Anselmo Rodrigues do PDT, mas parte do partido apoia o candidato Fetter Júnior, do PP, coligado com o PTB e o PPS. O atual prefeito e candidato também recebeu o apoio do PV, do PSDB, PMDB, sendo este coligado com o PT no governo federal.
É uma promiscuidade tão grande, que causa confusão nos mais atentos.
Então eu pergunto cadê a essência destes partidos? Como é que o Partido Verde, do Fernando Gabeira ex-preso político, exilado pode apoiar um candidato do PP, ex-PDS, ex-arena que apoiava o regime militar? Não faz sentido nenhum. A política é feita de homens e sabemos que muitos dos eleitores vota na pessoa e não no partido, mas uma agremiação política deveria, pelo menos, ser fiel a sua ideologia, se é que alguma, além do PSol, ainda tem.
É por estas e outras que eu realmente ainda estou pensando se vou votar em branco ou se vou dar meu voto a algum destes candidatos. Tá certo que nenhum deles deve se negar a receber apoio. Mas sejamos francos, se ideais tão distantes se juntam numa mesma campanha depois de se digladiar escancaradamente no primeiro turno não é por afinidade de opiniões ou pelo bem da comunidade e sim pelo intere$$e$ que envolvem a política e este poder que ela tem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentem pessoal, mesmo que suas opiniões sejam diferentes das minhas eles serão publicados. Só não pode comentário ofensivo, dedo no olho e mordida na orelha. Por favor assine seus comentários, não há porque ser anônimo quando se dá opinião. Comentários sem assinatura não serão publicados!