quinta-feira, abril 16, 2009

Vida de Gado

Tem algumas músicas que fazem uma analogia do ser humano com o gado, talvez a mais conhecida seja "admirável gado novo", do Zé Ramalho. E outra me lembra o quanto o tropeiro se irmana com o boi durante uma tropeada é o caso de "Poncho molhado", de Jose Hilário Retamozzo.
O touro é um animal que parece pacífico. Na Índia as vacas são adoradas como animais sagrados, tem direito de passagem nas ruas, ganham comida na boca (claro que isso é parte da história). Já na Espanha o touro é massacrado em arenas, lutam com homens, estes achando que estão de igual para igual com o animal, no entanto estão armados com espadas e espetos que o fazem sofrer numa dança que seduz muitos olhares.
No entanto, a visão mais comum que se tem do gado é sendo levado em comitivas para fazendas e matadouros. É aquela imagem da manada sendo conduzida sem revoltas, eles vão todos juntos sendo tocados, empurrados para o matadouro, sem pensar, sem nada, seu destino é só um. Como diz a letra de outra música "Os homens de preto", "Os homens de preto trazendo a boiada/ Vêm rindo, cantando, dando gargalhada/ o bicho coitado não pensa em nada/ Só vai pela estrada direito a charqueadas/ Deus, Deus, Deus, Deus, Deus, você fez". Deve ter sido assim que os passageiros do trem no Rio de Janeiro se sentiram, sendo empurrados, chicoteados e agredidos para entrar nos vagões e sair das portas.
O que me chocou é alguns passageiros declararem que as agressões ocorriam constantemente. Por outro lado fiquei aliviada com a declaração do responsável de que os seguranças não tinham permissão para portar armas. Ainda bem né?! Porque imaginem se no momento em que aconteceu a confusão ao invés de um chicote o cara tivesse uma arma?
Eu confesso, tenho medo de multidões. Não gosto de muita gente na minha volta e de ter a sensação de que não tenho saída, que tem tanta gente a minha volta que não tenho como me mexer. Isso me dá pânico, me dá falta de ar. E geralmente, quando estou numa situação destas, quando estamos numa situação destas somos levados pela multidão, não temos escolha de ir por aqui, de ir pra lá, pois tem tanta gente, somos tantas reses, que não há como pensar e agir individualmente. Tente fazer isso num show? Vá num show bem lotado ou num jogo de futebol e preste atenção em como acontece a entrada ao abrirem os portões. Meu medo não é apenas por que me sinto gado, mas principalmente pelo motivo de que, qualquer coisa que acontece numa situação de "gentarada" tem uma dimensão muito maior. Um professor meu disse uma vez que "se na multidão alguém disser, 'vamô invadi', não há controle e eles invadem", as pessoas se machucam, são massacradas, mas ninguém pensa. A diferença entre nós, seres humanos numa multidão e do gado numa manada é que na boiada não tem um touro que diz, 'vamô invadi negada!'.

* A foto eu peguei emprestada no Suco de Cevada.

2 comentários:

  1. Por outro lado, nós usuários de transporte público, precisamos nos adestrar e tomarmos consciência de que transporte público de massas, sem massas deixa de ser transporte público. Perde sua razão de existir. E não queremos isso, ou queremos?

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  2. Ótimo post, obrigado pela referência. Hoje o Ricardo Boechat detonou o secretário municipal de transportes, Julio Lopes, com relação às Barcas S.A. Outra vergonha.

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