quarta-feira, março 25, 2009

Não devia ser assim

Não deveria, mas é exatamente assim que acontece. Olhamos os corpos jogados no chão e enxergamos apenas o empecilho de passar pela calçada, notamos apenas o mau-cheiro incômodo, ouvimos apenas o barulho que nos desperta à noite.
Nunca paramos para dar atenção, porque não enxergamos as pessoas, não sentimos tristeza pela situação deles, não ouvimos o pedido de socorro abafado em seus peitos cobertos com papelão.
Muitos de nós pensamos que não temos nada a ver com isso, não é problema nosso, ou eu pago meus impostos a prefeitura que faça algo e os leve para longe dos meus olhos, afinal, como diz o ditado, "o que os olhos não veêm, o coração não sente". E porque vendo-os todos os dias, ouvindo-os à noite talvez eu acabe me conscientizando de que ali, bem ali na calçada tem gente. Gentes que, ao contrário do que pensamos, não estão ali porque querem. Sim, todos temos oportunidades, capacidade e possibilidades. Quem sabe alguns podem até estar na rua porque querem, o que não anula a possibilidade de existir um motivo forte que os levou a esta escolha.
Além disso, eles estão ali para aprender e para nos ensinar também. Ensinar, principalmente, que não somos ilhas, que por mais difícil que seja nossa vida, nossos problemas não podemos perder a capacidade de nos indignar com certas situações e de nos colocar no lugar do outro. Não podemos nos desumanizar. Afastá-los não resolverá o problema, será apenas uma trégua a nossa consciência.
Quando eles não estiverem mais ali não vamos sequer nos dar conta de que agora conseguimos passar pela calçada e que perdemos mais um pouco aquele sentimento que nos faz gente.

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