Caravana JN

Tal qual político em campanha o Jornal Nacional, da Rede Globo resolveu colocar, literalmente, o pé na estrada e mostrar aos brasileiros o seu país e o desejo dos cidadãos para o futuro. Pelo menos este é o objetivo anunciado pelo “casal nacional”, formado por Willian Bonner e Fátima Bernardes, que aqui e acolá participam de algumas matérias nas cidades eleitas para a transmissão ao vivo. Diariamente quem faz matérias e entrevistas e acompanha o ônibus, adaptado especialmente para a série, é o jornalista Pedro Bial. Percebo uma tentativa de resgatar aquele repórter que fez coberturas de guerra e que outrora mostrava talento para um jornalismo puro, hoje quando olho para o Bial o que vejo são aquelas crônicas malditas durante a Copa do Mundo e os absurdos apresentados ao vivo no Big Brother Brasil.
Respeito o trabalho do Bial e reconheço [como diria minha amiga Ana Paula Penkala,] “até ele tem que pagar o aluguel e comer”. (Ela fala isso em relação a toda a pessoa que tem talento, mas que se submete a certas merdas para ganhar algum$$$$ e se sustentar).
Mas o que matuto aqui é: Que diabos de Brasil eles pretendem mostrar? Afinal de contas aonde eles querem chegar e o desejo de QUEM eles querem mostrar aos brasileiros?
Reconheço que mostrar as Missões aos outros cidadãos do país é legal, mas, volto a matutar, se o objetivo é mostrar o que há de bom e ruim no país porque só mostram os bons índices de cada lugar? Porque as cidades escolhidas para as transmissões (ao vivo) são cidades com potencial turístico e que, sendo assim, tem certo destaca no cenário nacional?
As rodovias federais estão sendo “reformadas”, alguns trechos (em péssimas condições como o sabem os viajantes e caminhoneiros) estão sem sinalização na faixa, há partes que não foram realizadas, talvez ainda, as manutenções, porque isso não aparece na “caravana”? Porque lugares pobres e favelas não são contempladas com a visita do espetacular ônibus que carrega a tripulação do JN? Será que é porque o dito é maior e tem mais conforto que muitos barracos da periferia do nosso Brasil? Se o Brasil está com índices tão bons porque a cada programa e intervalo comercial vem alguém pedir uma doação, ou duas ou mais, para o Criança Esperança?
Mais uma vez a hipocrisia vence. O jornal (deve defender o editor do JN, Bonner) tem que ter matérias de fácil entendimento para a população, como ele costuma dizer nas reuniões de pauta de onde, certa vez, saíram indignados professores de Jornalismo. Falam superficialmente da história do lugar, mostram de forma insuficiente a cultura e o cotidiano de uma gente que gostaria de ter mais, mas não tem a quem recorrer porque a mídia está atolada em toda a sujeira que assola o país até os cabelos. Mostrar um país legal serve para reeleger o presidente Lula, que de certa forma beneficia as Organizações Globo, ao passo que mostrar incessantemente os atentados e todo o caos que vive São Paulo serve para desmoralizar, o já desmoralizado, Cláudio Lembo e o candidato a Presidência Geraldo Alckmin. Não estou aqui defendendo este ou aquele, ao contrário, estou tão descrente que creio serem todos “farinha do mesmo saco” mudando apenas a embalagem. No entanto, não é possível calar e compactuar com uma imprensa muitas vezes leviana. A censura ainda existe sim, diferentemente dos tempos da Ditadura Militar, é claro, mas de forma tão perigosa e destrutiva quanto naquele tempo. Agora falam mais alto as benesses e o dinheiro, ao contrário dos militares que defendiam, a sua maneira truculenta e indesculpável, sua ideologia e seu poder.
Sou jornalista, de direito e de fato, e não vejo como o nosso país possa mudar estando essa corja aí como está. Infiltrada nos meios de comunicação, em todos os escalões do Governo, em todas as esferas do poder, soltos pelas ruas.
Eu sugiro que todos assistam ao filme Good night. and, good luck. e será possível ter alguma idéia do que é a imprensa e suas relações com o poder. A todos BOA NOITE E BOA SORTE!