quarta-feira, novembro 30, 2011

"Porque alguns são mais iguais que outros"

Eu não quero que o ex presidente Lula faça o tratamento oncológico dele pelo Sistema Único de Saúde. Quero sim, e anseio muito, que todos os cidadãos brasileiros tenham o mesmo tratamento dispensado a ele, ao José Alencar, a Dilma ou ao Mendes Ribeiro Filho. Desejo a verdadeira igualdade. Não quero que nenhum deles sofra na pele o descaso com que muitos administradores públicos e políticos tem com o povo. Gostaria que eles agissem de forma mais efetiva para que, todos os recursos arrecadados para a saúde, sejam realmente investidos na saúde, contratando e pagando dignamente os trabalhadores da área, equipando hospitais, qualificando postos de atendimento, agilizando atendimentos e exames. De nada me adiantaria, e a nenhum de nós, que o Lula ou quem quer que seja morra agonizando numa fila do SUS. Pois morrem diariamente centenas de pessoas, outras tantas ficam mofando nos corredores por falta de leito e mais uma penca se quer consegue sair de casa tamanha sua debilidade física e adianta algo? Muda ou mudou alguma coisa?
Acaso aconteceria uma mágica ou milagre se alguma dessas pessoas, qualquer delas, fossem realizar seu tratamento nos hospitais públicos? Alguém crê que mudariam as coisas realmente?
Nosso sistema de saúde é muito falho, tem poucos trabalhadores de saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares), faltam hospitais, equipamentos, enfim... São horas de filas para uma consulta de minutos. São muitas denúncias de desvios e corrupção. Sem falar em equipamentos defasados.Sofremos com o sucateamento das ambulâncias para transporte de pacientes. E ainda tem a tão falada central de leitos, os agendamentos de consultas que parecem impossíveis, mantendo o atendimento por ordem de chegada, como se fosse possível comparar uma enfermidade com outra. Colocando nas mãos de alguns médicos a decisão de que vida salvar.
Trabalhei na Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas, com uma médica psiquiatra apaixonada pelo SUS. E a defesa dela é muito clara e correta. Pois a base do Sistema Único de Saúde, no papel, se assemelha ao sistema público de saúde de Cuba, no qual todos tem atendimento com médicos qualificados, sem distinções e com rapidez.
Posso falar com conhecimento que, no caso de algumas doenças, o atendimento funciona bem, como é no caso da tuberculose e do HIV/Aids. Em ambos, os medicamentos são dados gratuitamente na rede pública, bem como o diagnóstico e o acompanhamento. No caso do HIV está incluído o atendimento psicológico que é de suma importância, visto que a epidemia da Aids ainda representa um grande monstro na nossa sociedade, apesar dos avanços no tratamento da doença. Com certeza, a um cidadão proletário, caso da maioria dos brasileiros, não seria possível cobrir as custas do tratamento com seu mísero salário. Pelo que pude constatar, bem de perto, no caso do HIV e da tuberculose o tratamento é sim de primeira.
Padecemos de outros males que fogem do campo atendimento médico. Ainda existe muitos problemas de infra estrutura, saneamento básico, tratamento adequado de água, que causam moléstias "menores" mas não menos graves e letais.
Eu quero a igualdade de todos! Mas não que os que tem mais sofram as mazelas pelas quais os que tem menos passam. Quero o contrário, desejo que todos nós tenhamos as mesmas oportunidades, as mesmas chances e os mesmos direitos. Minha visão de igualdade é que os mais pobres sejam tratados como o Lula, com as mesmas "regalias" e com a mesma qualidade.

segunda-feira, novembro 28, 2011

Sincretismo - Sérgio Santos

O negro religioso
Dentro de casa tem seu gongá
Porém desde o cativeiro
Mudou de nome seu Orixá
E assim Dona Janaína
É Nossa Senhora da Conceição,
Oxum é a das Candeias,
Oxossi é São Sebastião

Saravá
Meu santo,
Amém.

São Roque é Obaluaiê
Como Santa Bárbara é Iansã,
São Lázaro é Omolu,
São Jorge é Ogum, Santana é Nana
E assim São Bartolomeu é Oxumaré,
São Pedro é Xangô,
Obá é Joana D'Arc
E Pai Oxalá é Nosso Senhor

Saravá
Meu santo,
Amém.    


Compartilho a música de Sérgio Santos porque dia de Consciência Negra é todo o dia.

quinta-feira, novembro 24, 2011

Violência contra Mulher não acontece só em novela - Blogagem Coletiva pelo #FimDaViolênciaContraMulher

Atualmente duas novelas tratam do tema violência doméstica, uma na rede Globo e outra na rede Record. Não vou poder falar muito da "Fina Estampa", pois não assisto, apenas sei, que o personagem de Alexandre Nero pratica toda sorte de violências contra a personagem vivida por Dira Paes. Casualmente assisti ao capítulo em que Baltazar tentou matar Celeste e foi salva por Crô (um personagem gay, extremamente caricato) e é preso em flagrante. A ministra da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes criticou a novela e sugeriu que Celeste denunciasse o marido ao Disque Denúncia 180. Foi criticada pelo autor da novela. Não vou entrar na polêmica de isto tá certo ou isto tá errado, até porque, como disse, não assito a novela. Mal ou bem, apareceu alguns personagens argumentando com Celeste de que ela deveria sim denunciar o marido. Parece que, depois que a personagem principal na trama ficou rica, Celeste se empoderou um pouco mais de sua vida, e passou a enfrentar o marido. No entanto, continua vivendo sob o mesmo teto que o marido agressor.
Não sei os motivos do ciúmes e das brigas nesta trama, mas agressores de mulheres, de modo geral, batem nas esposas, namoradas, noivas e companheiras por qualquer motivo, por tudo e por nada, pois acham-se donos delas e como tal podem fazer o que bem lhes aprouver.

Na trama da Record o drama da violência doméstica vem aparecendo com mais constância. Na verdade o problema da violência contra Mulher seja ele dentro de casa com agressões físicas, seja moral ou psicológica. O próprio Marcelo Serrado, que vive o capachão de Tereza Cristina na trama de Aguinaldo Silva, já foi um marido abusador em outros dois folhetins da emissora. Em Vidas Opostas, de 2006/2007, Serrado vivia um delegado de polícia corrupto que submetia a mulher as mais absurdas formas de violência, tendo utilizado até o soro da verdade para obter confissões de traições por parte dela. Ele também praticava estupros, e eram vítimas sua própria esposa e mulheres com as quais ele se envolvia. A face macabra da personagem se apresentava de maneira assustadora. Entre suas vítimas favoritas estava a garota de programa Daniela (Gabriela Durlo) e a socialite Erínia (Lavínia Vlasak). O foco, creio eu, não fosse a violência de forma específica contra a mulher, mas a perversão dele. No entanto, percebia-se claramente o medo e a tensão na relação marido-mulher, que dele era do dono para com um objeto e das mulheres de muito medo. Não lembro bem como ocorreu a separação dele com a esposa, vivida pela atriz Ana Paula Tabalipa. Mas ela a torturava fazendo-a vestir-se com o vestido de noiva, dizendo que se ela se separasse ficaria com a guarda do filho, inclusive colocando o garoto contra ela em inúmeras ocasiões.
Em Poder Paralelo, também da rede Record, mais uma vez Marcelo Serrado tem o papel de vilão e demonstra o machismo acentuado no caráter do personagem Bruno Villar, que é uma espécie de mafioso e entre os inúmeros crimes e assassinatos que pratica esta o "desejo" de possuir sua amante, a atriz Fernanda Lira (personagem de Paloma Duarte) a qualquer preço e de qualquer forma. Além das agressões ele investiga o passado de Fernanda usando a toda hora, como forma de humilhação os acontecimentos. No caso de Bruno o machismo é escancarado. A primeira mulher, que tinha como grande sonho ser atriz é impedida por ele, pois isto não é trabalho de "mulher direita". E por amor ela se submeteu aos caprichos do marido. Até descobrir a amante, mas principalmente após descobrir os crimes praticados por ele, incluindo a morte do próprio pai.
O grande tratamento dado ao tema, de forma clara e objetiva está acontecendo na novela Vidas em Jogo, que atualmente vai ao ar entre 22h30 e 23h. Tá, talvez nem tão claro e nem tão objetivo, mas Lucinha Lins, que encarna a personagem Zizi, dá na sua interpretação a verdadeira dimensão do quanto é difícil para uma mulher romper com o agressor. Por culpa, por vergonha, por medo, por acreditar que o homem que ama irá mudar. Alzira saiu de casa muito cedo e foi, ainda muito guria, profissional do sexo. Foi quando exercía a profissão que conheceu Adalberto (Luiz Guilherme). apaixonaram-se e casaram. Ele a tirou da "vida" como costuma-se dizer por aí. No entanto, nunca conseguiu esquecer o passado da mulher ou mesmo acreditar em sua "honestidade".
Quando a filha, apaixonada por dança, decide ser dançarina ele a expulsa de casa, pois para ele dançarina é igual a prostituta. Este estigma é bem trabalhado, visto que ao não corresponder a um assédio durante o trabalho a personagem Rita (Julianne Trevisol) sofre uma tentativa de estupro. Junto com isto é demonstrado pela trama da novela o tratamento dado às vítimas deste tipo de crime pela sociedade e pela polícia. Apesar de todo o trauma e sofrimento porque passam as mulheres nesta situação ainda são culpadas pela violência sofrida, porque estavam em lugar inadequado, porque estavam sozinhas, porque vestiam-se com esta ou aquela roupa.
Andrea (Simone Spoladore) sente na pele, e demonstra muito bem, devo dizer, o quanto uma mulher pode ser humilhada após ser vítima de uma violência sexual. Ela foi coagita, pelo grande vilão do folhetim, a manter relações sexuais para preservar a vida do companheiro. Manter relações sexuais com alguém sob coação É estupro. A relação com o marido fica balançada porque, mesmo sob ameaça de morte, mesmo tendo ido pra cama coagida para salvar a vida do homem que amava, o namorado Lucas (Marcos Pitombo) não consegue superar seu preconceito, seu orgulho de macho ferido na "honra" de saber que sua mulher foi possuída por outro. Após a violência Andrea, com medo de ter ficado grávida, pois o bandido negou-se a usar camisinha, procura auxílio de uma médica, que a orienta a prestar queixa contra o estuprador, para garantir seu direito ao aborto, caso a suspeita se confirme. Mais uma vez a vítima é tratada como culpada. O próprio marido argumenta que não seria bom que ela denunciasse o bandido, visto que ela havia "consentido" em fazer sexo por ele para salvar sua vida. Mas a personagem não é de se deixar vencer. Mesmo sofrendo preconceito do delegado e tendo ouvido aquelas frases batidas ela registrou a queixa, argumentando que não tinha escolha, ou transava com Cléber (Sandro Rocha) ou o marido seria morto. O desfecho foi contrair o vírus HIV do bandido.
Zizi, Andrea e Rita são três personagens fortes, cada uma rica de valores e ideais. Zizi submete-se aos caprichos e as surras do marido por sentir culpa e vergonha de ter sido garota de programa. Ela crê que sem ele não será uma mulher respeitável. Ainda que seja ela o arrimo da família. Submete-se a violência acalentando o sonho de ter uma família.
Rita sente-se uma vitoriosa por conseguir realizar seu sonho de dançar, é uma lutadora, trabalha para conquistar seus objetivos. Mas sofre preconceito por ter escolhido uma profissão estigmatizada pelos olhos machistas da sociedade.
Andrea já começa incomodando pois, mesmo tendo curso superior, realiza se como motorista de táxi. Compunha o grupo do bolão da amizade com o intuito de abrir sua própria empresa de táxis. O que fez. Também sofreu tentativa de estupro e estupro e, por duas vezes, teve que ouvir os mesmos chavões do tipo "só é estuprada mulher que não se dá o respeito". Mas ela não se dobra e continua batendo de frente e defendendo seu direito de ser respeitada como mulher. Foi ela quem disse a Zizi que denunciasse o marido agressor. E talvez seja ela a grande heroína da história, vencendo seus medos.
A novela não é didática e não mostra como numa aulinha que mulher deve denunciar os abusos, mas mostra os caminhos. Toda a delegacia que aparece nas cenas da novela tem cartazes alertando que violência doméstica é crime e mostrando o número do disque denúncia 180. E mostra porque muitas demoram tanto tempo para romper o ciclo da violência. No outro canal talvez as personagens tivessem mais visibilidade, mãns...
_ Alguns dirão, é novela! É só uma novela!
Eu digo, é só uma novela um entretenimento que atinge um grande número de pessoas, incluindo criança, e justamente por ser uma novela que muitos casos e situações são suavizados. A novela é um meio de propagação, de conscientização, mesmo sob todas as críticas que se possa fazer ou dos erros que os autores podem cometer ao abordar tais temas. Acredite a realidade pode ser ainda muito mais cruel. Abra o jornal, olhe para o lado, coisas muito piores podem estar acontecendo e tu nem percebes. Leia a história da Maria da Penha, da Eloá, da Thays, da Raquel, e tantos outros casos REAIS com requintes de crueldade como o de Beatriz, que foi queimada ainda viva. Na grande maioria dos casos as mulheres foram mortas por maridos, namorados, noivos ou ex-esposos, namorados, noivos. São muitos casos não registrados e como uma epidemia vem aumentando. Pense nisso, violência contra mulher não acontece só em novela.
Quem ama não bate, quem ama não mata!

Charge: Carlos Latuff
PS.:Por favor, perdoem erros de digitação ou algum escorregão no português.

terça-feira, novembro 22, 2011

"Os homens não podem confundir igualdade com grosseria"

Embora o comercial de "Tampax" dissesse que, "incomodada ficava a sua avó", ainda hoje, eu fico sim muito incomodada, e não é com a menstruação ou os incômodos típicos do período. Fico muitíssimo irritada com atitudes grosseiras de alguns homens - principalmente se ele for um comunicador, jornalista ou radialista - que colocam as lutas feministas como algo sem importância ou falta do que fazer. Os mesmos cidadãos costumam se colocar como seres desprestigiados, uns pobres coitados. A argumentação começa errada, pois consideram o dia Internacional da Mulher desnecessário ou obsoleto.
Os dias que marcam as lutas pelos direitos da mulher, como o 25 de novembro, por exemplo,  não servem pra ganhar parabéns ou presentes, como sugerem alguns acéfalos. Qualquer pessoa, minimamente consciente, ao se deparar com dados como o de que no Brasil, "diariamente uma média de 10 mulheres são assassinadas", saberia a importância das datas de conscientização e luta pelos direitos das mulheres. Segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo "nos últimos 12 meses,  1 milhão e 300 mil mulheres, com mais de 15 anos, foram agredidas." E o mais dramático é saber que o número de agressões vem crescendo, como aponta o serviço Ligue 180, uma Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM/PR), que demonstra dados assustadores (pelo menos pra mim, que sou mulher e me comovo com problemas alheios). De acordo com o serviço "de janeiro a dezembro de 2010 foram registrados 734.416 atendimentos, um aumento de 82,8% em relação a 2009 (269.977)."
A luta não fica apenas no campo da não violência de gênero, que é uma das coisas que mais me assusta, pois demonstra o quanto a intolerância segue forte na nossa sociedade. A luta é muito mais ampla e abrange muito mais questões. É a questão da violência, dos feminicídios, que algumas vezes ainda são ignorados como um homicídio por motivo torpe e pode, até, vir a ser encarado como "legítima defesa da honra", sendo endossado por algumas pessoas que culpam a vítima pela violência que sofrem. As lutas feministas abrangem o direito da mulher na sociedade, no trabalho, no mundo.
Enquanto existirem homens que se atrevem a pegar um microfone e dizer (impensadamente e preconceituosamente) "ontem foi dia internacional do homem e eu não ganhei presente, nem parabéns, nem vi propaganda na televisão, nem manifestações pro-homem nas ruas" seguirão sendo necessários sim 08 de março, 25 de novembro e tantas outras datas que sirvam para marcar a conscientização e a luta das mulheres. Até porque o dia do homem também tem um sentido de promover a igualdade de gêneros e a saúde dos homens. Com certeza aquele serzinho que falou lá na rádio o que reproduzi ali em cima, não deve ter consciência disto. Ou será que tem?
Sorte que existem homens que compreendem e percebem a desigualdade que ainda existe, como Fidel Castro. O seu discurso de encerramento do Congresso de Mulheres, foi em fins de 1974, já faz vários anos, mas as palavras seguem fazendo sentido. Fidel terminou sua fala lembrando "que os homens não podiam confundir igualdade com grosseria: 'Se na sociedade humana há de haver algum privilégio, alguma desigualdade, deve ser em favor da mulher, fisicamente mais débil, que tem que ser mãe, que acima de seu trabalho leva o peso da maternidade. E se ela suporta os sacrifícios físicos e biológicos que essas funções compreendem, é justo que tenha na sociedade todo o respeito e todas as considerações que merece. E eu digo isso clara e francamente, porque há alguns homens que entendem que não têm nenhuma obrigação de dar o lugar a uma mulher grávida, a uma mulher de idade ou a qualquer mulher que vá no ônibus'." (Morais, Fernando. A Ilha, página 81) Aqui ele destacou uma questão de delicadeza, de cavalheirismo para com a mulher. Na prática ele demonstrou que a mulher pode sim ser boa mão-de-obra e não quer se eximir disto. A questão é que, por algumas especificidades, como o fato de ser mãe, necessitará de uma legislação específica. Afinal as mulheres, mesmo trabalhando fora, mantém suas cargas de trabalho como donas de casa e mães.
Acompanhe a blogagem no site Blogueiras Feministas.

segunda-feira, novembro 21, 2011

Educação e respeito se aprende em casa! E preconceito também

"Foram me chamar, eu estou aqui o que que há?" Desde muito cedo as pessoas dizem que eu sou metida. E eu não discordo nenhum pouco, me meto em tudo que eu acho que me diz respeito. Me meto em questões políticas, defendo as pessoas que eu acho que merecem defesa, fico do lado dos que estão sendo injustiçados, defendo meus amigos, defendo minhas ideias. Enfim, sou uma metidona, como diz minha sobrinha. Em geral me orgulho disso. E mais uma vez estou me "metendo" através do blog na blogagem coletiva convocada pelo Blogueiras Feministas.
Vou contar duas histórias, uma se passou comigo e outra que se passou com uma amiga minha. Como disse, em geral me orgulho de ser metida. Quando eu era criança uma vez eu agi de forma preconceituosa, um senhor, idoso e negro pediu que eu lhe desse a mão. Depois que ele apertou minha mão eu fiquei olhando com uma cara desconfiada. Não sei dizer o que se passou na minha cabeça, pois na verdade eu nem lembro deste fato, sei o que aconteceu pela minha mãe. Enfim, fiquei olhando como que a esperar que minha mão fosse ficando da cor da dele. E ele, já vivido e de uma alma ímpar me disse, "não te preocupa filhinha, não sai tinta!" Alguma coisa ali, naquele dia me marcou, nunca mais eu tive qualquer tipo de pensamento que demonstrasse existir alguma diferença entre mim e as pessoas negras. Em todas as séries e escolas onde estudei eu tive uma melhor amiga negra, algumas se perderam, outras seguem minhas amigas até hoje.
Embora eu seja uma moça de pele branco-rosea, olhos verdes e cabelos castanhos claros meu sangue é misturado, como aliás em todos os cidadãos do nosso país. E ainda que, quando pequena eu fosse ainda mais clara, detestava quando alguém me chamava de alemoa. Nossa! Aquilo me fervia o sangue, afinal... eu não sou alemoa. Quando diziam que eu era polaca não me incomodava. Duas formas de se referirem a mim pelo meu tipo físico e não me agradava (e não agrada, ainda).
Toda esta história é pra contar que aprendi desde muito cedo que devemos respeitar os outros e que somos todos uma raça só. Diferenças físicas todos temos, temos diferenças entre nossos irmãos. Mas assim como eu aprendi que não é a cor da pele, ou a origem que faz da pessoa melhor ou pior e sim o caráter, outras pessoas podem ter aprendido o contrário.
Para ilustrar tal ideia conto a história da minha amiga Jannah. Outro dia quando falávamos sobre preconceito ela disse que quando criança a professora mandou que todos desenhassem um gato. E ela prontamente desenhou o bichano e pintou de preto. Olha o trauma pra criança, todos os coleguinhas ganharam estrelinha pelo trabalho menos ela. Para completar chamaram a mãe dela para saber se a filha tinha algum problema, por ter pintado o gato de preto, cor, aliás na qual existem muitos gatos. E eu, metida já pensando, aonde já se viu, quer dizer que pintar gato de rosa, azul, amarelo, verde quer dizer que as crianças são normais, pintar de preto é significado de problema? Aonde foi que vocês já viram gato rosa? Não vale desenho animado! Para mim, a professora mostrou claramente seu preconceito ao rejeitar o gato negro da Jannah (que também quando pequena era loirinha).
Respeito, tolerância, educação, responsabilidade a gente aprende em casa e preconceito também.
Eu tenho orgulho de não ter uma etnia definida, de ser misturada e poder gozar do melhor que cada componente que esta mistura me proporciona. Tenho orgulho dos meus antepassados negros, índios, castelhanos, portugueses e judeus. E no que depender de mim, vou continuar misturando!

sexta-feira, novembro 18, 2011

Mais de mil livros descartados pela BPP no Mercado Livre

A situação é bem mais grave e triste do que eu imaginava. São mais de mil, sim MIL livros que foram descartados da Bibliotheca Pública Pelotense e estão sendo vendidos no site Mercado livre. Ao contrário do que havia dito e publicado antes. A correção foi feita pela mesma pessoa que reconheceu os livros, jornais e etc. e destacou ainda que era muita coisa, mais de 10 toneladas de livros, jornais Diário Popular, Opinião e Federação. Livros e jornais raros, sendo vendidos por um valor irrisório! Alguns dos livros, como o da foto no post anterior, trazem o carimbo da BPP e etiqueta. Em outros livros ainda pode-se ver um carimbo de DESCARTE. Segundo me explicou, o carimbo foi posto pela pessoa que está vendendo os exemplares para justificar que não foi roubado. E a BPP nunca teve o tal carimbo de descarte. Afinal de contas nem faz sentido uma biblioteca ter algo assim, afinal de contas a intenção é preservar os livros, mantê-los em local seguro, adequado e por tempo indeterminado, quem sabe... até... pra sempre.
Os livros foram reconhecidos por alguém que trabalhou na Bibliotheca Pública Pelotense, esteve muito próxima dos livros raros e jornais. Mas, em alguns livros o carimbo é prova irrefutável, pelo menos pra mim, de que eles pertenciam a BPP.  Além disso, o estado, digo... o BOM ESTADO do material pode ser percebido nas fotografias publicadas no site.
O acontecido há cinco meses não é responsabilidade do Mercado Livre, mas fico me perguntando se os administradores do site não acharam estranho as ofertas para livros de considerável raridade, com carimbos de biblioteca? Precisamos ponderar e pensar a respeito, sem deixar a indignação calar! Afinal de contas não se coloca a cultura assim... no lixo... simplesmente.
Além da lamentável a imagem de ver os livros malocados nas charretes para irem pro "lixo", existem outras questões não esclarecidas, como, por exemplo, quem liberou o material para o descarte? Quem descartou sabia do que se tratava? Acaso não poderia existir intere$$e$ excu$o$ ne$te de$carte? É triste, muito triste ver que a prática do jeitinho, de levar vantagem em tudo segue firme e forte por aqui. É decepcionante perceber que se grandes práticas de corrupção deixam de ser punidas, imaginem as pequenas?
Ainda hoje mesmo estava pensando porque será que tantas pessoas sentem ojeriza do socialismo, de Cuba e do Fidel? Percebi que a ganância não deixa as pessoas bem. O que mais desagrada não é o fato de ser uma ditadura ou coisa assim, mas o fato de as pessoas não poderem explorar a sua ganância de forma exacerbada. É o interesse desmedido pelo dinheiro que facilita as práticas de corrupção, tanto para o corrompido quanto para quem corrompe. Porque pra alguns não é necessário ter casa, comida, trabalho, escola, saúde, segurança ou lazer, de forma igualitária, é preciso ter muito superfluo e ver que tem muita gente "abaixo" de si.
Abaixo seguem os links com o nome dos livros:

A Enxertia da Videira 1946:
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-185799947-a-enxertia-da-videira-1946-_JM

 Farines Fécules Et Amidons 1913

Fabricação De Queijos 1951

Instituto Vital Brazil 1932

Synopse Das Principais Riquezas Mineraes 1928 

Diário Popular com matéria principal da Segunda Guerra Mundial de 16 de agosto de 1945 

El Estado De S. Paulo 1913 

 Caio Julio César

O Corpo E O Espirito 1926

 Diário Popular, Segunda Guerra Mundial de 12 de setembro de 1944

 Oeuvre De Lord Byron 1830

A Questão Social 1928

Manual Nº 21 Instruções Para Os Vigilantes Do Ar 1944

O Pracinha José 1945

O Regulamento Do Sello De 10 De Julho De 1850

 A Mais Linda Viagem

Symbolos da Realidade Brasileira 1936

Reforma Constitucional 

A Noz Do Brasil 1943 

Aureliano Leite , Martirio E Gloria De S. Paulo 1934

Vocabulario Brasiliense De Xadrez 1956 

Histoire L'economie Politique 1845 

Manual Do Fabricante De Tecidos 

Latim 1ª Serie Ginasial José P. De Carvalho

Conferencia Sobre O Porto Do Ceará

O Papel Do Café Na Economia Nacional 1945

D'histoire Naturelle 1865 

Les Conflits De La Science Et De La Religion 1882 

Étude Medico-legale Sur Les Attentats Aux Meurs 1873 

Historia Argentina 1889 Por Mariano A. Pelliza 

L'oyapoc Et L'amazone 1861 

Memoires De Don Juan 1859

Rolonien 1856
 
Abertura Dos Cursos Na Escola Politecnica Da Bahia 1942

Historia Da Puericultura E Pediatria No Brasil 1947
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-184778265-historia-da-puericultura-e-pediatria-no-brasil-1947-_JM

Tiro Ao Alvo Por F. Badaró
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-189840095-tiro-ao-alvo-por-f-badaro-_JM

Luz E Vida
http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-184779565-luz-e-vida-_JM

Descarte de livros raros da Bibliotheca Pública Pelotense

Em junho deste ano uma denúncia muito série e grave aconteceu na nossa cidade. Uma grande variedade de livros e tomos de jornais foram descartados, jogados no lixo pela instituição que deveria preservá-los e mantê-los em bom estado. Outro dia comemorávamos os 136 anos da Bibliotheca Pública Pelotense e relembramos o lamentável fato, ainda não explicado, dos livros no lixo. Hoje tive uma surpresa desagradável. Uma amiga postou no facebook (via uma amiga dela) a fotografia de um livro que está a venda no site Mercado livre. Livro este do ano de 1939, com o carimbo da Bibliotheca Pública Pelotense, sendo vendido por DEZ PILA. Um documento raro, por uma bagatela, podendo ser parcelado em até 12 vezes.
Como foi dito no texto escrito pela Nádia e postado aqui na época do disparate não há argumento possível que convença alguém de que os livros deveriam ser postos no lixo. Nossa cidade tem outras bibliotecas de escolas e instituições, tanto públicas como privadas, que poderiam sim abrigar os exemplares excedentes da BPP.
Reconheço que há trabalhos e promoção de  atividades culturais na Bibliotheca Pública Pelotense, como os saraus poéticos e as conversas sobre livros, inclusive com a participação de nomes bem conhecidos como foi a ótima conversa com o Fernando Morais. Mas isto não isenta a instituição de explicar o porquê dos descartes. `
Nossa indignação não pode calar! Quantos outros exemplares raros não estarão sendo vendidos a preços módicos pelos sebos da vida? Um patrimônio de todos nós! Como comemorar 200 anos se estamos jogando as memórias no lixo?

quarta-feira, novembro 16, 2011

Os acontecimentos da USP

O episódio que teve como palco o campus da USP mostraram o grande despreparo que nosso país, mesmo democrático e mesmo tendo passado por muitos protestos até atingir a democracia, ainda tem para enfrentar situações como esta. Ao assistir imagens do campus e de todos os acontecimentos não pude deixar de lembrar do período da Ditadura Militar. Mesmo buscando fontes alternativas para saber a respeito do que se passou lá, há muitas coisas não esclarecidas, além de muitas distorções que assistimos nos noticiários clonados da televisão.
Percebi uma grande falta de tato por parte do reitor da USP, o Sr. Rodas diante dos acontecimentos. Policiais armados podem passar uma sensação de segurança, mas e onde os policiais não estão há segurança? A intolerância é absurda! A universidade é um local de construção do pensamento crítico, mas que pensamento crítico pode ser gerado numa situação de violência?
Não estou nem de um lado, nem de outro. Também não estou em cima do muro, apenas não possuo informações suficientes para elaborar uma opinião por menorizada a respeito. Discordo da mídia, da grande mídia, que usou do episódio dos alunos apreendidos com maconha como estopim e real motivo para a ocupação da reitoria da universidade. Analisando friamente considero que os alunos foram um pouco imprudentes, não em defender os colegas. A questão é que talvez aquele momento não fosse o mais adequado, ou quem sabe a forma como as coisas aconteceram. Claro que cogitar como seriam as coisas é um mero achismo que de nada serve. Mas vejo que, tal como costumava acontecer na ditadura poderiam haver infiltrados com a única intenção de esculhambar com um movimento legítimo.
A polícia, a instituição alega não ter como proteger a população, no entanto destaca a tropa de choque para reintegrar um prédio e retirar alunos. Não podemos saber se os estragos foram vandalismo obra dos estudantes ou se foram causados no próprio embate entre polícia e manifestantes. O fato é que houve repressão. E mudanças efetivas no campus não foram feitas.
O questionamento que faço é: a PM ficará por lá, para sempre?
Quero crer que o episódio tenha servido como aprendizado a todos, principalmente aos mandatários, visto que, numa democracia, os protestos são legítimos. E, certa vez escutei alguém dizer, ou li, que, numa democracia aonde todos concordam, algo esta errado.
Neste link o texto é muito bom, claro e objetivo. Assemelha-se muito com o que penso!

domingo, novembro 06, 2011

Fernando Morais

Quando soube da Conversa sobre livros com o Fernando Morais o primeiro pensamento foi... não vou ir, porque sábado sempre estou na colônia. Mas depois de pensar e pensar resolvi ir. E valeu muito a pena! Três horas de uma conversa agradabilíssima, que bem podia ter durado mais três ou quatro ou a madrugada inteira. Inicialmente Fernando me pareceu um "Dom Casmurro", um homem sério, quieto. Enganei-me redondamente. Ele é um homem simpático, alegre, agradável e muito simples.
Contou-nos sobre o tempo que levou e os bastidores para escrever o livro que está lançando Os últimos soldados da guerra fria. E é um contador de histórias encantador!
Suas convicções e ideologias, se podemos assim chamar, são muito bem defendidas por ele. Aliás, como disse um amigo, aquilo é tão claro pra ele que o seu modo de ser transparece.
Eu já tinha alguns livros de sua autoria na listinha para ler, óbvio que o lançamento também entrou na fila. Sua fala sobre jornalismo foi muito boa, pra falar a verdade, foi pra mim um alento, visto que eu penso mais ou menos da mesma forma. Ele falou sobre o quanto os donos dos jornais não percebem que o imediatismo não é mais a vantagem no jornal impresso, visto que a internet faz isto muito mais rápido e com imagem. Nas palavras dele, se ele fosse um empresário de jornal apostaria nas grandes reportagens, investiria num bom repórter que ficaria semanas, meses trabalhando sobre um tema, realizando pesquisas, fazendo entrevistas. Talvez as grandes reportagens sejam a salvação dos jornais impressos.
Eu adorei, pois pra mim é isto que irá ganhar os leitores. Saber o que, o quando, o onde e o quem, já se sabe pela internet. O leitor quer saber detalhes, quem ler sobre as peculiaridades, quer sentir o clima do acontecimento. Fernando Morais também falou sobre a frieza de entrevistar por telefone ou email. Eu sentia muito esta dificuldade quando trabalhei no jornal. Nunca gostei de entrevistar por telefone. Gosto de olhar o entrevistado no olho, ver suas expressões quando pergunto e quando ele responde. Para escrever preciso saber como ele gesticula, se se expressa mexendo as mãos, enfim...
As vezes acho que escolhi a profissão certa para mim, mas na época errada. Devia ter sido repórter na década de 50, 60, 70, por aí!
O que me deixa feliz é conhecer, ver e ouvir os repórteres de antigamente contando suas histórias riquíssimas. Foi uma honra ouvir Fernando Morais.