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quinta-feira, novembro 24, 2011

Violência contra Mulher não acontece só em novela - Blogagem Coletiva pelo #FimDaViolênciaContraMulher

Atualmente duas novelas tratam do tema violência doméstica, uma na rede Globo e outra na rede Record. Não vou poder falar muito da "Fina Estampa", pois não assisto, apenas sei, que o personagem de Alexandre Nero pratica toda sorte de violências contra a personagem vivida por Dira Paes. Casualmente assisti ao capítulo em que Baltazar tentou matar Celeste e foi salva por Crô (um personagem gay, extremamente caricato) e é preso em flagrante. A ministra da Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, Iriny Lopes criticou a novela e sugeriu que Celeste denunciasse o marido ao Disque Denúncia 180. Foi criticada pelo autor da novela. Não vou entrar na polêmica de isto tá certo ou isto tá errado, até porque, como disse, não assito a novela. Mal ou bem, apareceu alguns personagens argumentando com Celeste de que ela deveria sim denunciar o marido. Parece que, depois que a personagem principal na trama ficou rica, Celeste se empoderou um pouco mais de sua vida, e passou a enfrentar o marido. No entanto, continua vivendo sob o mesmo teto que o marido agressor.
Não sei os motivos do ciúmes e das brigas nesta trama, mas agressores de mulheres, de modo geral, batem nas esposas, namoradas, noivas e companheiras por qualquer motivo, por tudo e por nada, pois acham-se donos delas e como tal podem fazer o que bem lhes aprouver.

Na trama da Record o drama da violência doméstica vem aparecendo com mais constância. Na verdade o problema da violência contra Mulher seja ele dentro de casa com agressões físicas, seja moral ou psicológica. O próprio Marcelo Serrado, que vive o capachão de Tereza Cristina na trama de Aguinaldo Silva, já foi um marido abusador em outros dois folhetins da emissora. Em Vidas Opostas, de 2006/2007, Serrado vivia um delegado de polícia corrupto que submetia a mulher as mais absurdas formas de violência, tendo utilizado até o soro da verdade para obter confissões de traições por parte dela. Ele também praticava estupros, e eram vítimas sua própria esposa e mulheres com as quais ele se envolvia. A face macabra da personagem se apresentava de maneira assustadora. Entre suas vítimas favoritas estava a garota de programa Daniela (Gabriela Durlo) e a socialite Erínia (Lavínia Vlasak). O foco, creio eu, não fosse a violência de forma específica contra a mulher, mas a perversão dele. No entanto, percebia-se claramente o medo e a tensão na relação marido-mulher, que dele era do dono para com um objeto e das mulheres de muito medo. Não lembro bem como ocorreu a separação dele com a esposa, vivida pela atriz Ana Paula Tabalipa. Mas ela a torturava fazendo-a vestir-se com o vestido de noiva, dizendo que se ela se separasse ficaria com a guarda do filho, inclusive colocando o garoto contra ela em inúmeras ocasiões.
Em Poder Paralelo, também da rede Record, mais uma vez Marcelo Serrado tem o papel de vilão e demonstra o machismo acentuado no caráter do personagem Bruno Villar, que é uma espécie de mafioso e entre os inúmeros crimes e assassinatos que pratica esta o "desejo" de possuir sua amante, a atriz Fernanda Lira (personagem de Paloma Duarte) a qualquer preço e de qualquer forma. Além das agressões ele investiga o passado de Fernanda usando a toda hora, como forma de humilhação os acontecimentos. No caso de Bruno o machismo é escancarado. A primeira mulher, que tinha como grande sonho ser atriz é impedida por ele, pois isto não é trabalho de "mulher direita". E por amor ela se submeteu aos caprichos do marido. Até descobrir a amante, mas principalmente após descobrir os crimes praticados por ele, incluindo a morte do próprio pai.
O grande tratamento dado ao tema, de forma clara e objetiva está acontecendo na novela Vidas em Jogo, que atualmente vai ao ar entre 22h30 e 23h. Tá, talvez nem tão claro e nem tão objetivo, mas Lucinha Lins, que encarna a personagem Zizi, dá na sua interpretação a verdadeira dimensão do quanto é difícil para uma mulher romper com o agressor. Por culpa, por vergonha, por medo, por acreditar que o homem que ama irá mudar. Alzira saiu de casa muito cedo e foi, ainda muito guria, profissional do sexo. Foi quando exercía a profissão que conheceu Adalberto (Luiz Guilherme). apaixonaram-se e casaram. Ele a tirou da "vida" como costuma-se dizer por aí. No entanto, nunca conseguiu esquecer o passado da mulher ou mesmo acreditar em sua "honestidade".
Quando a filha, apaixonada por dança, decide ser dançarina ele a expulsa de casa, pois para ele dançarina é igual a prostituta. Este estigma é bem trabalhado, visto que ao não corresponder a um assédio durante o trabalho a personagem Rita (Julianne Trevisol) sofre uma tentativa de estupro. Junto com isto é demonstrado pela trama da novela o tratamento dado às vítimas deste tipo de crime pela sociedade e pela polícia. Apesar de todo o trauma e sofrimento porque passam as mulheres nesta situação ainda são culpadas pela violência sofrida, porque estavam em lugar inadequado, porque estavam sozinhas, porque vestiam-se com esta ou aquela roupa.
Andrea (Simone Spoladore) sente na pele, e demonstra muito bem, devo dizer, o quanto uma mulher pode ser humilhada após ser vítima de uma violência sexual. Ela foi coagita, pelo grande vilão do folhetim, a manter relações sexuais para preservar a vida do companheiro. Manter relações sexuais com alguém sob coação É estupro. A relação com o marido fica balançada porque, mesmo sob ameaça de morte, mesmo tendo ido pra cama coagida para salvar a vida do homem que amava, o namorado Lucas (Marcos Pitombo) não consegue superar seu preconceito, seu orgulho de macho ferido na "honra" de saber que sua mulher foi possuída por outro. Após a violência Andrea, com medo de ter ficado grávida, pois o bandido negou-se a usar camisinha, procura auxílio de uma médica, que a orienta a prestar queixa contra o estuprador, para garantir seu direito ao aborto, caso a suspeita se confirme. Mais uma vez a vítima é tratada como culpada. O próprio marido argumenta que não seria bom que ela denunciasse o bandido, visto que ela havia "consentido" em fazer sexo por ele para salvar sua vida. Mas a personagem não é de se deixar vencer. Mesmo sofrendo preconceito do delegado e tendo ouvido aquelas frases batidas ela registrou a queixa, argumentando que não tinha escolha, ou transava com Cléber (Sandro Rocha) ou o marido seria morto. O desfecho foi contrair o vírus HIV do bandido.
Zizi, Andrea e Rita são três personagens fortes, cada uma rica de valores e ideais. Zizi submete-se aos caprichos e as surras do marido por sentir culpa e vergonha de ter sido garota de programa. Ela crê que sem ele não será uma mulher respeitável. Ainda que seja ela o arrimo da família. Submete-se a violência acalentando o sonho de ter uma família.
Rita sente-se uma vitoriosa por conseguir realizar seu sonho de dançar, é uma lutadora, trabalha para conquistar seus objetivos. Mas sofre preconceito por ter escolhido uma profissão estigmatizada pelos olhos machistas da sociedade.
Andrea já começa incomodando pois, mesmo tendo curso superior, realiza se como motorista de táxi. Compunha o grupo do bolão da amizade com o intuito de abrir sua própria empresa de táxis. O que fez. Também sofreu tentativa de estupro e estupro e, por duas vezes, teve que ouvir os mesmos chavões do tipo "só é estuprada mulher que não se dá o respeito". Mas ela não se dobra e continua batendo de frente e defendendo seu direito de ser respeitada como mulher. Foi ela quem disse a Zizi que denunciasse o marido agressor. E talvez seja ela a grande heroína da história, vencendo seus medos.
A novela não é didática e não mostra como numa aulinha que mulher deve denunciar os abusos, mas mostra os caminhos. Toda a delegacia que aparece nas cenas da novela tem cartazes alertando que violência doméstica é crime e mostrando o número do disque denúncia 180. E mostra porque muitas demoram tanto tempo para romper o ciclo da violência. No outro canal talvez as personagens tivessem mais visibilidade, mãns...
_ Alguns dirão, é novela! É só uma novela!
Eu digo, é só uma novela um entretenimento que atinge um grande número de pessoas, incluindo criança, e justamente por ser uma novela que muitos casos e situações são suavizados. A novela é um meio de propagação, de conscientização, mesmo sob todas as críticas que se possa fazer ou dos erros que os autores podem cometer ao abordar tais temas. Acredite a realidade pode ser ainda muito mais cruel. Abra o jornal, olhe para o lado, coisas muito piores podem estar acontecendo e tu nem percebes. Leia a história da Maria da Penha, da Eloá, da Thays, da Raquel, e tantos outros casos REAIS com requintes de crueldade como o de Beatriz, que foi queimada ainda viva. Na grande maioria dos casos as mulheres foram mortas por maridos, namorados, noivos ou ex-esposos, namorados, noivos. São muitos casos não registrados e como uma epidemia vem aumentando. Pense nisso, violência contra mulher não acontece só em novela.
Quem ama não bate, quem ama não mata!

Charge: Carlos Latuff
PS.:Por favor, perdoem erros de digitação ou algum escorregão no português.

terça-feira, novembro 22, 2011

"Os homens não podem confundir igualdade com grosseria"

Embora o comercial de "Tampax" dissesse que, "incomodada ficava a sua avó", ainda hoje, eu fico sim muito incomodada, e não é com a menstruação ou os incômodos típicos do período. Fico muitíssimo irritada com atitudes grosseiras de alguns homens - principalmente se ele for um comunicador, jornalista ou radialista - que colocam as lutas feministas como algo sem importância ou falta do que fazer. Os mesmos cidadãos costumam se colocar como seres desprestigiados, uns pobres coitados. A argumentação começa errada, pois consideram o dia Internacional da Mulher desnecessário ou obsoleto.
Os dias que marcam as lutas pelos direitos da mulher, como o 25 de novembro, por exemplo,  não servem pra ganhar parabéns ou presentes, como sugerem alguns acéfalos. Qualquer pessoa, minimamente consciente, ao se deparar com dados como o de que no Brasil, "diariamente uma média de 10 mulheres são assassinadas", saberia a importância das datas de conscientização e luta pelos direitos das mulheres. Segundo pesquisa da Fundação Perseu Abramo "nos últimos 12 meses,  1 milhão e 300 mil mulheres, com mais de 15 anos, foram agredidas." E o mais dramático é saber que o número de agressões vem crescendo, como aponta o serviço Ligue 180, uma Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM/PR), que demonstra dados assustadores (pelo menos pra mim, que sou mulher e me comovo com problemas alheios). De acordo com o serviço "de janeiro a dezembro de 2010 foram registrados 734.416 atendimentos, um aumento de 82,8% em relação a 2009 (269.977)."
A luta não fica apenas no campo da não violência de gênero, que é uma das coisas que mais me assusta, pois demonstra o quanto a intolerância segue forte na nossa sociedade. A luta é muito mais ampla e abrange muito mais questões. É a questão da violência, dos feminicídios, que algumas vezes ainda são ignorados como um homicídio por motivo torpe e pode, até, vir a ser encarado como "legítima defesa da honra", sendo endossado por algumas pessoas que culpam a vítima pela violência que sofrem. As lutas feministas abrangem o direito da mulher na sociedade, no trabalho, no mundo.
Enquanto existirem homens que se atrevem a pegar um microfone e dizer (impensadamente e preconceituosamente) "ontem foi dia internacional do homem e eu não ganhei presente, nem parabéns, nem vi propaganda na televisão, nem manifestações pro-homem nas ruas" seguirão sendo necessários sim 08 de março, 25 de novembro e tantas outras datas que sirvam para marcar a conscientização e a luta das mulheres. Até porque o dia do homem também tem um sentido de promover a igualdade de gêneros e a saúde dos homens. Com certeza aquele serzinho que falou lá na rádio o que reproduzi ali em cima, não deve ter consciência disto. Ou será que tem?
Sorte que existem homens que compreendem e percebem a desigualdade que ainda existe, como Fidel Castro. O seu discurso de encerramento do Congresso de Mulheres, foi em fins de 1974, já faz vários anos, mas as palavras seguem fazendo sentido. Fidel terminou sua fala lembrando "que os homens não podiam confundir igualdade com grosseria: 'Se na sociedade humana há de haver algum privilégio, alguma desigualdade, deve ser em favor da mulher, fisicamente mais débil, que tem que ser mãe, que acima de seu trabalho leva o peso da maternidade. E se ela suporta os sacrifícios físicos e biológicos que essas funções compreendem, é justo que tenha na sociedade todo o respeito e todas as considerações que merece. E eu digo isso clara e francamente, porque há alguns homens que entendem que não têm nenhuma obrigação de dar o lugar a uma mulher grávida, a uma mulher de idade ou a qualquer mulher que vá no ônibus'." (Morais, Fernando. A Ilha, página 81) Aqui ele destacou uma questão de delicadeza, de cavalheirismo para com a mulher. Na prática ele demonstrou que a mulher pode sim ser boa mão-de-obra e não quer se eximir disto. A questão é que, por algumas especificidades, como o fato de ser mãe, necessitará de uma legislação específica. Afinal as mulheres, mesmo trabalhando fora, mantém suas cargas de trabalho como donas de casa e mães.
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