terça-feira, outubro 05, 2010

Discurso e prática

Há que se ter muito cuidado ao falar, escrever e, principalmente, ao criticar o cantor, apresentador e agora senador Netinho de Paula. Isto não tem nada a ver com os comentários de que ele pode ser agressivo. Mas ressalto a importância de se ter cuidado porque ele costuma se vitimizar demais. Respeito sua defesa da raça negra, assim como não serei hipócrita de dizer que não há o que defender. Há sim, tem muito o que se defender no Brasil, que embora um país mestiço tem seus preconceitos arraigados e disfarçados sim. No entanto, Netinho porta-se como se fosse realmente uma vítima, um perseguido, um coitado que faz tudo certo, mas forças externas, interesses poderosos querem o destruir. Ele é representante de um grupo social, foi escolhido e se colocou lá espontâneamente, não se pode negar. Só que não é o dono da verdade. Agredir a esposa ou repórteres é um fato, alguns estão documentados, isto demonstra uma personalidade agressiva. Ele não é uma vítima, ninguém esta inventando coisas a respeito dele. E se ele exige respeito, porque não respeitou a mulher e o jornalista que estava fazendo o trabalho dele?


Tem algumas coisas que me desagradam muito, como eleitora, em alguns discursos de esquerda. Acho patético o presidente Lula se colocar como um perseguido, não só pelas elites, como pela a direita quando ele está de mãos dadas tanto com um quanto com outro. Ele teve uma história de lutas no período da Ditadura Militar como um representante sindicalista. Outras personalidades foram muito mais perseguidas, sofreram e perderam muito mais do que ele no mesmo período. Outras pessoas foram presas, torturadas, exiladas, banidas pelas suas opiniões e pela sua luta, no entanto, não se colocam sempre no papel de pobres coitados. Eles assumem que sofreram tudo isto por defender ideias, por que queriam mudar o mundo. A própria candidata do governo a presidência é assim. Dilma tem uma postura muito clara e bem resolvida em relação ao que aconteceu no passado. Foi guerrilheira, foi, pegou em armas, sim e assumiu tudo, aguentou e aguenta o repuxo sem posar de vítima. Foram as escolhas dela e ela estava consciente do que fazia.

Acho de uma tremenda arrogância dizer que: "sou o único presidente que não tem diploma universitário e fui o que mais fez universidades". Ele está tentando ser "humilde" dizendo que não tem diploma, mas ele poderia ter. Não tem porque não quer. Teve uma juventude difícil, teve, é fato! Não pode estudar é verdade, mas quantos outros vários brasileiros tiveram uma infância dura, trabalhando e foram estudar adultos?

Existem preconceitos no Brasil, tem muita coisa para mudar eu concordo. Discordo é que tendo mudado tanto a sua postura diante das coisas, como aconteceu com o próprio presidente Lula, ainda se queira dizer que tudo é culpa das elites ou que acontecem por defesa de interesses poderosos. Ele está no poder, ele é o presidente do país. Acaso existe alguém mais poderoso que o presidente da nação?

Minha crítica é em relação a isto. Reconheço o trabalho do governo Lula, embora não concorde com alguns conchavos que aconteceram. O que critico é esta coisa de continuar se pondo como vítima, tentando passar para as pessoas mais humildes que é igual. É o mesmo que faz o Netinho. No discurso eles estão junto do povo, próximos, no mesmo nível. Mas só no discurso!

Sei que vai ter muita gente a me criticar. Apenas quero refletir o seguinte, se a esquerda mudou tanto, se aceitou se moldar e juntar com outros partidos (que outrora eram inimigos de “morte”) para governar porque não adequar também o discurso as suas atitudes? Sem essa de somos blindados e faremos do nosso jeito, somos diferentes e conseguiremos sem ninguém. Provaram que não há como governar sozinhos e defendem que as mudanças eram necessárias para a nação. Neste caso, deixem o discurso raivoso da esquerda radical e assumam um discurso compatível com as ações e coligações.

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