quinta-feira, junho 18, 2009

Diploma de Jornalismo não é mais obrigatório


Indignação é o mínimo que imagino devem estar sentindo todos os colegas Brasil afora. O que mais me intriga é que a obrigatoriedade surgiu no período mais duro da política brasileira, época em que o País vivia sob Ditadura Militar e acaba caindo no segundo mandato do primeiro presidente de esquerda e ex-sindicalista. O decreto-lei nº 972/69 regulamentava a profissão de jornalista e demonstrava as obrigatoriedades para exercê-la. É claro que a obrigatoriedade de um diploma de curso superior em jornalismo não é a única exigência. Mas esta lei não vale mais. Infelizmente as leis costumam sair do uso ou "não pegar" no nosso país. No caso do diploma, ou da exigência dele e da regulamentação da profissão de jornalista a lei foi derrubada pelo Superior Tribunal Federal por oito votos a um. De acordo com o relator do caso no STF, ministro Gilmar Mendes a exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalismo é inconstitucional. O presidente do STF ainda citou vários jornalistas que atuaram sem o diploma no Brasil e em outros países, como Nelson Rodrigues e o colombiano Gabriel García Marquez. Admito que talento para a escrita nada tem a ver com o diploma de graduação, pois muitos estudiosos de literatura com PhD talvez não tenho a capacidade de criar personagens ou de contar a "vida como ela é" com 1/3 do talento de Nelson Rodrigues.
Por outro lado a boa formação não apenas técnica como cultural do jornalista é importante sim. Muito da profissão só se aprende na prática, assim como o feeling só se adquire com a vivência, mas isto ocorre em qualquer profissão. O cirurgião, com sua experiência de anos fica cada vez melhor, sua mão fica mais firme, seu olho mais treinado. No entanto, ele recebe uma formação técnica, aulas de anatomia. Desconheço um ótimo cirurgião que começou abrindo as pessoas sem saber se onde estava colocando o bisturi era o fígado ou os rins. Mas isto é uma outra discussão.
Concordo que para ser jornalista é necessário muito mais do que diploma, do que frequentar aulas ou gostar de escrever, é preciso ética, responsabilidade, interesse, cultura, conhecimento histórico, filosófico e político, entre outros. Algumas destas qualificações não se adquire na faculdade, mas a noção e o caminho para se chegar lá se aprende na graduação sim.
E apesar de desiludida com o mercado e agora com este golpe tenho orgulho da profissão que escolhi, embora não atue em nenhuma redação de grande jornal ou revista, defendo que o jornalismo seja íntegro, responsável, transparente e de qualidade.
Encerro este post pegando emprestado um parágrafo escrito pelo colega Ivan Rodrigues, editor-chefe do Jornal Diário Popular, que hoje publicou na capa um manifesto repudiando a decisão do STF. O manifesto foi assinado pelos jornalistas, diplomados, e pelos estagiários que atuam na redação do DP. Rodrigues encerra sua opinião com o seguinte parágrafo, com o qual concordo.
"Agora, discordo da decisão do STF, assim como meus colegas. O diploma é necessário sim. Nosso ofício é duro e demanda gigantesca responsabilidade. Lidar com a informação pública sem conhecimento dos efeitos que ela é capaz de causar na sociedade é temerário. Tal como a postura dos oito ministros que ontem à noite rasgaram 80 mil diplomas" (Ivan Rodrigues, Oito contra oitenta mil, Diário Popular, Capa 18/06/2009).

2 comentários:

  1. O que há de errado em vetar o diploma de jornalista? É só pensar um pouco que tudo que fizeram no STF foi sensato. Não existe ética em jornalismo... toda profissão regulamentada precisa de um código de ética para regir o próprio. Realmente, qualquer um pode ser jornalista, pois, nenhum artigo feito pelo mesmo tem base científica. Ou seja, se um menino de primeiro ano do ensino médio quiser publicar um artigo ele pública com tanta qualidade quanto o jornalista formado... isso se o mesmo tiver aprendido o português corretamente (o que nem sempre os jornalistas formados têm domínio) e a articulação de redações. Qualquer ser humano que tem o mínimo de consciência dará razão a inexistência do diploma de jornalismo... é só pensar.

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  2. Discordo de ti Marco Aurélio, como deves saber. A questão não é a publicação de um artigo científico, um artigo de opinião pode ser publicado por quem quer que seja realmente, tens razão. Por outro lado, quanto ao código de ética, quando estive na faculdade, na cadeira de legislação tivemos sim aula de ética, conhecimento das leis que regem a atuação do jornalista, entre outras coisas.
    Acho ruim sim desregulamentar uma profissão e a liberação do trabalho sem o mínimo de qualificação. Lamento e discordo dos argumentos utilizados para o debate.

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