Não concordo que futebol seja coisa de homem, embora eu não seja torcedora fanática, nem jogue. Tem muitas mulheres que gostam e entendem do jogo. A própria seleção feminina de futebol no Panamericano foi melhor do que os meninos da sub17.
O problema é que no Brasil, apesar de todos negarem, existe preconceito sim. É um preconceito caricato onde um homossexual tem que ser a caricatura que a mais tacanha e antiga forma de discriminação criou. Para estas pessoas o gay não pode ser gay se não for afetadíssimo, com trejeitos e roupa de mulher. A lésbica tem que ser o maior macho da paróquia e se possível deve coçar o saco. Mesmo com todas as campanhas e com as mudanças que já aconteceram ainda não se respeitar o direito de escolha das pessoas.
Tanto que o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho proferiu sentença tão discriminatória quanto as insinuações do diretor administrativo do Palmeiras, José Cyrillo Jr, contra o volante Richarlyson do São Paulo, e que motivou uma queixa-crime por parte do atleta. O juiz disse na sentença que o futebol é "viril, varonil, não homossexual". Eu pergunto com qual autoridade? Em outras palavras ele disse que futebol é coisa de homem, como se a opção sexual de uma pessoa interferisse diretamente no seu desempenho profissional.
Pra completar o festival discriminatório o juiz disse: "O que não se pode entender é que a Associação de Gays da Bahia (...) teime em projetar para o gramado atletas homossexuais". De onde saiu este cidadão? Como conseguiu dizer tanta besteira num documento oficial como um despacho da Justiça? Com que conhecimento ele diz que este ou aquele servem pra tal profissão? Além de juiz ele também é orientador profissional?
A insensibilidade de um homem que trabalha na lei não pode ser vista de forma passiva. Ele está lá para tentar fazer com que haja justiça em casos como este. Se fosse um caso de racismo o que é que ele diria?? Despacho indeferido, o criolo deve voltar prasenzala e ficar quietinho como sempre foi??? Que espécie de gente é esse juiz???
É impressionante o que ele coloca na senteça. Escorre preconceito pelos cantos da página. Ele não só diz que é sem cabimento a queixa-crime de Richarlyson, como estimula a violência, dizendo que se o atleta se sentiu ofendido deveria ter respondido no ato, num "téte-à-téte" e completa dizendo que levar o caso a Justiça é dar maior dimensão ao fato.
A constituição nos garante liberdade de credo, de religião, de ir e vir, de escolha. Não somos obrigados a ser ou nos comportar como pessoas moralistas e preconceituosas querem. Preconceito é crime, seja ele qual for. Eu, se fosse o Richarlyson, apresentaria queixa-crime contra o juiz Manoel. Não guarde preconceito dentro de si, trabalhe, busque saber porque ele está aí, tente dissipá-lo. É sabido que todos tem algum preconceito, é inerente ao homem, mas há muitas coisas que fazem parte da nossa cultura e que só nos fazem mal, a corrupção é uma delas, o preconceito, o ódio, a ganância.
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