sábado, março 10, 2012

"Quando uma mulher avança nenhum homem retrocede"

Hoje pela manhã e início da tarde participei da Marcha das Vadias de Pelotas, debaixo de muito sol e num calor absurdo mas a marcha aconteceu e estávamos tod@s lá lutando contra o preconceito de gênero, de raça e contra a homofobia. O pessoal tinha cartazes, faixas, pintou o rosto e o corpo na luta por respeito! Algumas mulheres fizeram relatos de situações cotidianas de humilhação, desrespeito e violência. O relato que mais me tocou foi de uma mãe falando do desrespeito de um vizinho com suas filhas. Ela destacou que educa seus filhos para respeitar os outros, mas nem sempre, na casa dos vizinhos acontece o mesmo.

Durante o percurso os manifestantes foram hostilizados por motociclistas, por causa das ruas interrompidas. Outros motoristas não foram simpáticos a causa, mas apenas quem estava nas motos é que ficou acelerando como se a qualquer momento fossem romper a corrente humana dos manifestantes. Alguns não quiseram esperar e invadiram um posto de gasolina ou esperou uma brecha na rua e passou a milhões, podendo bater em alguém. Tais atitudes levaram uma baita vaia!

Nossa manifestação teve o apoio de um personagem muito querido da nossa cidade o Alemão do Círculos, que esteve em meio a preparação, ouviu os discursos e participou da marcha ao lado da mulherada. Havia mães com seus filhos, mulher  grávida, homossexuais e Homens, com H maiúsculo por que são companheiros que não se deixaram contaminar com a ideia de que lugar de mulher é na cozinha, ou que a mulher é uma propriedade. Como foi lembrado por uma das manifestantes que discursou, eles também sofrem preconceito por não se encaixarem no esteriótipo do machão.

E de todos os cartazes que vi e fotografei durante a marcha dois me fizeram pensar, de forma, ainda mais minuciosa nestas questões. Um deles era empunhado por um Homem e referia-se sobre o aborto e a forma como o debate atualmente se atém apenas a questão religiosa. Esta é uma questão que a presidenta assumiu  discutir e ampliar na sociedade, podendo descriminalizar a prática. No entanto, cada vez que a sociedade, digo que nós mulheres, cidadãs trazemos o assunto a pauta, de outro lado erguem-se milhares de religiosos que pegam-se apenas na questão do pecado, sem considerar que quem paga o dito pecado é a mulher que escolhe fazer um aborto. Esta "pecadora" é dotada de um benefício chamado Livre arbítrio através do qual faz escolhas e toma atitudes em sua vida e responde por eles. E que só a ela cabe!
Já escrevi outras vezes sobre o que penso em relação ao aborto. Mas o fato de pensar nas inúmeras formas de prevenção da gravidez, acho que cabe só a mulher decidir que se quer ou não levar a gravidez adiante. É o corpo dela, a consciência dela, a escolha e a vida dela. Devem ser respeitados, embora não concordemos. Além disso, conheço algumas mulheres que interromperam uma gravidez e garanto que estas mulheres não se orgulham disso e muitas sofrem de culpa por isto.
O debate que buscamos em relação ao aborto é a descriminalização. Não quer que a interrupção de uma gravidez ou gestação na adolescência aconteça? Invista na educação! Mas o que ocorre quando as escolas criam mecanismos de trabalhar a sexualidade na escola? Muitos se levantam dizendo que o trabalho é inadequado, que as crianças não estão preparadas.

Existem políticas públicas, é verdade, no entanto, não atingem o país de forma igual. E esta é só mais uma demonstração da desigualdade em que vivemos. Quem tem grana interrompe a gravidez numa clínica com acompanhamento médico, mas quem não tem, faz o procedimento em casa, ou seja lá aonde for, e consequentemente acaba tendo de recorrer ao SUS. Este é um diálogo que deve ser feito, a presidenta precisa dar início a ele.

Mesmo em casos de estupro a interrupção da gravidez é uma polêmica. É um direito da mulher, mas leva tanto tempo para ser concedido que quando chega o momento a gestação está adiantada e realizar o procedimento torna-se ainda mais arriscado.
O outro cartaz, cuja frase deu nome a este post, interpreto de duas formas. A primeira que é a da violência, visto que a força física do homem é maior que a da mulher, e quando uma mulher vai pra cima de um homem, no máximo ele se esquiva do ataque, mas não dá um passo atrás ou se encolhe.

Já a outra, que me parece muito mais abrangente é a questão do avanço da mulher na sociedade. Quando uma mulher avança profissionalmente, nenhum homem retrocede. Quando uma mulher cresce economicamente ou consegue conquistar seu espaço como cidadã, nenhum homem retrocede. Homens não ficam pobres se mulheres enriquecem, por exemplo.  Quando as mulheres passaram a votar ou concorrer na política os homens não foram prejudicados por isto.

É possível crescermos todos juntos respeitando as diferenças, convivendo com tolerância. Como diz o velho ditado, corrigido, "do lado de um grande homem sempre tem uma grande mulher"! É nisso que penso, não é preciso oprimir para crescer, embora durante muito tempo isto tenha ocorrido. A opressão demonstra a fraqueza do opressor que se vale da força, ou do dinheiro, para se manter no poder. Separados podemos ser fracos, mas juntos somos mais, somos fortes.
A caminhada com certeza ainda será muito longa, mas o primeiro passo foi dado. Se ser livre é ser vadia, somos todas vadias!

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