quinta-feira, junho 20, 2013

O livre pensar e a prática cotidiana

Quando a gente estuda sociologia e política percebe que alguns dos grandes pensadores não eram, efetivamente, pessoas trabalhadoras do povo. Eles tinham alguma forma de se sustentar que não era o trabalho cotidiano do operariado. Eles não precisavam pensar em como pagar o que comer, onde dormir ou coisa semelhante e isto lhes dava tempo para pensar nas necessidade de um bem maior que englobava outras pessoas em situações de miséria. Não me joguem pedras, não estou dizendo que eles eram vagabundos, ou vândalos. Tiveram e tem uma utilidade muito grande intelectualmente. Acontece que na prática do dia-a-dia não é muito fácil, aliás não é nada fácil, trabalhar, estudar, cuidar e sustentar família e buscar  formas de melhorar seus conhecimentos culturais. E ainda pensar, buscar alternativas para formar a sua própria opinião. O que não quer dizer, que um profissional do trabalho pesado não tenha capacidade de ter suas próprias opiniões.

Vejam bem, tanto o intelectual que leva sua vida em meio as pesquisas teóricas de como mudar o mundo, quanto o trabalhador cotidiano que vive o mundo são importantes e subestimar qualquer um dos dois é arrogância ou burrice. Na minha opinião adequar os discursos com a prática é importante.

A facilitadora do meu estudo de doutrina espírita sempre diz, "temos 24 horas, 8 horas pra trabalhar, 8 horas pra dormir e o que fazemos das outras 8h?" Eu ainda busco a resposta. Penso que temos os momentos de lazer, o tempo de deslocamento pro trabalho, o tempo que temos de reservar para a família e o tempo pra revisar os estudos. Chego a conclusão que temos de nos organizar melhor. No meio desta turbulência, já que o trabalho ocupa maior parte do dia, a rotina é uma ameaça constante. E pesada. E pode causar alienação. Mas não vamos generalizar.

Eu entendo quando as pessoas que trabalham pesado dizem que não estão muito a par do que tá acontecendo, que acham absurdo o quanto as coisas estão tendo os preços reajustados e o salário não dá até o fim do mês. Mas eles não podem discutir ou ir a uma manifestação porque eles tem que chegar em casa e ver os temas dos filhos, limpar a casa, lavar roupa, ou talvez estejam no trabalho, sabe? A pessoa talvez não tenha o tempo que eu tenho pra acessar redes sociais e outras formas de informação, então ela utiliza a televisão ou o rádio que estão ligados enquanto ela tá arrumando a cama ou preparando o almoço. É uma forma prática pra ela ficar sabendo do que tá acontecendo no mundo, sem parar o que tem que fazer todo santo dia. Provavelmente esta pessoa tá cuidando da sua casa e da sua família naquelas 8 horas restantes.

Não desmereço a luta dos intelectuais, mas não posso concordar com alguns que agem como se todos fossem ingênuos que não sabem distinguir as coisas. Aliás, alguns destes levam uma vida meio burguesa no meu ver, tem carro, filho em escola particular, viajam em todas as férias e coisas assim. Não que eu ache errado tudo isto, pelo contrário, desejo que todos os cidadão tivessem o mesmo. Mas ainda não é assim que funciona. As coisas melhoraram um pouco, mas ainda não está a maravilha que alguns apregoam. E justamente por o país ser muito grande os investimentos tem que ser muito grandes.

Eu me considero uma privilegiada porque não precisei parar de estudar para trabalhar e ajudar a sustentar a casa, o que aconteceu com meus pais. Estudei na escola pública e só cursei uma graduação superior em faculdade particular porque era noturno e eu podia trabalhar de dia. E trabalhei durante os cinco anos que cursei a faculdade. Quando precisava de médicos ia ao INAMPS. Meu meio mudou um pouco, já não moro mais na periferia, li alguns livros, conheci pessoas, mas minha raiz continua lá. Sigo convivendo com pessoas que precisam acordar de madrugada para tirar fichinha no posto de saúde, ou ficam horas no saguão do PS para receber atendimento. Assim como também convivo com pessoas que recebem bolsa família e graças a isto tem o que comer. E outras que jogam todo o bolsa família no bingo clandestino.
Meus sobrinhos estudam em escolas públicas. Quando a coisa é mais urgente pagamos uma consulta particular. Mas no geral, consultam no  posto. Pelo o fato de estar perto destas escolas, dos professores e da periferia sei que ainda tem muita coisa pra se fazer.

Concordo que muitas coisas foram feitas e repito, muito mais tem que ser feito. Questionar projetos de lei, atitudes, votações, posições do governo municipal, estadual e federal faz parte da democracia, ou me enganei? Discordar de determinadas coisas não me torna uma alienada direitista. Não quer dizer que quero derrubar a presidente por impeachment ou que nego tudo que de bom melhorou. Tampouco quer dizer que cai na conversa dos "direitosos". Acho sim que os governantes devem ajustar seus discursos as suas atitudes. E lamento se isto parece reacionário. Sou contra qualquer tipo de ditadura, seja de direita, seja de esquerda. E desculpa se pra alguém isto parecer que estou em cima do muro. Não estou. Estou do lado e estou na rua pelo direito de concordar ou discordar sem ser subestimada.


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