quarta-feira, fevereiro 13, 2008

A morte do Jango - 32 anos depois.

É por coisas como esta que eu pesquiso sobre Ditadura Militar em pleno 2008. É impossível dizer que sabe-se do que se tratou, principalmente pra mim que cresci numa época em que já existia abertura política, no entanto, para quem viveu aquela período também é difícil dizer que sabia o que ocorria. É por isso que vira e mexe um esqueleto caí pela porta do armário. A seguir vem um email que recebi do Movimento Nacional de Direitos Humanos sobre as declarações do ex-agente da inteligência do Uruguai Mário Beira Barreiro.

No início deste ano, o ex-agente de inteligência do governo uruguaio Mário Beira Barreiro denunciou a jornalistas brasileiros o suposto envolvimento da ditadura militar brasileira na morte do ex-presidente João Goulart.Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, no dia 27 de janeiro, o ex-agente afirmou que Jango “foi assassinado por envenenamento a pedido do governo brasileiro”."Foi morto como resultado de uma troca proposital de medicamentos. Ele tomava Isordil, Adelfan e Nifodin, que eram para o coração. Havia um médico-legista que se chamava Carlos Milles. Ele era médico e capitão do serviço secreto. O primeiro ingrediente químico veio da CIA e foi testado com cachorros e doentes terminais. O doutor deu os remédios e eles morreram. Ele desidratava os compostos, tinha cloreto de potássio. Não posso dizer a fórmula química porque não sei. Ele colocava dentro de um comprimido", disse Mário Beira.Jango morreu em 6 de dezembro de 1976, na Argentina, oficialmente de ataque cardíaco. Ele governou o Brasil de 1961 até ser deposto por um golpe militar em 31 de março de 1964, quando foi para o exílio.Barreiro também disse que o delegado Sérgio Paranhos Fleury (morto em 1979), à época titular do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo, era a ligação entre a inteligência uruguaia e o Governo brasileiro. A ordem para que Jango fosse morto teria partido de Fleury e a autorização, do então presidente Ernesto Geisel (1908-1996). Para Jorge Luiz Ferreira, historiador da Universidade Federal Fluminense que vai publicar uma biografia sobre Jango neste ano, não é possível descartar a tese de assassinato, mas não há prova cabal de que ele tenha ocorrido e também é preciso considerar o histórico de saúde do presidente.Tão logo soube da revelação do ex-agente uruguaio, a família do ex-presidente João Goulart entrou com ação na Procuradoria Geral da República em que pede a investigação sobre o suposto complô que teria levado ao assassinato por envenenamento do ex-líder petebista.
Para João Vicente, filho de Jango, “documentos revelados posteriormente deram credibilidade ao que Barreiro. Surgiram depois informações sobre o serviço secreto do Itamaraty e a colaboração entre esse serviço e os de outros países que dão veracidade ao que ele disse. Essa colaboração já existia antes da Operação Condor”.Em sua coluna no jornal Folha de São Paulo, Carlos Heitor Cony disse que “em pesquisa para o livro O Beijo da Morte (Objetiva, 2003), Anna Lee e eu entrevistamos durante 14 horas o mesmíssimo Mário, que nos disse a mesmíssima coisa: Jango morreu devido a uma troca de medicamentos proposital, dentro do plano de eliminá-lo antes que tentasse voltar ao Brasil”.De acordo com Cony, “nosso trabalho não podia ser conclusivo. Levantamos as hipóteses surgidas sobre a morte, em apenas nove meses, dos três líderes (JK, Jango e Lacerda) que haviam formado a Frente Ampla, tentando dar um basta à ditadura militar instalada em 1964. Foram mortes anunciadas em 1975, num ofício confidencial do coronel Manuel Contreras, chefe do Dina, serviço secreto do Chile, ao general João Figueiredo, então chefe do SNI”.Cony revela que ele e Ana Lee pediram “a Mário Barreiro uma prova de sua participação na morte de Jango, ele garantiu que tinha dez horas de gravação, as fitas estavam com outro preso, precisávamos da autorização de um tal Papagaio, preso também em segurança máxima. Depois de muita pressão, mandaram que buscássemos as fitas num endereço que não existia. Embora muita coisa do relato de Barreiro seja fantasiosa, seu depoimento deve ser levado em conta pelas autoridades do atual governo”.
Nota do MNDH
Em nota divulgada nesta terça-feira (12 de fevereiro), o MNDH diz que “acompanha com especial interesse, através da mídia nacional, as investigações sobre a morte do ex-presidente João Goulart, Jango”.Para o MNDH, “é de fundamental importância que as autoridades brasileiras, especialmente aquelas ligadas ao Ministério da Justiça, à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, investiguem a fundo as denúncias feitas pelo uruguaio Mário Neira Barreiro, ex-agente do serviço de inteligência do Uruguai, que declarou ter participado da vigilância e do suposto assassinato por envenenamento do ex-presidente João Goulart, em 1976, assassinato que teria ocorrido a pedido do Governo brasileiro da época”.
O MNDH informa, ainda, que “em resposta a situações como essa, iniciará ampla campanha nacional junto à Sociedade Civil organizada para pressionar o Estado Brasileiro, a exemplo de outros países latino-americanos, a ratificar o Tratado de Imprescritibilidade, o que garante que crimes cometidos durante o Regime Militar (1964-1985) possam ser devidamente investigados e - respeitado o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório - que os culpados possam ser severamente punidos”.E finaliza a Nota: “Dessa forma, o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), solidarizando-se com a família do ex-presidente João Goulart, vem a público conclamar que as autoridades brasileiras – que estão à frente do Ministério da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público Federal – investiguem profundamente as denúncias feitas pelo uruguaio Mário Neira Barreiro e, também, conclamar as entidades de Direitos Humanos a unirem esforços para garantir que tal episódio possa viabilizar a construção de vasta campanha nacional para pressionar o Governo brasileiro a ratificar o Tratado de Imprescritibilidade, de forma a garantir que crimes ocorridos durante o Regime Militar possam ser devidamente investigados pelas autoridades competentes, com a devida punição aos culpados”.Assessoria de Imprensa MNDHimprensa@mndh.org.br
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